quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ASAMG - Um erro grosseiro do IBGE

Nesta semana o IBGE divulgou sua nova projeção para a população brasileira até o ano 2050. Na conta anterior, atualizada em 2004, eles estimavam que o país teria 260 milhões de habitantes em 2050. Agora concluem que seremos 215 milhões, ou seja, admitem que erraram em 45 milhões! É um erro escandaloso, principalmente porque era evidente. Neste mesmo blog, no dia 24 de Abril, escrevi um artigo em que dizia que não acreditava na projeção do IBGE e que esperava algo como a população chegando a um pico entre 215 e 225 milhões. Os dados divulgados esta semana estimam um pico de 220 milhões.

Claro que é um prazer ter escrito que a projeção do IBGE estava furada e oito meses depois ver que o próprio instituto revê seus dados. Também me alegro de ter acertado na identificação de onde estava o erro: eles trabalhavam com uma taxa de fertilidade demasiadamente alta, muito acima da realidade. É uma evidência de que o que escrevo aqui não é puro achismo, palpite, mas que pesquiso e me informo antes de escrever. E tenho critério e senso crítico ao buscar informação, a ponto de duvidar do que diz a fonte mais respeitada do país.

Há pouco mais de um mês, quando foram divulgados os dados da última PNAD, era possível perceber que a projeção de 2050 era irrealista. A fertilidade da mulher brasileira já tinha caído para níveis que antes o IBGE estimava só seriam atingidos dentro de vinte anos. Não dava mais para tapar o sol com a peneira. O novo choque de realidade ocorrerá quando fizermos o censo 2010. A PNAD, apesar de ser muito bem feita, não deixa de ser uma estimativa. O mais provável é que a previsão de população esteja exagerada e que o censo encontre dois ou três milhões de pessoas a menos do que se acredita haver no país. Será o momento idôneo para os demógrafos fazerem uma nova projeção e corrigir os erros ainda remanescentes.

Não chega a ser uma surpresa que o IBGE tenha errado por tanto. Talvez o mais surpreendente é que tenha corrigido o erro. Existe uma tradição na esquerda política, principalmente na mais bronca, de exagerar dados demográficos. Exagerando o tamanho da população, automaticamente ficam infladas as necessidades sociais do país. Daí a pedir mais recursos para essas áreas é um passo. Outra razão para a esquerda gostar de ser catastrofista é porque, exagerando os problemas, eles deixam de ter soluções dentro do sistema. Fica mais fácil pregar mudanças radicais, inclusive o socialismo, se os problemas sociais forem candentes. Se tiverem solução dentro do desenvolvimento do capitalismo, o argumento socialista perde força.

Não posso imaginar até que ponto foi mera coincidência, mas para o Governo Lula foi bastante providencial que a projeção exagerada de crescimento demográfico coincidisse com o início do primeiro mandato. Com esses dados oficiais era muito mais fácil fazer análises, relatórios e planos de governo justificando as teses da esquerda. O primeiro que me ocorre é o debate sobre o déficit da previdência social. Os números anteriores afirmavam que haveria menos população idosa e muito mais jovens. Para a Previdência, isso significava que durante muito tempo seria possível manter o déficit do sistema sob controle. Bastava aumentar a formalidade do mercado de trabalho. Com a nova projeção demográfica todas as contas têm que ser refeitas, porque a população de idosos vai crescer significativamente e haverá menos jovens para manter esses idosos. Vai ficar muito mais difícil continuar se opondo a reformas drásticas na Previdência. Ainda mais que nos próximos dois anos é de se esperar uma criação muito menor de novos postos formais de trabalho, o que pode ter como conseqüência um novo aumento no déficit do sistema previdenciário.

Os novos dados do IBGE deveriam ter causado um grande rebuliço entre intelectuais e formadores de opinião. Era de se esperar um grande debate, com partidos políticos se posicionando a respeito. Os novos números mudam completamente a foto do Brasil no meio do século. Se nós tivéssemos uma estratégia de país, a mesma teria que ser completamente revista. É espantoso que não tenha havido esse grande debate. É espantoso que não tenha havido debate. Parece que ninguém se importa. É surpreendente. Pior que isso, é incompreensível!