O
escândalo do Petrolão continua a render manchetes diárias, com revelações cada
vez mais surpreendentes. As estimativas são de que os malfeitores tenham
possivelmente desviado 10,6 bilhões de reais da maior empresa do país. É quase
60 vezes o montante do mensalão. Executivos das maiores empreiteiras estão em
cana, crescem as delações premiadas, acumulam-se as evidências de corrupção
ligadas ao governo, e o que acontece? Nada.
É
inacreditável, mas é assim. Ninguém se sente responsável pelo que aconteceu nos
últimos 12 anos. Dilma Roussef foi presidente do Conselho de Administração da
empresa, mas é como se não fosse com ela. Graça Foster continua à frente da
direção da estatal, assim como o resto da diretoria executiva. A ninguém no
governo lhe ocorre dizer que este escândalo é lamentável e pedir desculpas aos
brasileiros. Admitir erro então, nem pensar. E o mais surpreendente de tudo, os
eleitores de Dilma e do PT buscam todo tipo de argumento para justificar o injustificável.
Só resta perguntar quanto é preciso que um partido roube para que os seus
eleitores se sintam indignados? Já sabemos que 10,6 bilhões não causam espécie
nos eleitores do PT. Onde está o limite, 20 bilhões, 100, ou simplesmente não
há limite, o PT pode fazer o que quiser que os eleitores nunca vão puní-lo?
Essa indiferença ao crime oficial mostra o quanto a democracia brasileira ainda
é imatura.
Mas por
muito dinheiro que possa ter sido malversado, a corrupção não é, nem de longe,
o maior problema da Petrobrás. Hoje o jornal Estado de São Paulo publicou uma
análise feita pela consultoria Economática. O valor de mercado da Petrobrás no
dia 21 de maio de 2008 era, em valores atualizados pela inflação, de 737
bilhões de reais. Na sexta-feira eram 126 bilhões. A incompetência
administrativa, a utilização de bem público para fins políticos (conter
artificialmente a inflação), os escândalos de corrupção fizeram a empresa
perder 610 bilhões do seu valor. De novo, é quase 60 vezes mais que a corrupção
apurada até o momento. Isso quer dizer que não ter privatizado a Petrobras em
2008 resultou num prejuízo de pelo menos 275 bilhões ao povo brasileiro
(considerando que o governo tenha 45 % das ações da empresa). Na verdade é
muito mais, pois teríamos que incluir no cálculo o ágio que poderia ter sido
pago em 2008 em comparação com o que seria pago agora. Quem diz que privatizar
é roubar o patrimônio do povo deveria pensar no tamanho dessa perda.
Mas a
coisa não pára por aí. Nos últimos 12 anos o país cresceu consistentemente
menos que países comparáveis, inclusive nos dois mandatos do presidente Lula. A
principal razão é porque deixou de fazer as reformas que são tão necessárias
para desatascar a economia brasileira. Não se fez reforma fiscal, nem da
previdencia, não houve privatizações, o governo não deu a oportunidade para a iniciativa privada
participar decisivamente nas obras de infra-estrutura que são imprescindíveis
ao país. Lula desperdiçou a melhor oportunidade que o país teve em décadas para
fazer reformas - elas são sempre mais fáceis de implementar em momentos de
bonança. É a maior crítica que se pode fazer ao seu governo. O governo Dilma
foi um desastre, pois abandonou a disciplina fiscal e monetária do antecessor e
abraçou o besteirol do “desenvolvimentismo”.
Gostaria
muito de me equivocar, mas duvido que essas bobagens sejam corrigidas no
segundo mandato. Ela é esquerda Carolina até a medula, no melhor dos casos fará
o mínimo necessário para a inflação não disparar. Crescimento que é bom,
dificilmente haverá. Talvez ela consiga repetir 1,6 % em média por ano, como no
primeiro mandato. Se for assim, nesses 16 anos de petismo o país terá crescido
pelo menos 20% menos do que países comparáveis. 20% significam entre 500 e 600
bilhões de reais a menos de riqueza criada por ano, cada ano. Essa sim é a
maior perda da era de governo petista. Infelizmente sei que de nada adianta
esgrimir esses argumentos. Se os eleitores do PT não querem ver o que aconteceu
e está na cara (petrolão e perda do valor de mercado da Petrobrás), ninguém
verá o que não aconteceu. Mas que o país está ficando para trás é fato. E que o
tempo perdido não volta atrás, também. Fica cada vez mais difícil para a minha
geração poder esperar chegar a ver o país desenvolvido, rico e justo durante o
seu tempo de vida. A culpa é exclusivamente nossa e das opções que fizemos e fazemos.