domingo, 14 de dezembro de 2014

ASAMG - Tres Grandes Perdas

O escândalo do Petrolão continua a render manchetes diárias, com revelações cada vez mais surpreendentes. As estimativas são de que os malfeitores tenham possivelmente desviado 10,6 bilhões de reais da maior empresa do país. É quase 60 vezes o montante do mensalão. Executivos das maiores empreiteiras estão em cana, crescem as delações premiadas, acumulam-se as evidências de corrupção ligadas ao governo, e o que acontece? Nada.

É inacreditável, mas é assim. Ninguém se sente responsável pelo que aconteceu nos últimos 12 anos. Dilma Roussef foi presidente do Conselho de Administração da empresa, mas é como se não fosse com ela. Graça Foster continua à frente da direção da estatal, assim como o resto da diretoria executiva. A ninguém no governo lhe ocorre dizer que este escândalo é lamentável e pedir desculpas aos brasileiros. Admitir erro então, nem pensar. E o mais surpreendente de tudo, os eleitores de Dilma e do PT buscam todo tipo de argumento para justificar o injustificável. Só resta perguntar quanto é preciso que um partido roube para que os seus eleitores se sintam indignados? Já sabemos que 10,6 bilhões não causam espécie nos eleitores do PT. Onde está o limite, 20 bilhões, 100, ou simplesmente não há limite, o PT pode fazer o que quiser que os eleitores nunca vão puní-lo? Essa indiferença ao crime oficial mostra o quanto a democracia brasileira ainda é imatura.

Mas por muito dinheiro que possa ter sido malversado, a corrupção não é, nem de longe, o maior problema da Petrobrás. Hoje o jornal Estado de São Paulo publicou uma análise feita pela consultoria Economática. O valor de mercado da Petrobrás no dia 21 de maio de 2008 era, em valores atualizados pela inflação, de 737 bilhões de reais. Na sexta-feira eram 126 bilhões. A incompetência administrativa, a utilização de bem público para fins políticos (conter artificialmente a inflação), os escândalos de corrupção fizeram a empresa perder 610 bilhões do seu valor. De novo, é quase 60 vezes mais que a corrupção apurada até o momento. Isso quer dizer que não ter privatizado a Petrobras em 2008 resultou num prejuízo de pelo menos 275 bilhões ao povo brasileiro (considerando que o governo tenha 45 % das ações da empresa). Na verdade é muito mais, pois teríamos que incluir no cálculo o ágio que poderia ter sido pago em 2008 em comparação com o que seria pago agora. Quem diz que privatizar é roubar o patrimônio do povo deveria pensar no tamanho dessa perda.

Mas a coisa não pára por aí. Nos últimos 12 anos o país cresceu consistentemente menos que países comparáveis, inclusive nos dois mandatos do presidente Lula. A principal razão é porque deixou de fazer as reformas que são tão necessárias para desatascar a economia brasileira. Não se fez reforma fiscal, nem da previdencia, não houve privatizações, o governo não deu a  oportunidade para a iniciativa privada participar decisivamente nas obras de infra-estrutura que são imprescindíveis ao país. Lula desperdiçou a melhor oportunidade que o país teve em décadas para fazer reformas - elas são sempre mais fáceis de implementar em momentos de bonança. É a maior crítica que se pode fazer ao seu governo. O governo Dilma foi um desastre, pois abandonou a disciplina fiscal e monetária do antecessor e abraçou o besteirol do “desenvolvimentismo”.


Gostaria muito de me equivocar, mas duvido que essas bobagens sejam corrigidas no segundo mandato. Ela é esquerda Carolina até a medula, no melhor dos casos fará o mínimo necessário para a inflação não disparar. Crescimento que é bom, dificilmente haverá. Talvez ela consiga repetir 1,6 % em média por ano, como no primeiro mandato. Se for assim, nesses 16 anos de petismo o país terá crescido pelo menos 20% menos do que países comparáveis. 20% significam entre 500 e 600 bilhões de reais a menos de riqueza criada por ano, cada ano. Essa sim é a maior perda da era de governo petista. Infelizmente sei que de nada adianta esgrimir esses argumentos. Se os eleitores do PT não querem ver o que aconteceu e está na cara (petrolão e perda do valor de mercado da Petrobrás), ninguém verá o que não aconteceu. Mas que o país está ficando para trás é fato. E que o tempo perdido não volta atrás, também. Fica cada vez mais difícil para a minha geração poder esperar chegar a ver o país desenvolvido, rico e justo durante o seu tempo de vida. A culpa é exclusivamente nossa e das opções que fizemos e fazemos.

sábado, 25 de outubro de 2014

ASAMG - Como Um Segundo Casamento


Fazia mais de um ano que não escrevia neste blog, mas como amanhã há o segundo turno das eleições presidenciais, não quero deixar passar a oportunidade. Ao menos servirá para que meus amigos saibam o que penso, pois com alguns deles deixei de discutir sobre política. Não vale a pena azedar uma amizade por causa das baixarias que acontecem no Brasil.

Há quatro anos Dilma Roussef era uma incógnita. Ainda que votar nela fosse como assinar um cheque em branco, a ex-ministra ao menos merecia o benefício da dúvida. O fato de ter sido escolhida autoritariamente pelo presidente Lula, imposta ao seu partido e aliados, uma escolha que não tinha nada de natural e que era a que mais convinha ao próprio Lula - o famoso poste político - nada disso implicava necessariamente que fosse ser uma má presidente.

Em 2014 nós já sabemos o que foi o seu governo. Ela foi eleita prometendo crescimento de 5% ao ano, trem bala, obras do PAC e um longo etc. O que vimos foi amadorismo ao tentar abaixar os juros porque sim, barbeiragem no setor elétrico, cuja fatura está sendo paga pelo tesouro, obras do PAC atrasadas, trem bala esquecido, a Petrobrás perdendo mais de cem bilhões do seu valor de mercado, os primeiros capítulos de mais um mega-escândalo de corrupção que pode superar em muito o mensalão, déficit record em conta corrente nos últimos 12 meses (83,5 bi de dólares), o superávit primário foi para o espaço e só existe no papel graças a malabarismos contábeis, inflação permanentemente roçando o teto da meta e controlada artificialmente e um crescimento nanico: a média durante o seu mandato mal vai chegar a 1,6% ao ano. Eu pensava que era o pior resultado em 20 anos, mas há dez dias The Economist nos contou que em 125 anos de história republicana só três presidentes tivereram desempenho pior. A piada era boa, mas não dá mais nem para dizer que o governo está perdendo de 7 a 1 em 2014, porque se a inflação sim está perto de 7 %, o crescimento vai ficar bem abaixo de 1,0%, por volta de 0,5% (um décimo do que a candidata de 2010 prometeu).

Apesar desse panorama desolador, as pesquisas indicam que amanhã ela deve ser reeleita. A menos que aconteça algo semelhante ao primeiro turno, quando Aécio Neves obteve 10% mais do que lhe atribuíam os principais institutos, não dá para contar com nenhuma surpresa. No começo do ano passado muita gente apostava que ela ganharia no primeiro turno. A realidade é que, apesar das evidentes vantagens de estar no governo (oposição não ganha eleição, é o governo quem perde), ela e seu partido tiveram que remar muito para chegar até aqui e a vantagem que pode obter amanhã será bastante estreita. Não há dúvida de que o Brasil chega a 26 de outubro bastante dividido.

Este cenário me lembra muito a Espanha de 1993. Nessa época eu já morava em Portugal e vinha muito a Barcelona. O país tinha entrado numa grave recessão, depois da euforia de ter organizado os jogos olímpicos de Barcelona e a Expo de Sevilha em 92. O modelo de governo de Felipe González estava esgotado, incapaz de gerar novas idéias e cercado por escândalos de corrupção. Havia muita insatisfação, um país dividido, direita e esquerda se enfrentando violentamente. Mesmo assim, Felipe González ainda ganhou aquela última eleição. Mas já era tarde demais para ele, pois não dava mais para viver dos louros das muitas coisas boas que ele fez para o país na década anterior. Em 93 só a grande vantagem de voto nas zonas mais pobres da Espanha, como Andaluzia e Estremadura, permitiram a sua vitória.

Mais de uma vez escrevi aqui que vejo o Brasil repetindo a trajetória da Espanha, 20 anos mais tarde. Há muita semelhança entre a Espanha de 1993 e o Brasil de 2014. A má notícia é que o Partido Socialista ficou no governo durante 16 anos e, como disse, ainda ganhou uma última eleição. Mais que isso, apesar de tudo que aconteceu desde então, Andaluzia e Estremadura continuam votando firmemente nos socialistas. Se o paralelismo se mantiver, Dilma ganha amanhã e terão sido 16 anos de governo do PT. E por muito tempo ainda o Norte e o Nordeste continuarão votando no partido de Lula. A boa notícia é que quando os eleitores abandonam certas idéias, não há volta atrás. Quem votar Aécio amanhã dificilmente votará no PT em 2018, mesmo que o candidato seja o próprio Lula. Se a alternância no poder não ocorrer agora, ela terá sido apenas adiada por 4 anos.

O triste é que o Brasil vai perder mais quatro anos. Não há nenhuma razão para pensar que uma presidente que se mostrou incompetente no primeiro mandato passe a ser uma grande estadista no segundo. Ela é adepta do besteirol desenvolvimentista, acredita na intervenção do estado na economia, maltrata a iniciativa privada. É em tudo uma autêntica representante da esquerda Carolina, a que não viu o tempo passar na janela. Não parece entender como funciona a economia no século XXI, não vê que a receita para o país se tornar mais rico e mais desenvolvido passa por mais trabalho, produtividade, investimento, lucro capitalista, criatividade, novas tecnologias, mercado global, economia do conhecimento e um enorme salto qualitativo em educação.

A reeleição de Dilma Roussef seria como um segundo casamento: o triunfo da esperança sobre a experiência. Que pena!