Fazia mais
de um ano que não escrevia neste blog, mas como amanhã há o segundo turno das
eleições presidenciais, não quero deixar passar a oportunidade. Ao menos
servirá para que meus amigos saibam o que penso, pois com alguns deles deixei
de discutir sobre política. Não vale a pena azedar uma amizade por causa das
baixarias que acontecem no Brasil.
Há quatro
anos Dilma Roussef era uma incógnita. Ainda que votar nela fosse como assinar
um cheque em branco, a ex-ministra ao menos merecia o benefício da dúvida. O
fato de ter sido escolhida autoritariamente pelo presidente Lula, imposta ao
seu partido e aliados, uma escolha que não tinha nada de natural e que era a
que mais convinha ao próprio Lula - o famoso poste político - nada disso
implicava necessariamente que fosse ser uma má presidente.
Em 2014
nós já sabemos o que foi o seu governo. Ela foi eleita prometendo crescimento
de 5% ao ano, trem bala, obras do PAC e um longo etc. O que vimos foi
amadorismo ao tentar abaixar os juros porque sim, barbeiragem no setor
elétrico, cuja fatura está sendo paga pelo tesouro, obras do PAC atrasadas,
trem bala esquecido, a Petrobrás perdendo mais de cem bilhões do seu valor de
mercado, os primeiros capítulos de mais um mega-escândalo de corrupção que pode
superar em muito o mensalão, déficit record em conta corrente nos últimos 12
meses (83,5 bi de dólares), o superávit primário foi para o espaço e só existe
no papel graças a malabarismos contábeis, inflação permanentemente roçando o teto
da meta e controlada artificialmente e um crescimento nanico: a média durante o
seu mandato mal vai chegar a 1,6% ao ano. Eu pensava que era o pior resultado
em 20 anos, mas há dez dias The Economist nos contou que em 125 anos de
história republicana só três presidentes tivereram desempenho pior. A piada era
boa, mas não dá mais nem para dizer que o governo está perdendo de 7 a 1 em
2014, porque se a inflação sim está perto de 7 %, o crescimento vai ficar bem abaixo
de 1,0%, por volta de 0,5% (um décimo do que a candidata de 2010 prometeu).
Apesar
desse panorama desolador, as pesquisas indicam que amanhã ela deve ser
reeleita. A menos que aconteça algo semelhante ao primeiro turno, quando Aécio
Neves obteve 10% mais do que lhe atribuíam os principais institutos, não dá
para contar com nenhuma surpresa. No começo do ano passado muita gente apostava
que ela ganharia no primeiro turno. A realidade é que, apesar das evidentes
vantagens de estar no governo (oposição não ganha eleição, é o governo quem
perde), ela e seu partido tiveram que remar muito para chegar até aqui e a
vantagem que pode obter amanhã será bastante estreita. Não há dúvida de que o
Brasil chega a 26 de outubro bastante dividido.
Este
cenário me lembra muito a Espanha de 1993. Nessa época eu já morava em Portugal
e vinha muito a Barcelona. O país tinha entrado numa grave recessão, depois da
euforia de ter organizado os jogos olímpicos de Barcelona e a Expo de Sevilha
em 92. O modelo de governo de Felipe González estava esgotado, incapaz de gerar
novas idéias e cercado por escândalos de corrupção. Havia muita insatisfação,
um país dividido, direita e esquerda se enfrentando violentamente. Mesmo assim,
Felipe González ainda ganhou aquela última eleição. Mas já era tarde demais
para ele, pois não dava mais para viver dos louros das muitas coisas boas que
ele fez para o país na década anterior. Em 93 só a grande vantagem de voto nas
zonas mais pobres da Espanha, como Andaluzia e Estremadura, permitiram a sua
vitória.
Mais de
uma vez escrevi aqui que vejo o Brasil repetindo a trajetória da Espanha, 20
anos mais tarde. Há muita semelhança entre a Espanha de 1993 e o Brasil de
2014. A má notícia é que o Partido Socialista ficou no governo durante 16 anos
e, como disse, ainda ganhou uma última eleição. Mais que isso, apesar de tudo
que aconteceu desde então, Andaluzia e Estremadura continuam votando firmemente
nos socialistas. Se o paralelismo se mantiver, Dilma ganha amanhã e terão sido
16 anos de governo do PT. E por muito tempo ainda o Norte e o Nordeste
continuarão votando no partido de Lula. A boa notícia é que quando os eleitores
abandonam certas idéias, não há volta atrás. Quem votar Aécio amanhã
dificilmente votará no PT em 2018, mesmo que o candidato seja o próprio Lula.
Se a alternância no poder não ocorrer agora, ela terá sido apenas adiada por 4
anos.
O triste
é que o Brasil vai perder mais quatro anos. Não há nenhuma razão para pensar
que uma presidente que se mostrou incompetente no primeiro mandato passe a ser
uma grande estadista no segundo. Ela é adepta do besteirol desenvolvimentista,
acredita na intervenção do estado na economia, maltrata a iniciativa privada. É
em tudo uma autêntica representante da esquerda Carolina, a que não viu o tempo
passar na janela. Não parece entender como funciona a economia no século XXI,
não vê que a receita para o país se tornar mais rico e mais desenvolvido passa
por mais trabalho, produtividade, investimento, lucro capitalista, criatividade,
novas tecnologias, mercado global, economia do conhecimento e um enorme salto
qualitativo em educação.