sábado, 25 de outubro de 2014

ASAMG - Como Um Segundo Casamento


Fazia mais de um ano que não escrevia neste blog, mas como amanhã há o segundo turno das eleições presidenciais, não quero deixar passar a oportunidade. Ao menos servirá para que meus amigos saibam o que penso, pois com alguns deles deixei de discutir sobre política. Não vale a pena azedar uma amizade por causa das baixarias que acontecem no Brasil.

Há quatro anos Dilma Roussef era uma incógnita. Ainda que votar nela fosse como assinar um cheque em branco, a ex-ministra ao menos merecia o benefício da dúvida. O fato de ter sido escolhida autoritariamente pelo presidente Lula, imposta ao seu partido e aliados, uma escolha que não tinha nada de natural e que era a que mais convinha ao próprio Lula - o famoso poste político - nada disso implicava necessariamente que fosse ser uma má presidente.

Em 2014 nós já sabemos o que foi o seu governo. Ela foi eleita prometendo crescimento de 5% ao ano, trem bala, obras do PAC e um longo etc. O que vimos foi amadorismo ao tentar abaixar os juros porque sim, barbeiragem no setor elétrico, cuja fatura está sendo paga pelo tesouro, obras do PAC atrasadas, trem bala esquecido, a Petrobrás perdendo mais de cem bilhões do seu valor de mercado, os primeiros capítulos de mais um mega-escândalo de corrupção que pode superar em muito o mensalão, déficit record em conta corrente nos últimos 12 meses (83,5 bi de dólares), o superávit primário foi para o espaço e só existe no papel graças a malabarismos contábeis, inflação permanentemente roçando o teto da meta e controlada artificialmente e um crescimento nanico: a média durante o seu mandato mal vai chegar a 1,6% ao ano. Eu pensava que era o pior resultado em 20 anos, mas há dez dias The Economist nos contou que em 125 anos de história republicana só três presidentes tivereram desempenho pior. A piada era boa, mas não dá mais nem para dizer que o governo está perdendo de 7 a 1 em 2014, porque se a inflação sim está perto de 7 %, o crescimento vai ficar bem abaixo de 1,0%, por volta de 0,5% (um décimo do que a candidata de 2010 prometeu).

Apesar desse panorama desolador, as pesquisas indicam que amanhã ela deve ser reeleita. A menos que aconteça algo semelhante ao primeiro turno, quando Aécio Neves obteve 10% mais do que lhe atribuíam os principais institutos, não dá para contar com nenhuma surpresa. No começo do ano passado muita gente apostava que ela ganharia no primeiro turno. A realidade é que, apesar das evidentes vantagens de estar no governo (oposição não ganha eleição, é o governo quem perde), ela e seu partido tiveram que remar muito para chegar até aqui e a vantagem que pode obter amanhã será bastante estreita. Não há dúvida de que o Brasil chega a 26 de outubro bastante dividido.

Este cenário me lembra muito a Espanha de 1993. Nessa época eu já morava em Portugal e vinha muito a Barcelona. O país tinha entrado numa grave recessão, depois da euforia de ter organizado os jogos olímpicos de Barcelona e a Expo de Sevilha em 92. O modelo de governo de Felipe González estava esgotado, incapaz de gerar novas idéias e cercado por escândalos de corrupção. Havia muita insatisfação, um país dividido, direita e esquerda se enfrentando violentamente. Mesmo assim, Felipe González ainda ganhou aquela última eleição. Mas já era tarde demais para ele, pois não dava mais para viver dos louros das muitas coisas boas que ele fez para o país na década anterior. Em 93 só a grande vantagem de voto nas zonas mais pobres da Espanha, como Andaluzia e Estremadura, permitiram a sua vitória.

Mais de uma vez escrevi aqui que vejo o Brasil repetindo a trajetória da Espanha, 20 anos mais tarde. Há muita semelhança entre a Espanha de 1993 e o Brasil de 2014. A má notícia é que o Partido Socialista ficou no governo durante 16 anos e, como disse, ainda ganhou uma última eleição. Mais que isso, apesar de tudo que aconteceu desde então, Andaluzia e Estremadura continuam votando firmemente nos socialistas. Se o paralelismo se mantiver, Dilma ganha amanhã e terão sido 16 anos de governo do PT. E por muito tempo ainda o Norte e o Nordeste continuarão votando no partido de Lula. A boa notícia é que quando os eleitores abandonam certas idéias, não há volta atrás. Quem votar Aécio amanhã dificilmente votará no PT em 2018, mesmo que o candidato seja o próprio Lula. Se a alternância no poder não ocorrer agora, ela terá sido apenas adiada por 4 anos.

O triste é que o Brasil vai perder mais quatro anos. Não há nenhuma razão para pensar que uma presidente que se mostrou incompetente no primeiro mandato passe a ser uma grande estadista no segundo. Ela é adepta do besteirol desenvolvimentista, acredita na intervenção do estado na economia, maltrata a iniciativa privada. É em tudo uma autêntica representante da esquerda Carolina, a que não viu o tempo passar na janela. Não parece entender como funciona a economia no século XXI, não vê que a receita para o país se tornar mais rico e mais desenvolvido passa por mais trabalho, produtividade, investimento, lucro capitalista, criatividade, novas tecnologias, mercado global, economia do conhecimento e um enorme salto qualitativo em educação.

A reeleição de Dilma Roussef seria como um segundo casamento: o triunfo da esperança sobre a experiência. Que pena!