segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ASAMG - Notícias do Brasil

Estou há três semanas em São Paulo, início do meu ano sabático. Meu principal objetivo durante os próximos meses é escrever este blog, “The Amazing Week” e fazer a revisão final do romance que escrevi em 2011 – “Adamalag S.A.” A primeira parte do livro se passa em 1986, a segunda em 1992. Nos últimos dias estive fazendo pesquisa sobre os acontecimentos da época e fiquei chocado ao constatar como os dois mandatos da presidente Dilma Roussef repetem o pior dos útimos trinta anos: o Plano Cruzado e o impeachment de Collor por corrupção.

O Plano Cruzado, que fará trinta anos em fevereido de 2016, foi provavelmente a maior picaretagem econômica da nossa história. Propôs-se a zerar a inflação galopante com congelamento de preços e fomentar o crescimento com gasto público. Soa familiar? Se há algum princípio infalível em economia, de validade universal e indiscutível, os dois que conheço são: é impossível controlar a inflação administrando preços, não funciona nunca, e a médio e longo prazo produz desastres; e não se cria ou estimula crescimento com gasto e déficit público. Se isso fosse possível, não haveria país pobre no mundo, pois não há nada mais fácil que gastar dinheiro público. Qualquer idiota sabe fazer. No máximo, em situações pontuais e muito limitadas no tempo, pode-se utilizar o déficit público para combater crises econômicas, mas quanto mais essa medicina for usada, piores os efeitos colaterais de médio e longo prazo, que podem destruir todo o benefício de curto prazo.

A lorota da nova matriz econômica, que tem as mesmas digitais que o Plano Cruzado, pois inspirada pela mesma “escola” “desenvolvimentista” (ambos entre aspas porque não dá para levar a sério nem uma coisa nem outra), baseou-se em administração de alguns preços fundamentais da economia, como juros e câmbio, além de tarifas públicas e preço dos combustíveis. Também abandonou a noção de controle das contas públicas, transformando superávit primário, conseguido a duras penas, em déficit. Por fim, tentaram substituir o malvado mercado, que na realidade é formado por todos nós, por decisões de burocratas que sabem o que é melhor para o país e o povo. E reforma neca, Dulcineca. Só podia dar no que deu, uma crise econômica com vocação para ser a maior da história republicana e talvez uma década mais perdida que os anos trinta ou oitenta do século passado. Parece que Dilma vai conseguir a triste proeza de entregar ao sucessor o país muito pior do que recebeu do antecessor e talvez até rebatar a Sarney o título de pior presidente do país – fora os ditadores é claro, pois ditadura é sempre pior que mesmo o pior dos democratas, inclusive democratas meia-boca.

Quanto ao processo de impeachment, o que há realmente por trás é o mega escândalo de corrupção investigado pelo juiz Moro e sua equipe. Em comparação os casos da era Collor parecem brincadeira de criança. O último número que vi estima que mais de vinte bilhões de reais foram desviados da Petrobras. Há mais de duas dezenas de acordos de delação premiada, que são antes de mais nada confissões feitas pelos próprios meliantes, e centenas de milhões de reais de dinheiro “devolvido” ao Estado. Alguém ainda duvida que a roubalheira foi grossa? Não há como não pedir contas àqueles responsáveis por gerir a coisa pública.

Nas minhas pesquisas reli todos os números da revista VEJA de 92, desde a denúncia de Pedro Collor. É incrível como a história se repete, não só pelo papel investigativo e de denúncia assumido pela revista, como também pelas reações de aliados e inimigos. Quem foi o governador que disse: “Condeno a atitude de VEJA por dar respaldo a esse episódio. Essa revista apunhalou o Brasil pelas costas” Um petista aliado de Dilma? Não, Brizola, governador do Rio e aliado de Collor, em junho de 92.

Não compartilho a opinião de que o impeachment de Dilma seja um golpe de Estado. Tal como escreveu um comentarista há dias, golpe é rasgar a constituição e o impeachment é um procedimento previsto pela constituição. Um dos juristas que assinou o pedido é Hélio Bicudo, notório democrata, esquerdista e ex-filiado do PT. Não há nenhum golpe no processo que está em curso. No entanto, assim como em 92, não me sinto nada confortável com esta saída para a crise política e econômica que estamos vivendo. O fato é que no Brasil o sistema de governo é presidencialista e quando os eleitores escolhem um presidente, para bem e para mal seu mandato é de quatro anos. Não dá para mudar de idéia no meio do caminho. Tanto em 92 como agora há um pouco de revanchismo no ar, dos que não se conformam com a derrota do seu candidato. Pior ainda, se Dilma sofrer impeachment vai dar pé a que a esquerda crie a lorota na qual ela foi vítima de uma aliança conservadora e passará ao seu sucessor o ônus de arrumar a casa que ela tão desastradamente desarrumou.


Se pudesse fazer um pedido para o Brasil em 2016, seria de que a presidente reconhecesse sua incapacidade e incompetência política, admitisse que seu governo foi péssimo e renunciasse. Seria talvez a única saída honrosa para todos. Infelizmente é pouco provável que ela tenha esse surto de lucidez e humildade. Dilma é para o PT o que Sarney foi para o PMDB: o fim de qualquer possibilidade de voltar a eleger um presidente por pelo menos uma geração. Infelizmente seu governo é também para o Brasil o mesmo que o governo Sarney: um desastre!