Estou há
três semanas em São Paulo, início do meu ano sabático. Meu principal objetivo durante
os próximos meses é escrever este blog, “The Amazing Week” e fazer a revisão
final do romance que escrevi em 2011 – “Adamalag S.A.” A primeira parte do
livro se passa em 1986, a segunda em 1992. Nos últimos dias estive fazendo
pesquisa sobre os acontecimentos da época e fiquei chocado ao constatar como os
dois mandatos da presidente Dilma Roussef repetem o pior dos útimos trinta anos:
o Plano Cruzado e o impeachment de Collor por corrupção.
O Plano
Cruzado, que fará trinta anos em fevereido de 2016, foi provavelmente a maior
picaretagem econômica da nossa história. Propôs-se a zerar a inflação galopante
com congelamento de preços e fomentar o crescimento com gasto público. Soa
familiar? Se há algum princípio infalível em economia, de validade universal e
indiscutível, os dois que conheço são: é impossível controlar a inflação
administrando preços, não funciona nunca, e a médio e longo prazo produz
desastres; e não se cria ou estimula crescimento com gasto e déficit público.
Se isso fosse possível, não haveria país pobre no mundo, pois não há nada mais
fácil que gastar dinheiro público. Qualquer idiota sabe fazer. No máximo, em
situações pontuais e muito limitadas no tempo, pode-se utilizar o déficit
público para combater crises econômicas, mas quanto mais essa medicina for
usada, piores os efeitos colaterais de médio e longo prazo, que podem destruir
todo o benefício de curto prazo.
A lorota
da nova matriz econômica, que tem as mesmas digitais que o Plano Cruzado, pois
inspirada pela mesma “escola” “desenvolvimentista” (ambos entre aspas porque
não dá para levar a sério nem uma coisa nem outra), baseou-se em administração
de alguns preços fundamentais da economia, como juros e câmbio, além de tarifas
públicas e preço dos combustíveis. Também abandonou a noção de controle das
contas públicas, transformando superávit primário, conseguido a duras penas, em
déficit. Por fim, tentaram substituir o malvado mercado, que na realidade é
formado por todos nós, por decisões de burocratas que sabem o que é melhor para
o país e o povo. E reforma neca, Dulcineca. Só podia dar no que deu, uma crise
econômica com vocação para ser a maior da história republicana e talvez uma
década mais perdida que os anos trinta ou oitenta do século passado. Parece que
Dilma vai conseguir a triste proeza de entregar ao sucessor o país muito pior
do que recebeu do antecessor e talvez até rebatar a Sarney o título de pior
presidente do país – fora os ditadores é claro, pois ditadura é sempre pior que
mesmo o pior dos democratas, inclusive democratas meia-boca.
Quanto ao
processo de impeachment, o que há realmente por trás é o mega escândalo de
corrupção investigado pelo juiz Moro e sua equipe. Em comparação os casos da
era Collor parecem brincadeira de criança. O último número que vi estima que
mais de vinte bilhões de reais foram desviados da Petrobras. Há mais de duas
dezenas de acordos de delação premiada, que são antes de mais nada confissões
feitas pelos próprios meliantes, e centenas de milhões de reais de dinheiro
“devolvido” ao Estado. Alguém ainda duvida que a roubalheira foi grossa? Não há
como não pedir contas àqueles responsáveis por gerir a coisa pública.
Nas
minhas pesquisas reli todos os números da revista VEJA de 92, desde a denúncia
de Pedro Collor. É incrível como a história se repete, não só pelo papel
investigativo e de denúncia assumido pela revista, como também pelas reações de
aliados e inimigos. Quem foi o governador que disse: “Condeno a atitude de VEJA
por dar respaldo a esse episódio. Essa revista apunhalou o Brasil pelas costas”
Um petista aliado de Dilma? Não, Brizola, governador do Rio e aliado de Collor,
em junho de 92.
Não
compartilho a opinião de que o impeachment de Dilma seja um golpe de Estado.
Tal como escreveu um comentarista há dias, golpe é rasgar a constituição e o
impeachment é um procedimento previsto pela constituição. Um dos juristas que
assinou o pedido é Hélio Bicudo, notório democrata, esquerdista e ex-filiado do
PT. Não há nenhum golpe no processo que está em curso. No entanto, assim como
em 92, não me sinto nada confortável com esta saída para a crise política e
econômica que estamos vivendo. O fato é que no Brasil o sistema de governo é
presidencialista e quando os eleitores escolhem um presidente, para bem e para
mal seu mandato é de quatro anos. Não dá para mudar de idéia no meio do caminho.
Tanto em 92 como agora há um pouco de revanchismo no ar, dos que não se
conformam com a derrota do seu candidato. Pior ainda, se Dilma sofrer
impeachment vai dar pé a que a esquerda crie a lorota na qual ela foi vítima de
uma aliança conservadora e passará ao seu sucessor o ônus de arrumar a casa que
ela tão desastradamente desarrumou.
Se
pudesse fazer um pedido para o Brasil em 2016, seria de que a presidente
reconhecesse sua incapacidade e incompetência política, admitisse que seu
governo foi péssimo e renunciasse. Seria talvez a única saída honrosa para
todos. Infelizmente é pouco provável que ela tenha esse surto de lucidez e
humildade. Dilma é para o PT o que Sarney foi para o PMDB: o fim de qualquer
possibilidade de voltar a eleger um presidente por pelo menos uma geração.
Infelizmente seu governo é também para o Brasil o mesmo que o governo Sarney:
um desastre!