Hoje o
malfadado Plano Cruzado faria trinta anos. Seria ótimo se pudéssemos aproveitar a
data para comemorar termo-nos livrado para sempre do besteirol, dos
preconceitos e das idéias caducas que o inspiraram. Infelizmente não é assim. O
Brasil está atravessando uma crise econômica que ainda não bateu no fundo do
poço e que foi criada por economistas heterodoxos da mesma “escola” que os
pais do Cruzado, os “desenvolvimentistas”. A versão recente e mais light do
Cruzado se chama “nova matriz
econômica”, e inclui administração dos preços básicos da economia, estímulo ao
crescimento através do gasto público, intervenção do Estado e outras bobagens.
Como não podia deixar de ser, deu errado.
É claro
que os autores do desastre, a começar pela presidente Dilma Rousseff, nunca vão
admitir os seus erros. Quando o Brasil foi bem durante os seis primeiros anos
de governo do presidente Lula, eles diziam que era graças à sua capacidade
espantosa como governante e ao projeto de governo do seu partido – e não ao fato
de os anos entre 2003 e 2008 terem sido os de maior prosperidade da história da
humanidade, acompanhados de um boom nos preços das commodities que beneficiou
todos os países exportadores das mesmas, inclusive o Brasil. Quando as coisas
deram errado sob o comando de Dilma, a culpa é toda da crise internacional.
Antes de
continuar abro um parênteses: corrupção e arrogância à parte, Lula não foi um
mau governante, apesar de ter desperdiçado a melhor oportunidade que o país
teve de fazer as reformas estruturais de que tanto precisava e precisa. Ele
tomou decisões muito mais sensatas na economia do que sua sucessora, que tem
formação na área. Lula é imensamente melhor do que Dilma, o que não é
exatamente fazer-lhe um grande elogio, dado que ela está disputando a Sarney o
título de pior presidente da nossa história (fora os ditadores, que são sempre
os piores, claro).
O grande
problema dessa lorota que o governo e seus aliados tentam vender ao país, de
que vamos mal por causa da crise externa, é de que a tal crise econômica,
responsável por nossa recessão, só está acontecendo no Brasil e mais meia dúzia
de países. Todo o resto do mundo vai bem, obrigado. Não sou eu quem digo, longe
de mim tal pretensão, são os dados de variação de PIB de quase todos os países
do planeta, que qualquer um pode consultar no site do Banco Mundial. Levei em
consideração os dados dos seis anos de governo de Dilma, incluindo 2016. Para muitos
países ainda não há dados oficiais para 2015. Nesses casos utilizei ou bem as
previsões do Economist Intelligence Unit, ou do FMI. Idem para 2016.
Se
considerarmos uma queda do PIB brasileiro em 2015 de -4,0% e a previsão de
queda de outros -3,5% em 2016, o crescimento acumulado nos seis anos de governo
Dilma não chegará a 1,0%. Sei que há dados menos pessimistas para 2016, mas o
cenário não pára de deteriorar. Até o momento parece indiscutível que Dilma
entregará ao seu sucessor, em 2019 ou antes, um país mais pobre do que quando
foi reeleita em 2014. Mas se a economia não parar de encolher até o terceiro
trimestre deste ano, é possível que também 2017 seja ano de crescimento
negativo, devido ao efeito estatístico, e nós não só nos vejamos na situação
inédita de ter três anos consecutivos de recessão, mas também que a presidente
entregue ao sucessor um pais mais pobre do que recebeu de Lula em 2011. Um
verdadeiro desastre!
No
entanto não é necessário adiantar acontecimentos. Mesmo se considerássemos uma
queda menos acentuada do PIB neste ano, ainda assim o crescimento dos seis
primeiros anos do governo Dilma não passaria de 2,0%. E o resto do mundo,
quanto cresceu? Segundo a versão “crise mundial” o dado deveria ser tremendo.
Pois bem, o crescimento da economia mundial terá sido de 17,0% no mesmo período.
Haverá quem diga que não dá para comparar o Brasil com o crescimento mundial,
porque o último inclui países como China, que verá um crescimento acima de
50,0%, ou Índia, cujo crescimento deve ultrapassar 45,0 %. De fato, ambos
países, por diferentes razões, não são comparáveis ao Brasil. Mas e se
compararmos o crescimento brasileiro com outros países semelhantes na América
Latina? Bem, a Argentina crescerá 15,0%; Bolívia, 36,0%; Chile, 24,0%; Colombia
e Peru, 28,0% cada; México, 17,0%. Alguém quer me dizer onde está a crise?
Poderia
continuar a citar vários países para demonstrar que os que estão mal são
aqueles que têm problemas específicos muito concretos, como a Síria que está em guerra civil, a Venezuela,
que tem um dos piores governos do mundo, a Ucrânia, que vive uma invasão de
parte do seu território e uma guerra civil não declarada de baixa intensidade,
a Rússia, que sofre sanções econômicas das maiores economias do mundo etc. A
verdade é que entre os países de renda média, que são aqueles com os quais deve
ser comparado, o Brasil sai muito mal na foto. E isso para não falar da
inflação, que este ano ficará novamente nos dois dígitos e dificilmente voltará
para baixo de 6,5% antes de 2019.
Alguma
surpresa? Infelizmente, não. Dilma nunca deixou de ser a empresária que levou uma
lojinha de tudo a um real à falência. A única diferença é que agora o está
fazendo em escala nacional.