As últimas pesquisas eleitorais indicam que a candidata petista estaria à frente do tucano uns doze pontos percentuais na disputa para a presidência. É margem mais que suficiente para dar muita coisa errada e mesmo assim ela sair eleita no dia 31. A nove dias da eleição, parece muito provável que Dilma venha a ser a nova presidente do Brasil.
As eleições são uma mistura de decisão racional com competição emocional. Torcemos pelo nosso candidato como torcemos pela nossa seleção, pelo nosso filme favorito ao Oscar, nosso time de futebol. Em política conta tanto o sentimento a favor como contra. De um e outro lado ouvimos queixas do ódio que estaria marcando a disputa presidencial. Alguma surpresa? Não há dúvida que o voto pró Dilma ou Serra, assim como o voto contra o PT ou o PSDB tem muito de emocional. Quem for eleito presidente terá ganho tanto a batalha da razão como a da emoção. Depois, superada a competição, voltaremos à realidade.
Às vezes me pergunto se os eleitores de Dilma Rousseff alguma vez pararam para pensar no dia seguinte. Não só primeiro de Novembro, Todos os Santos, mas cada dia do seu mandato. O que significa realmente, na prática e no dia-a-dia, tê-la como presidente. No seu caráter famoso pelo autoritarismo e pelo pavio curto. Na sua inexperiência como negociadora política. Na dúvida se ela vai mandar no PT ou ser mandada pelo PT. Na enorme dúvida se além de boa número dois, ela também pode ser uma líder, uma boa número um. Na avidez do partido que é a Geni da política brasileira para ficar com a sua parte deste latifúndio. Até mesmo nas suas tendências estatistas e no seu mapa mental ancorado nos anos sessenta e setenta. Uma coisa é querer que Dilma ganhe, outra é querer tê-la como presidente. Será que quem vota nela parou para pensar nisso?
Respeito os eleitores que votam no PT por convicção ideológica. Eles votariam em qualquer candidato do seu partido. Apesar de discordar de suas idéias e de nos encontrarmos em posições distantes do arco político, eles são adversários, não inimigos. Mas estes devem perfazer pouco mais da metade dos votos que Dilma aparentemente terá. E a outra metade? Estão dispostos a votar numa pessoa que no fundo é uma incógnita, a troco da esperança de que o Brasil continue indo bem? Não há nenhuma garantia de que seja assim. Esse voto é um cheque em branco. É claro que cada eleitor faz o que bem entender, mas você passaria um cheque em branco a uma desconhecida?
Volto a fazer a pergunta do post anterior: se Lula não tivesse tomado a decisão unilateral (e portanto autoritária) de escolher Dilma como candidata e impô-la ao PT e aos eleitores, alguém teria tido essa idéia? Parece-me óbvio que não. É essa candidata artificial que os brasileiros querem mesmo como presidente durante 1.461 dias? Tenho idade suficiente para saber que o fato dela ser uma neófita em eleições e mais burocrata que política não significa necessariamente que será uma má presidente. Os próximos quatro anos não dependem só de quem estiver no governo e das medidas que tomar, mas também da conjuntura internacional e de eventos que nem sequer imaginamos hoje. Mas Dilma seria a primeira opção dos seus eleitores sem o dedazo de Lula? E as pessoas vão votar nela só porque o presidente mandou?
Da minha parte acho um enorme desperdício o país perder mais quatro anos sem fazer as reformas que são tão urgentes e que Lula simplesmente ignorou. Ontem mesmo foi divulgado o déficit da previdência e a projeção para o final do ano. Apesar do Brasil estar bombando e da criação record de trabalho formal, o déficit previdenciário não dá trégua. Mas parece que ninguém se importa. A previdência, a reforma fiscal, o déficit público estão ausentes do debate eleitoral. As privatizações só se discutem na base da baixaria. O tema ecológico, fundamental para a visão de país em 2050 (e além), também fica de fora, apesar da enorme votação de Marina Silva no primeiro turno. A eleição parece mais bate-boca de vizinhos, o tão pernicioso "nós" contra "eles". Que pena!
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
ASAMG - E Agora?
Estava em Barcelona no dia três, quando houve o primeiro turno das eleições no Brasil. Aqui na Europa a imprensa dava como certa a vitória de Dilma Rousseff. A maneira como era feita a cobertura levava a que meus conhecidos me considerassem um lunático, ao insistir tanto que haveria um segundo turno, que a vitória da ex-ministra não eram favas contadas. Tanto em Portugal como aqui na Espanha Lula e a sua candidata eram considerados imbatíveis. Bueno, parece que os eleitores brasileiros eram de outra opinião.
Dilma Rousseff ganhou o primeiro turno, mas não no primeiro turno. O PT, a começar pelo presidente da República, fez tanto finca pé em que ela teria maioria absoluta e houve tanto oba-oba e "já ganhou", que sua vitória teve o sabor amargo de derrota. As cenas que vi na televisão espanhola mostravam petistas e aliados com indisfarçável cara de bunda mal lavada. Já Serra dizia estar feliz e via-se que estava mesmo. Depois de insistir tanto nessa bobagem de ganhar no primeiro turno, não só Lula tem que engolir essa derrota para a sua vaidade mega-inflada, como tem que admitir que até hoje só o seu desafeto Fernando Henrique Cardoso conseguiu se eleger assim, por sinal duas vezes e em ambas ocasiões derrotando o próprio Lula.
Mas se todo mundo achava que Lula ia eleger sua candidata, o que foi que aconteceu? O que saiu errado? Para usar uma construção cara ao presidente, nunca antes na história desse país tinha sido criada uma estrutura tão forte, uma máquina eleitoral tão poderosa como a que funcionou para a candidata petista. O PT não só se coligou com o mais poderoso partido brasileiro, PMDB, como fez todos os acordos regionais que pôde para viabilizar sua vitória. O caso mais notório foi sacrificar a candidatura própria ao governo de Minas. As doações para a campanha de Dilma deixaram Marina e Serra muito atrás. O próprio presidente fez mais campanha para a sua candidata do que para si próprio em 2006. Nem assim foi suficiente.
Provavelmente parte do problema de Dilma é que sua candidatura é totalmente artificial. Foi escolha pessoal e unilateral de Lula, imposta ao seu partido. Se o presidente não tivesse feito assim, alguém teria tido a idéia de lançá-la candidata à presidência? Provavelmente não, e por razões óbvias. Essas razões óbvias foram insistentemente esquecidas durante os dois últimos anos, baseadas na idéia de que a popularidade de Lula resolveria tudo. Muita gente acreditou nessa balela. Mas Dilma não é uma política profissional. Não tinha nenhuma experiência eleitoral. Não é carismática. Até bem pouco tempo nem sequer era conhecida. Pedir para votar nela é como dizer para um jovem que deve aceitar um casamento arranjado pelos seus pais: pode ser uma escolha que dê certo (amigos indianos se casaram dessa forma e são muito felizes), mas o risco é enorme. E muita gente adulta prefere pensar por si própria e fazer o que acha mais adequado, e não o que os pais dizem para fazer.
A segunda parte dessa equação é que José Serra é um político conhecido, experiente e experimentado. Tem trânsito, cancha eleitoral, é conhecido nacionalmente há muito tempo, foi bem avaliado como prefeito de São Paulo e como governador. E mais importante que qualquer outra coisa: desde o final do ano passado aliados e opositores o criticam pela maneira como administra sua candidatura, mas insistentemente os fatos demonstram que ele não pode estar tão errado, pois a sua resiliência é enorme. Depois de ter sido considerado acabado tantas vezes, ele conseguiu não só chegar ao segundo turno, como o momentum lhe é favorável. Tudo que a candidatura de Dilma tem de artificial a de Serra tem de substancial, independentemente das preferências políticas do eleitor.
O segundo turno, em 31 de Outubro, é uma nova eleição. Não será de maneira nenhuma um passeio, um mero trâmite burocrático para eleger Dilma. O PT já não contará com vantagem no tempo de TV. Nos cinco maiores estados as eleições para governador foram resolvidas no domingo passado e muitas análises mostram que isso pode se tornar uma grande vantagem para os tucanos. Minas Gerais provavelmente será um estado decisivo na votação. Depois do enorme sapo que os petistas mineiros tiveram que engolir, a derrota de Hélio Costa não ajuda em nada a levantar os ânimos. E se tudo isso não fosse suficiente, ouço dizer nos bastidores que Dilma está esgotada fisicamente. Sabe-se lá como ela chegará ao final da campanha.
Se nos últimos meses mais de uma vez disse que achava que Serra era o favorito, agora estou mais do que convencido disso. Não quer dizer de maneira nenhuma que ele vá ganhar a eleição. A poderosa máquina eleitoral montada pelo presidente Lula continuará trabalhando para Dilma. Mas depois do último domingo, ele ficou um pouco mais perto do Planalto, e ela um pouco mais longe.
Termino este post expressando minha felicidade de que Mário Vargas Llosa tenha ganhado o premio Nobel de literatura. Vargas Llosa é um excelente escritor e um brilhante intelectual. É um feroz defensor da liberdade humana e da sociedade aberta. A América Latina e o mundo seriam lugares muito melhores se houvesse mais gente como ele!
Dilma Rousseff ganhou o primeiro turno, mas não no primeiro turno. O PT, a começar pelo presidente da República, fez tanto finca pé em que ela teria maioria absoluta e houve tanto oba-oba e "já ganhou", que sua vitória teve o sabor amargo de derrota. As cenas que vi na televisão espanhola mostravam petistas e aliados com indisfarçável cara de bunda mal lavada. Já Serra dizia estar feliz e via-se que estava mesmo. Depois de insistir tanto nessa bobagem de ganhar no primeiro turno, não só Lula tem que engolir essa derrota para a sua vaidade mega-inflada, como tem que admitir que até hoje só o seu desafeto Fernando Henrique Cardoso conseguiu se eleger assim, por sinal duas vezes e em ambas ocasiões derrotando o próprio Lula.
Mas se todo mundo achava que Lula ia eleger sua candidata, o que foi que aconteceu? O que saiu errado? Para usar uma construção cara ao presidente, nunca antes na história desse país tinha sido criada uma estrutura tão forte, uma máquina eleitoral tão poderosa como a que funcionou para a candidata petista. O PT não só se coligou com o mais poderoso partido brasileiro, PMDB, como fez todos os acordos regionais que pôde para viabilizar sua vitória. O caso mais notório foi sacrificar a candidatura própria ao governo de Minas. As doações para a campanha de Dilma deixaram Marina e Serra muito atrás. O próprio presidente fez mais campanha para a sua candidata do que para si próprio em 2006. Nem assim foi suficiente.
Provavelmente parte do problema de Dilma é que sua candidatura é totalmente artificial. Foi escolha pessoal e unilateral de Lula, imposta ao seu partido. Se o presidente não tivesse feito assim, alguém teria tido a idéia de lançá-la candidata à presidência? Provavelmente não, e por razões óbvias. Essas razões óbvias foram insistentemente esquecidas durante os dois últimos anos, baseadas na idéia de que a popularidade de Lula resolveria tudo. Muita gente acreditou nessa balela. Mas Dilma não é uma política profissional. Não tinha nenhuma experiência eleitoral. Não é carismática. Até bem pouco tempo nem sequer era conhecida. Pedir para votar nela é como dizer para um jovem que deve aceitar um casamento arranjado pelos seus pais: pode ser uma escolha que dê certo (amigos indianos se casaram dessa forma e são muito felizes), mas o risco é enorme. E muita gente adulta prefere pensar por si própria e fazer o que acha mais adequado, e não o que os pais dizem para fazer.
A segunda parte dessa equação é que José Serra é um político conhecido, experiente e experimentado. Tem trânsito, cancha eleitoral, é conhecido nacionalmente há muito tempo, foi bem avaliado como prefeito de São Paulo e como governador. E mais importante que qualquer outra coisa: desde o final do ano passado aliados e opositores o criticam pela maneira como administra sua candidatura, mas insistentemente os fatos demonstram que ele não pode estar tão errado, pois a sua resiliência é enorme. Depois de ter sido considerado acabado tantas vezes, ele conseguiu não só chegar ao segundo turno, como o momentum lhe é favorável. Tudo que a candidatura de Dilma tem de artificial a de Serra tem de substancial, independentemente das preferências políticas do eleitor.
O segundo turno, em 31 de Outubro, é uma nova eleição. Não será de maneira nenhuma um passeio, um mero trâmite burocrático para eleger Dilma. O PT já não contará com vantagem no tempo de TV. Nos cinco maiores estados as eleições para governador foram resolvidas no domingo passado e muitas análises mostram que isso pode se tornar uma grande vantagem para os tucanos. Minas Gerais provavelmente será um estado decisivo na votação. Depois do enorme sapo que os petistas mineiros tiveram que engolir, a derrota de Hélio Costa não ajuda em nada a levantar os ânimos. E se tudo isso não fosse suficiente, ouço dizer nos bastidores que Dilma está esgotada fisicamente. Sabe-se lá como ela chegará ao final da campanha.
Se nos últimos meses mais de uma vez disse que achava que Serra era o favorito, agora estou mais do que convencido disso. Não quer dizer de maneira nenhuma que ele vá ganhar a eleição. A poderosa máquina eleitoral montada pelo presidente Lula continuará trabalhando para Dilma. Mas depois do último domingo, ele ficou um pouco mais perto do Planalto, e ela um pouco mais longe.
Termino este post expressando minha felicidade de que Mário Vargas Llosa tenha ganhado o premio Nobel de literatura. Vargas Llosa é um excelente escritor e um brilhante intelectual. É um feroz defensor da liberdade humana e da sociedade aberta. A América Latina e o mundo seriam lugares muito melhores se houvesse mais gente como ele!
domingo, 3 de outubro de 2010
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