sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ASAMG - Cheque em Branco

As últimas pesquisas eleitorais indicam que a candidata petista estaria à frente do tucano uns doze pontos percentuais na disputa para a presidência. É margem mais que suficiente para dar muita coisa errada e mesmo assim ela sair eleita no dia 31. A nove dias da eleição, parece muito provável que Dilma venha a ser a nova presidente do Brasil.

As eleições são uma mistura de decisão racional com competição emocional. Torcemos pelo nosso candidato como torcemos pela nossa seleção, pelo nosso filme favorito ao Oscar, nosso time de futebol. Em política conta tanto o sentimento a favor como contra. De um e outro lado ouvimos queixas do ódio que estaria marcando a disputa presidencial. Alguma surpresa? Não há dúvida que o voto pró Dilma ou Serra, assim como o voto contra o PT ou o PSDB tem muito de emocional. Quem for eleito presidente terá ganho tanto a batalha da razão como a da emoção. Depois, superada a competição, voltaremos à realidade.

Às vezes me pergunto se os eleitores de Dilma Rousseff alguma vez pararam para pensar no dia seguinte. Não só primeiro de Novembro, Todos os Santos, mas cada dia do seu mandato. O que significa realmente, na prática e no dia-a-dia, tê-la como presidente. No seu caráter famoso pelo autoritarismo e pelo pavio curto. Na sua inexperiência como negociadora política. Na dúvida se ela vai mandar no PT ou ser mandada pelo PT. Na enorme dúvida se além de boa número dois, ela também pode ser uma líder, uma boa número um. Na avidez do partido que é a Geni da política brasileira para ficar com a sua parte deste latifúndio. Até mesmo nas suas tendências estatistas e no seu mapa mental ancorado nos anos sessenta e setenta. Uma coisa é querer que Dilma ganhe, outra é querer tê-la como presidente. Será que quem vota nela parou para pensar nisso?

Respeito os eleitores que votam no PT por convicção ideológica. Eles votariam em qualquer candidato do seu partido. Apesar de discordar de suas idéias e de nos encontrarmos em posições distantes do arco político, eles são adversários, não inimigos. Mas estes devem perfazer pouco mais da metade dos votos que Dilma aparentemente terá. E a outra metade? Estão dispostos a votar numa pessoa que no fundo é uma incógnita, a troco da esperança de que o Brasil continue indo bem? Não há nenhuma garantia de que seja assim. Esse voto é um cheque em branco. É claro que cada eleitor faz o que bem entender, mas você passaria um cheque em branco a uma desconhecida?

Volto a fazer a pergunta do post anterior: se Lula não tivesse tomado a decisão unilateral (e portanto autoritária) de escolher Dilma como candidata e impô-la ao PT e aos eleitores, alguém teria tido essa idéia? Parece-me óbvio que não. É essa candidata artificial que os brasileiros querem mesmo como presidente durante 1.461 dias? Tenho idade suficiente para saber que o fato dela ser uma neófita em eleições e mais burocrata que política não significa necessariamente que será uma má presidente. Os próximos quatro anos não dependem só de quem estiver no governo e das medidas que tomar, mas também da conjuntura internacional e de eventos que nem sequer imaginamos hoje. Mas Dilma seria a primeira opção dos seus eleitores sem o dedazo de Lula? E as pessoas vão votar nela só porque o presidente mandou?

Da minha parte acho um enorme desperdício o país perder mais quatro anos sem fazer as reformas que são tão urgentes e que Lula simplesmente ignorou. Ontem mesmo foi divulgado o déficit da previdência e a projeção para o final do ano. Apesar do Brasil estar bombando e da criação record de trabalho formal, o déficit previdenciário não dá trégua. Mas parece que ninguém se importa. A previdência, a reforma fiscal, o déficit público estão ausentes do debate eleitoral. As privatizações só se discutem na base da baixaria. O tema ecológico, fundamental para a visão de país em 2050 (e além), também fica de fora, apesar da enorme votação de Marina Silva no primeiro turno. A eleição parece mais bate-boca de vizinhos, o tão pernicioso "nós" contra "eles". Que pena!

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