quinta-feira, 16 de junho de 2011

ASAMG - Ignorância ou Oportunismo?

Na semana passada estive uns dias de férias na Itália. Entre outros encontrei-me com um amigo alemão, que trabalha como executivo nos Estados Unidos. Esse amigo esteve no Brasil em Maio. Chegou em São Paulo e partiu do Rio. Seu primeiro comentário foi: "li tantas coisas sobre os BRICs, o Brasil potência emergente, o crescimento econômico dos últimos anos, no entanto fiquei surpreso com os aeroportos, com a péssima infra-estrutura, era puro terceiro-mundo."

Provavelmente os nacionalistas e patriotas de plantão se sentiriam indignados com esse comentário e diriam coisas como "não precisa vir se não acha os aeroportos bons". A triste verdade, no entanto, é que só quem não tem parâmetro de comparação não se dá conta do quanto os aeroportos brasileiros são horríveis, do mau serviço que proporcionam e da péssima impressão que causam nos dois momentos mais importantes da relação com estrangeiros: o primeiro contato é ruim, o último, aquele que a pessoa levará consigo, também. É o pior cartão de visitas que podemos dar aos turistas de fora, além do calvário que representam para os nacionais.

Apesar disso, também na semana passada li nos jornais declaração de líder sindical ligado ao PT que dizia que privatizar aeroportos que dão lucro era um crime. Confesso que não perdi tempo com essa besteira, mas posso imaginar que o "crime" estaria no fato do povo brasileiro perder o lucro que tais aeroportos geram. É um argumento emocional que com certeza será repetido à exaustão por muita gente ignorante. Pena que não se sustente de nenhuma maneira. Aliás, o caso dos aeroportos é muito propício para demonstrar o quanto essa fobia contra privatizações é irracional.

Se o governo construísse dois aeroportos exatamente iguais, ao mesmo custo, mas um deles tivesse mais movimento e desse lucro e o outro desse prejuizo, os dois valeriam o mesmo por serem iguais? Mesmo quem não sabe nada de economia provavelmente responderia intuitivamente que não, que o aeroporto que dá lucro vale mais. É a resposta certa e dela dá para tirar duas conclusões: primeiro que nenhuma atividade vale pelo que custaram as suas instalações e segundo que o valor da atividade está diretamente relacionado à sua capacidade de gerar lucro, tanto no presente como no futuro. Digo atividade de propósito, porque se aplica não só a empresas formais, mas a qualquer tipo de empreendimento econômico.

Quando os proprietários decidem vender uma empresa o valor mínimo que pedem por ela é aquele que compensa os lucros que eles deixarão de ter no futuro. É o mesmo princípio de quem vende um imóvel: se o mesmo está alugado, o proprietário recebe o aluguel. Depois da venda deixa de recebê-lo. A contrapartida é que recebeu de uma vez o valor da venda. No caso das empresas acontece a mesma coisa: ao vendê-las seus proprietários deixarão de receber os dividendos derivados dos lucros, mas isso porque receberam o preço pago pelo comprador. Não há absolutamente nenhum crime, trata-se apenas de um negócio.

Se o valor de uma empresa é aquele que compensa deixar de receber dividendos no presente e no futuro, qual é o interesse de quem compra? Se quem compra fizer tudo exatamente igual ao que fazia quem vende, não há interesse nenhum. El truco del amendruco está em que o comprador imagina fazer algo diferente e que ele espera irá aumentar os lucros e portanto os dividendos. Esse algo diferente pode ser de múltipla natureza: melhorar a administração, investir em novas instalações, trazer novas tecnologias, novos clientes, aproveitar sinergiais com outros negócios e um longo etc. Por isso na maioria de transações de compra/venda de empresas é normal haver um ágio pago pelo comprador - ele espera ganhar suficientemente mais para compensar o ágio e ainda valer a pena. E porque o vendedor não faz essas coisas que o comprador quer fazer e fica ele mesmo com o aumento do lucro? Porque não sabe, não tem ou não pode.

Tudo isso é be-a-bá de economia e finanças. Dezenas de milhares de pessoas utilizam estes princípios todos os dias, ao redor do mundo, para avaliar empresas e realizar negócios. É verdade que o modelo é um pouco mais sofisticado e inclui variáveis como endividamento, taxa de juros e necessidades de investimento - em outras palavras, fluxo de caixa. Mas a base é sempre a mesma: capacidade de dar lucro.

Portanto, respondendo ao sindicalista do PT, vender aeroporto que dá lucro não é crime, é negócio; pode ser um excelente negócio se os compradores melhorarem muito a lucratividade dos mesmos, pois pagarão mais impostos e o governo (ou seja, o tão defendido povo brasileiro) se tornará sócio desse éxito empresarial. Se der errado, o risco estará inteiramente nas mãos dos novos proprietários. E não são só os aeroportos lucrativos que podem ser privatizados. Aqueles que nas mãos do governo dão prejuízo talvez possam passar a ser lucrativos nas mãos da iniciativa privada.

É tão inacreditável que um sindicalista importante não saiba essas coisas, que não acredito na sua ignorância. O mais provável é que use esse discurso só para fazer demagogia, contando com a ignorância da maioria do público em temas de economia e finanças. É lamentável que continuemos marcando passo graças a essas baixarias!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ASAMG - Um Puxadinho

Nos anos oitenta, quando Paulo Maluf era governador de São Paulo e construiu a nova rodoviária, o terminal Tietê, muita gente a comparou a um aeroporto. As instalações eram bonitas, confortáveis, limpas e funcionais. Uma melhora notável em relação à estação anterior nos Campos Elíseos. Na época, se não me falha a memória, Cumbica ainda não existia e o maior aeroporto do país era o Galeão. A comparação fazia sentido.

Hoje, infelizmente, temos que dizer o contrário: nossos aeroportos se parecem cada vez mais a estações rodoviárias, e das piores. A infra-estrutura aeroportuária está saturada, envelhecida, é desconfortável e ineficiente. Sofrem os passageiros, mas não só eles. Aeroporto tem impacto no crescimento do país, a começar pela indústria do turismo. A primeira impressão dada aos turistas estrangeiros que vão ao Brasil é lamentável. Além disso, transporte aéreo é fundamental num país com as nossas dimensões. Não investir no setor é atraso de vida.

Até hoje o Estado brasileiro se mostrou incapaz de construir e administrar os aeroportos que o país precisa. Essa pasmaceira continuaria por ainda muito tempo sem os compromissos internacionais assumidos para a Copa 2014 e as Olimpíadas 2016. O governo Lula não fez praticamente nada no setor - e o que fez me parece duvidoso, como investir em Congonhas, um aeroporto que a médio prazo deveria ser fechado. Vítima da sua pregação contra a privataria, ficou de mãos atadas e não pôde contar com a iniciativa privada para os investimentos. Portanto, a mudança de rumo da presidente Dilma, logo ao tomar posse, não era só porque as eleições já tinham passado - era ditada pela necessidade e pela evidência de que o governo não era capaz de fazer os investimentos necessários antes da Copa.

Mesmo reconhecendo que a nova orientação era ditada pela necessidade, ainda assim elogiei o bom senso mostrado pela presidente. Nesta semana, depois da publicação dos planos governamentais para a suposta privatização de três aeroportos, tenho que retirar o que disse. O PT continua refém da sua pregação anti-privataria e só consegue propor uma privatização meia-boca, que tem tudo para não dar certo.

No mês passado estive uns dias em São Paulo. Por casualidade me encontrei com um conhecido que vem do setor. Conversamos sobre como Cumbica está cada dia pior. Esse conhecido me disse que se os planos do governo para abrir o setor à iniciativa privada passassem pela obrigação de se associarem à Infraero, o órgão estatal, provavelmente não encontrariam parceiros privados dispostos a fazê-lo. Ele também criticou o marco legal, que segundo sua opinião não daria segurança jurídica aos potenciais investidores. Por fim disse o óbvio: aeroporto é excelente negócio, quando bem administrado. Com certeza haveria muitas empresas, nacionais e estrangeiras, dispostas a construir e administrar novos aeroportos, como o terceiro aeroporto de São Paulo, caso pudessem fazê-lo por conta própria e sem ingerência governamental. Bastaria haver clareza e segurança com respeito à legislação, inclusive o funcionamento da agência reguladora. Sem isso, era duvidoso que houvesse empresas dispostas a se arriscarem.

Não consigo entender porque há gente contra o investimento privado na área. Em primeiro lugar, o Estado se mostrou sobradamente incompetente ou incapaz de fazer os aeroportos que o país requer. Portanto a opção é entre não ter investimento ou deixar empresas privadas investirem e ganharem dinheiro. Mas no besteirol da cartilha esquerdista é melhor sofrer com má infra-estrutura nas mãos do estado do que deixar os empresários terem lucro (normalmente se esquecem de que as empresas pagam impostos sobre os lucros e o estado se torno sócio do sucesso empresarial). A propriedade privada de grandes aeroportos é um modelo que deu certo em muitos lugares do mundo. Dar as costas a ele é burrice.

A pior notícia é que já é tarde demais para conseguir construir os novos terminais, pistas e outras infra-estruturas necessárias para a Copa. Não dá mais tempo. O único que se pode fazer é alguns puxadinhos. Trata-se da típica solução provisória, de última hora, e que depois se torna permanente. Como exemplo meu conhecido citou o aeroporto de Lisboa, cuja reforma não podia ficar pronta para a Eurocopa e se apelou para o puxadinho. Bueno, o anexo virou uma espécie de terminal e não só existe até hoje, como torna o funcionamento do aeroporto mais complicado e ineficiente. Só para dar um exemplo, já fiquei mais de uma hora dentro de um avião que tinha aterrissado na Portela à espera do ônibus que nos levaria até à saída do terminal principal. Não havia ônibus disponíveis, tantos são os passageiros que têm que ir de um lado para outro. Outra vez o embarque atrasou por quase duas horas pela mesma razão. As malas extraviadas são outro pesadelo dos infelizes que fazem uma conexão por lá no verão.

Se o aeroporto de Lisboa é um exemplo do que nos espera no futuro, então está garantido o vexame durante a Copa. Não precisava ter sido assim. Tenho curiosidade de saber o que a presidente Dilma dirá sobre o assunto em 2014. Com certeza a culpa será de todos os outros, menos do partido no governo desde 2003. Quando as coisas dão errado nunca é culpa do PT. Se alguém espera que a presidente reconheça que houve barbeiragem, melhor esperar deitado. Desde já.