Na semana passada estive uns dias de férias na Itália. Entre outros encontrei-me com um amigo alemão, que trabalha como executivo nos Estados Unidos. Esse amigo esteve no Brasil em Maio. Chegou em São Paulo e partiu do Rio. Seu primeiro comentário foi: "li tantas coisas sobre os BRICs, o Brasil potência emergente, o crescimento econômico dos últimos anos, no entanto fiquei surpreso com os aeroportos, com a péssima infra-estrutura, era puro terceiro-mundo."
Provavelmente os nacionalistas e patriotas de plantão se sentiriam indignados com esse comentário e diriam coisas como "não precisa vir se não acha os aeroportos bons". A triste verdade, no entanto, é que só quem não tem parâmetro de comparação não se dá conta do quanto os aeroportos brasileiros são horríveis, do mau serviço que proporcionam e da péssima impressão que causam nos dois momentos mais importantes da relação com estrangeiros: o primeiro contato é ruim, o último, aquele que a pessoa levará consigo, também. É o pior cartão de visitas que podemos dar aos turistas de fora, além do calvário que representam para os nacionais.
Apesar disso, também na semana passada li nos jornais declaração de líder sindical ligado ao PT que dizia que privatizar aeroportos que dão lucro era um crime. Confesso que não perdi tempo com essa besteira, mas posso imaginar que o "crime" estaria no fato do povo brasileiro perder o lucro que tais aeroportos geram. É um argumento emocional que com certeza será repetido à exaustão por muita gente ignorante. Pena que não se sustente de nenhuma maneira. Aliás, o caso dos aeroportos é muito propício para demonstrar o quanto essa fobia contra privatizações é irracional.
Se o governo construísse dois aeroportos exatamente iguais, ao mesmo custo, mas um deles tivesse mais movimento e desse lucro e o outro desse prejuizo, os dois valeriam o mesmo por serem iguais? Mesmo quem não sabe nada de economia provavelmente responderia intuitivamente que não, que o aeroporto que dá lucro vale mais. É a resposta certa e dela dá para tirar duas conclusões: primeiro que nenhuma atividade vale pelo que custaram as suas instalações e segundo que o valor da atividade está diretamente relacionado à sua capacidade de gerar lucro, tanto no presente como no futuro. Digo atividade de propósito, porque se aplica não só a empresas formais, mas a qualquer tipo de empreendimento econômico.
Quando os proprietários decidem vender uma empresa o valor mínimo que pedem por ela é aquele que compensa os lucros que eles deixarão de ter no futuro. É o mesmo princípio de quem vende um imóvel: se o mesmo está alugado, o proprietário recebe o aluguel. Depois da venda deixa de recebê-lo. A contrapartida é que recebeu de uma vez o valor da venda. No caso das empresas acontece a mesma coisa: ao vendê-las seus proprietários deixarão de receber os dividendos derivados dos lucros, mas isso porque receberam o preço pago pelo comprador. Não há absolutamente nenhum crime, trata-se apenas de um negócio.
Se o valor de uma empresa é aquele que compensa deixar de receber dividendos no presente e no futuro, qual é o interesse de quem compra? Se quem compra fizer tudo exatamente igual ao que fazia quem vende, não há interesse nenhum. El truco del amendruco está em que o comprador imagina fazer algo diferente e que ele espera irá aumentar os lucros e portanto os dividendos. Esse algo diferente pode ser de múltipla natureza: melhorar a administração, investir em novas instalações, trazer novas tecnologias, novos clientes, aproveitar sinergiais com outros negócios e um longo etc. Por isso na maioria de transações de compra/venda de empresas é normal haver um ágio pago pelo comprador - ele espera ganhar suficientemente mais para compensar o ágio e ainda valer a pena. E porque o vendedor não faz essas coisas que o comprador quer fazer e fica ele mesmo com o aumento do lucro? Porque não sabe, não tem ou não pode.
Tudo isso é be-a-bá de economia e finanças. Dezenas de milhares de pessoas utilizam estes princípios todos os dias, ao redor do mundo, para avaliar empresas e realizar negócios. É verdade que o modelo é um pouco mais sofisticado e inclui variáveis como endividamento, taxa de juros e necessidades de investimento - em outras palavras, fluxo de caixa. Mas a base é sempre a mesma: capacidade de dar lucro.
Portanto, respondendo ao sindicalista do PT, vender aeroporto que dá lucro não é crime, é negócio; pode ser um excelente negócio se os compradores melhorarem muito a lucratividade dos mesmos, pois pagarão mais impostos e o governo (ou seja, o tão defendido povo brasileiro) se tornará sócio desse éxito empresarial. Se der errado, o risco estará inteiramente nas mãos dos novos proprietários. E não são só os aeroportos lucrativos que podem ser privatizados. Aqueles que nas mãos do governo dão prejuízo talvez possam passar a ser lucrativos nas mãos da iniciativa privada.
É tão inacreditável que um sindicalista importante não saiba essas coisas, que não acredito na sua ignorância. O mais provável é que use esse discurso só para fazer demagogia, contando com a ignorância da maioria do público em temas de economia e finanças. É lamentável que continuemos marcando passo graças a essas baixarias!
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário