quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ASAMG - Conservadora, Sinistra e Proto-fascista


Nas últimas semanas tem circulado pela internet um vídeo da intervenção da professora Marilena Chauí num debate organizado na USP no final de agosto, chamado "A ascensão conservadora em São Paulo". Os seus admiradores a tratam como uma iluminada e a comparam com a economista Maria da Conceição Tavares. Numa coisa têm razão: as duas costumam dar shows quando debatem em público. Neste vídeo muitas vezes ela é engraçada e os vinte e poucos minutos que dura sua fala são de bom entretenimento. E mais nada.

A primeira coisa que chama a atenção é que ao longo de toda sua intervenção ela não apóia suas idéias com nenhum dado objetivo, não se refere a nenhuma pesquisa ou estudo. É tudo achismo. Aliás, ela despotrica sobre a classe média paulistana, mas nem sequer se dá ao trabalho de nos dizer do que ou de quem está falando. Quem é essa classe média? Qual o seu tamanho? Quais as suas características? Não se sabe. Parece ironia, mas o único dado da realidade apresentado pela professora faz referência à sua própria velhice.

Marilena Chauí faz elucubrações a partir da opinião de um amigo não identificado (ficamos sem saber se existe de fato ou se tratava-se apenas de recurso retórico), segundo quem a classe média paulistana seria um mistério, e um incidente ocorrido numa agência bancária num domingo de manhã. A partir desses dois episódios ela afirma que a classe média paulistana é reacionária, conservadora, autoritária e violenta. Todo mundo, sem nuances.

Na sua opinião, a sociedade brasileira é autoritária, mas a cidade de São Paulo é pior, porque é sinistra. Ela sabe disso porque tem viajado muito pelo Brasil e portanto pode ver tudo de ruim que há na paulicéia. Mesmo assim é estranho que diga por exemplo que os paulistanos são feras quando dirigem seus carros, quando os cariocas, para dar um único exemplo, são muito piores. Ela não diz, mas como o Rio vota mais à esquerda, apostaria que ela não critica os cariocas com o mesmo rigor. Que fique claro, também penso que a maioria das pessoas dirige de forma agressiva no Brasil, mas isso não tem nada a ver com ser progressista ou conservador. Viajando pelo mundo, minha conclusão é que há dois indicadores sobre o desenvolvimento de uma sociedade: quanto mais lixo na rua e pior as pessoas dirigem, menos desenvolvida ela é; ou vice-versa. Portanto, dirigir mal é um problema de falta de educação no trânsito, de pouca civilidade, não de reacionarismo.


Sou de uma típica família de classe média paulistana. A maioria dos meus amigos também o é. Não me identifico para nada com o retrato pintado por Marilena Chauí. Nem meus avós nem meus pais apoiaram a ditadura. Na infância várias vezes ouvi a recomendação de que o que ouvia em casa não podia repetir na escola, pois em família criticava-se muito os militares. Eles não foram à marcha com a família, tradição e propriedade, nem deram ouro para a revolução, muito menos apoiaram os ccc's. Dizer que a classe média recebeu como recompensa a expansão do ensino superior porque apoiou a ditadura é pura fantasia (a massificação do ensino ocorreu no mundo inteiro), como também o é dizer que a mesma teria entrado em pânico, que os programas sociais do governo Lula teriam balançado sua cabeça. Professora, não sei em que mundo a senhora vive, mas a maioria das pessoas que conheço em São Paulo não são como a senhora os pinta.

Em outubro há eleições municipais. Não tenho acompanhado nada da campanha em São Paulo, só os números das pesquisas de intenção de voto. A disparada do candidato Russomanno criou um enorme problema para petistas e tucanos: enquanto Serra e Haddad estiverem estatisticamente empatados, há a probabilidade de que haja um segundo turno. Nesse caso, Russomanno tem grandes chances de ganhar com os votos dos eleitores daquele que tiver ficado de fora - ou alguém acha que a maioria dos eleitores do PT votaria no Serra num segundo turno, ou os eleitores tucanos votariam no Haddad? Se no primeiro turno um dos dois estiver claramente na frente do outro, há a possibilidade de um "voto útil" distorsido, para eleger de uma vez o Russomanno e não correr riscos de que o adversário petista ou tucano seja eleito. Aconteça o que acontecer, hoje é muito pouco provável que Serra ou Haddad sejam eleitos.

Mais uma vez o PT deve perder uma eleição na capital paulista. Desta vez é pior, pois o caudilho-mor, Lula, exerceu seu autoritarismo, impediu a candidatura de Marta Suplicy e impôs Haddad na base do dedazo. É preciso encontrar uma explicação urgente para esse fracasso. Melhor começar a espalhar pelos ventos a lorota de que a culpa é da classe média paulistana, que é reacionária, conservadora, autoritária, violenta, proto-fascista e, se não fosse suficiente, sinistra! Seria patético, se não houvesse tanta gente a levar tamanha bobagem a sério.