Nas
últimas semanas tem circulado pela internet um vídeo da intervenção da
professora Marilena Chauí num debate organizado na USP no final de agosto,
chamado "A ascensão conservadora em São Paulo". Os seus admiradores a
tratam como uma iluminada e a comparam com a economista Maria da Conceição
Tavares. Numa coisa têm razão: as duas costumam dar shows quando debatem em
público. Neste vídeo muitas vezes ela é engraçada e os vinte e poucos minutos
que dura sua fala são de bom entretenimento. E mais nada.
A
primeira coisa que chama a atenção é que ao longo de toda sua intervenção ela
não apóia suas idéias com nenhum dado objetivo, não se refere a nenhuma
pesquisa ou estudo. É tudo achismo. Aliás, ela despotrica sobre a classe média
paulistana, mas nem sequer se dá ao trabalho de nos dizer do que ou de quem
está falando. Quem é essa classe média? Qual o seu tamanho? Quais as suas
características? Não se sabe. Parece ironia, mas o único dado da realidade
apresentado pela professora faz referência à sua própria velhice.
Marilena
Chauí faz elucubrações a partir da opinião de um amigo não identificado
(ficamos sem saber se existe de fato ou se tratava-se apenas de recurso
retórico), segundo quem a classe média paulistana seria um mistério, e um
incidente ocorrido numa agência bancária num domingo de manhã. A partir desses
dois episódios ela afirma que a classe média paulistana é reacionária,
conservadora, autoritária e violenta. Todo mundo, sem nuances.
Na sua
opinião, a sociedade brasileira é autoritária, mas a cidade de São Paulo é
pior, porque é sinistra. Ela sabe disso porque tem viajado muito pelo Brasil e
portanto pode ver tudo de ruim que há na paulicéia. Mesmo assim é estranho que
diga por exemplo que os paulistanos são feras quando dirigem seus carros,
quando os cariocas, para dar um único exemplo, são muito piores. Ela não diz,
mas como o Rio vota mais à esquerda, apostaria que ela não critica os cariocas
com o mesmo rigor. Que fique claro, também penso que a maioria das pessoas
dirige de forma agressiva no Brasil, mas isso não tem nada a ver com ser
progressista ou conservador. Viajando pelo mundo, minha conclusão é que há dois
indicadores sobre o desenvolvimento de uma sociedade: quanto mais lixo na rua e
pior as pessoas dirigem, menos desenvolvida ela é; ou vice-versa. Portanto,
dirigir mal é um problema de falta de educação no trânsito, de pouca
civilidade, não de reacionarismo.
Sou de
uma típica família de classe média paulistana. A maioria dos meus amigos também
o é. Não me identifico para nada com o retrato pintado por Marilena Chauí. Nem
meus avós nem meus pais apoiaram a ditadura. Na infância várias vezes ouvi a
recomendação de que o que ouvia em casa não podia repetir na escola, pois em
família criticava-se muito os militares. Eles não foram à marcha com a família,
tradição e propriedade, nem deram ouro para a revolução, muito menos apoiaram
os ccc's. Dizer que a classe média recebeu como recompensa a expansão do ensino
superior porque apoiou a ditadura é pura fantasia (a massificação do ensino
ocorreu no mundo inteiro), como também o é dizer que a mesma teria entrado em
pânico, que os programas sociais do governo Lula teriam balançado sua cabeça.
Professora, não sei em que mundo a senhora vive, mas a maioria das pessoas que
conheço em São Paulo não são como a senhora os pinta.
Em
outubro há eleições municipais. Não tenho acompanhado nada da campanha em São
Paulo, só os números das pesquisas de intenção de voto. A disparada do candidato
Russomanno criou um enorme problema para petistas e tucanos: enquanto Serra e
Haddad estiverem estatisticamente empatados, há a probabilidade de que haja um
segundo turno. Nesse caso, Russomanno tem grandes chances de ganhar com os
votos dos eleitores daquele que tiver ficado de fora - ou alguém acha que a
maioria dos eleitores do PT votaria no Serra num segundo turno, ou os eleitores
tucanos votariam no Haddad? Se no primeiro turno um dos dois estiver claramente
na frente do outro, há a possibilidade de um "voto útil" distorsido,
para eleger de uma vez o Russomanno e não correr riscos de que o adversário
petista ou tucano seja eleito. Aconteça o que acontecer, hoje é muito pouco
provável que Serra ou Haddad sejam eleitos.
Um comentário:
Divertido mesmo é quando a Marilena Chauí expõe suas teorias sobre a física e a matemática. Talvez o melhor artigo dela nessa linha seja
CHAUÍ, Marilena. “Pesquisas e pesquisadores”, Folha de S. Paulo, 17-09-86.
mas ainda não consegui acessar.
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