segunda-feira, 14 de março de 2016

ASAMG - Feliz Por Ter Participado

Cheguei a São Paulo no fim de semana e ontem pude ir à manifestação contra a presidente Dilma Rousseff  na Avenida Paulista. Tenho idade suficiente para ter ido às passeatas pelas diretas em 1984, tanto a da Praça da Sé quanto a do Vale do Anhangabaú. Fui também às manifestações contra a invasão do Iraque em Barcelona na época do governo Aznar. Ou seja, tenho a viva memória de eventos de protesto político multitudinários que contaram com a participação de centenas de milhares de manifestantes, senão milhões (o baile de cifras é tão certo quanto os impostos e a morte). No entanto tenho que reconhecer: nunca tinha visto nada semelhante ao de ontem.

Estava com familiares e pouco antes de 14:00 fomos andando da Praça Oswaldo Cruz em direção ao MASP. Já havia uma multidão na rua, mas dava para caminhar com certo conforto. A medida que nos aproximávamos da Alameda Campinas a massa humana era mais e mais compacta. A partir dali não era mais possível avançar. Resolvemos voltar por onde viemos e foi difícil percorrer o quarteirão até a Joaquim Eugenio de Lima e descer até a Alameda Santos, para voltar em direção à Brigadeiro Luis António. A quantidade de gente nas ruas, tanto as tranversais quanto as paralelas à Paulista era impressionante. Também o eram a tranquilidade, civismo, respeito e segurança. Havia milhares de famílias com crianças e gente idosa se manifestando. Para quem esteve ontem na Paulista uma coisa era clara: este governo já era. E se alguém tinha alguma dúvida a respeito, depois de ontem não dá mais para duvidar.

Três eram as principais mensagens do protesto: em primeiro lugar, fora PT. Foi o estribilho mais insistentemente ouvido. O desencanto e a rejeição em relação a este partido eram unanimidade. A segunda mensagem, muito mais poderosa em termos de sociedade, era o apoio incondicional ao trabalho do juiz Sérgio Moro e à equipe que está trabalhando nas investigações da Lava Jato. A indignação com a corrupção na Petrobrás não dá para ser exagerada e o seu corolário eram os estribilhos pedindo para por o ex-presidente Lula na prisão. Quem te viu e quem te ve! E a grande ausente, por incrível que pareça, era a própria presidente Dilma Rousseff. É claro que havia faixas e cartazes pedindo o seu impeachment ou dizendo “Fora Dilma”, mas ela raramente era mencionada. Dá uma idéia da sua insignificância política.

O governo Dilma durou cinco anos: quatro em que fez um monte de bobagem, mas mesmo assim conseguiu se reeleger, e o primeiro ano do segundo mandato, em que parecia disposta a remediar as barbeiragens do primeiro. Não deu tempo. A crise econômica criada por ela mesma bateu forte e lançou o país numa recessão que poderia chegar a durar três anos e ser a pior da história republicana. E se isso não fosse pouco, o avançar das investigações da Lava Jato traz todas as semanas más notícias para o governo e o PT. Já ficou no passado a fase em que se discutia se a roubalheira no Petrobrás era real ou não. Agora começam a se determinar quem foram os beneficiados e quem a comandou.

A situação de Dilma lembra mais e mais o governo Sarney. Sarney foi presidente graças à infelicidade da morte do presidente eleito, Tancredo Neves. O mandato era de seis anos. Sarney tinha sido até pouco presidente do partido da ditadura militar, a Arena. Sua conversão à democracia era mais que recente e naqueles anos ele era visto com desconfiança, até mesmo hostilidade, pelos que sofreram com as perseguições do regime militar. Seu governo, para chamá-lo de alguma coisa, durou dois anos. Em 1986 ele decretou o nefasto Plano Cruzado, conseguiu atingir uma popularidade insuspeitada (alguém se lembra dos índices de Dilma em 2012?), levou o PMDB a uma vitória esmagadora nas eleições para governadores e constituintes de novembro e, em seguida, o castelo de cartas se desmoronou. Daí para frente a única coisa que o presidente fez, além de dar expediente no Palácio do Planalto, foi tentar evitar que a Constituinte diminuisse seu mandato para quatro anos. Conseguiu cinco. E nesses três anos seguintes o país foi ladeira abaixo.

Dilma está nesta situação. Ela dá expediente no Palácio do Planalto, mas seu governo acabou. Sua nova matriz econômica foi para ela o mesmo que o Cruzado para Sarney, mas desmoronou igualmente. Ela não tem nenhuma liderança política, nenhuma capacidade de fazer nada de bom para o país nos próximos três anos. Se ela tivesse um surto de lucidez e generosidade faria suas malas e iria embora para casa. A estas alturas a renúncia é a única maneira digna para todos para por fim ao pesadelo no qual o governo do PT se transformou. No entanto parece difícil que a presidente tome a iniciativa. Por isso manifestações como as de ontem por todo o país são tão importantes. É preciso dar um empurrãozinho para ajudá-la a se decidir. E se ela não o fizer os brasileiros devem pressionar seus representantes para que avancem com o impeachment. Do contrário vejam o que foram os três últimos anos do governo Sarney para ter uma idéia do que nos espera.