Cheguei a
São Paulo no fim de semana e ontem pude ir à manifestação contra a presidente
Dilma Rousseff na Avenida Paulista.
Tenho idade suficiente para ter ido às passeatas pelas diretas em 1984, tanto a
da Praça da Sé quanto a do Vale do Anhangabaú. Fui também às manifestações
contra a invasão do Iraque em Barcelona na época do governo Aznar. Ou seja,
tenho a viva memória de eventos de protesto político multitudinários que contaram
com a participação de centenas de milhares de manifestantes, senão milhões (o
baile de cifras é tão certo quanto os impostos e a morte). No entanto tenho que
reconhecer: nunca tinha visto nada semelhante ao de ontem.
Estava
com familiares e pouco antes de 14:00 fomos andando da Praça Oswaldo Cruz em
direção ao MASP. Já havia uma multidão na rua, mas dava para caminhar com certo
conforto. A medida que nos aproximávamos da Alameda Campinas a massa humana era
mais e mais compacta. A partir dali não era mais possível avançar. Resolvemos
voltar por onde viemos e foi difícil percorrer o quarteirão até a Joaquim
Eugenio de Lima e descer até a Alameda Santos, para voltar em direção à
Brigadeiro Luis António. A quantidade de gente nas ruas, tanto as tranversais
quanto as paralelas à Paulista era impressionante. Também o eram a
tranquilidade, civismo, respeito e segurança. Havia milhares de famílias com
crianças e gente idosa se manifestando. Para quem esteve ontem na Paulista uma
coisa era clara: este governo já era. E se alguém tinha alguma dúvida a
respeito, depois de ontem não dá mais para duvidar.
Três eram
as principais mensagens do protesto: em primeiro lugar, fora PT. Foi o
estribilho mais insistentemente ouvido. O desencanto e a rejeição em relação a
este partido eram unanimidade. A segunda mensagem, muito mais poderosa em
termos de sociedade, era o apoio incondicional ao trabalho do juiz Sérgio Moro
e à equipe que está trabalhando nas investigações da Lava Jato. A indignação
com a corrupção na Petrobrás não dá para ser exagerada e o seu corolário eram
os estribilhos pedindo para por o ex-presidente Lula na prisão. Quem te viu e
quem te ve! E a grande ausente, por incrível que pareça, era a própria
presidente Dilma Rousseff. É claro que havia faixas e cartazes pedindo o seu
impeachment ou dizendo “Fora Dilma”, mas ela raramente era mencionada. Dá uma
idéia da sua insignificância política.
O governo
Dilma durou cinco anos: quatro em que fez um monte de bobagem, mas mesmo assim
conseguiu se reeleger, e o primeiro ano do segundo mandato, em que parecia
disposta a remediar as barbeiragens do primeiro. Não deu tempo. A crise
econômica criada por ela mesma bateu forte e lançou o país numa recessão que
poderia chegar a durar três anos e ser a pior da história republicana. E se
isso não fosse pouco, o avançar das investigações da Lava Jato traz todas as
semanas más notícias para o governo e o PT. Já ficou no passado a fase em que
se discutia se a roubalheira no Petrobrás era real ou não. Agora começam a se
determinar quem foram os beneficiados e quem a comandou.
A
situação de Dilma lembra mais e mais o governo Sarney. Sarney foi presidente
graças à infelicidade da morte do presidente eleito, Tancredo Neves. O mandato
era de seis anos. Sarney tinha sido até pouco presidente do partido da ditadura
militar, a Arena. Sua conversão à democracia era mais que recente e naqueles
anos ele era visto com desconfiança, até mesmo hostilidade, pelos que sofreram
com as perseguições do regime militar. Seu governo, para chamá-lo de alguma
coisa, durou dois anos. Em 1986 ele decretou o nefasto Plano Cruzado, conseguiu
atingir uma popularidade insuspeitada (alguém se lembra dos índices de Dilma em
2012?), levou o PMDB a uma vitória esmagadora nas eleições para governadores e
constituintes de novembro e, em seguida, o castelo de cartas se desmoronou. Daí
para frente a única coisa que o presidente fez, além de dar expediente no
Palácio do Planalto, foi tentar evitar que a Constituinte diminuisse seu
mandato para quatro anos. Conseguiu cinco. E nesses três anos seguintes o país
foi ladeira abaixo.
Dilma
está nesta situação. Ela dá expediente no Palácio do Planalto, mas seu governo
acabou. Sua nova matriz econômica foi para ela o mesmo que o Cruzado para
Sarney, mas desmoronou igualmente. Ela não tem nenhuma liderança política,
nenhuma capacidade de fazer nada de bom para o país nos próximos três anos. Se
ela tivesse um surto de lucidez e generosidade faria suas malas e iria embora
para casa. A estas alturas a renúncia é a única maneira digna para todos para
por fim ao pesadelo no qual o governo do PT se transformou. No entanto parece
difícil que a presidente tome a iniciativa. Por isso manifestações como as de
ontem por todo o país são tão importantes. É preciso dar um empurrãozinho para
ajudá-la a se decidir. E se ela não o fizer os brasileiros devem pressionar
seus representantes para que avancem com o impeachment. Do contrário vejam o
que foram os três últimos anos do governo Sarney para ter uma idéia do que nos
espera.
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