Quando
Dilma foi reeleita em 2014 fiquei muito frustrado. Como escrevi aqui,
considerava o governo dela um desastre e não tinha esperança de que um segundo
mandato fosse ser diferente. Achava que o país merecia algo melhor. Quase dois
anos depois e em vista do ocorrido neste meio-tempo, mudei de opinião: ainda
bem que Aécio não ganhou as eleições.
Em 2014
era previsível que o novo presidente fosse ter muitas dificuldades com a
economia, pois seria difícil pôr ordem na casa. Os problemas tinham se
acumulado e a presidente deixou as mudanças para depois das eleições, numa
repetição do que fizeram Sarney e o PMDB com o Cruzado em 1986. No entanto, não
dava para imaginar que o estrago fosse tamanho e que o país estivesse à beira
de entrar na sua pior recessão em oitenta anos.
O mesmo
pode ser dito do petrolão. No segundo semestre de 2014 já havia denúncias
surpreendentes e alguns figurões presos. Naquele momento a esquerda acusava a
imprensa de golpista e de estar publicando denúncias vazias, falsas, para melar
o resultado das eleições. Bueno, de lá para cá não só as denúncias têm se mostrado
corretas, como o que veio à luz é muito pior do que se poderia
imaginar. O governo petista operou o maior esquema de corrupção de que se tem
notícia na história do país.
A soma de
ambas coisas, mais a queda vertiginosa da aprovação da presidente, resultaram
em protestos que tomaram conta do país e que sustentaram politicamente o seu
impeachment. Houve um intervalo de quase dois anos entre a eleição e o
afastamento da presidente. Foi um tempo necessário. Se Aécio tivesse ganho as
eleições a recessão teria acontecido do mesmo jeito. Ele poderia tê-la enfrentado
antes e com outros remédios, mas não poderia tê-la evitado. O mesmo se pode
dizer das investigações do petrolão. Teriam seguido o seu rumo.
Ambos
fatos teriam permitido à esquerda criar uma narrativa extremamente tóxica, que
faria muito dano, não só ao PSDB, mas ao Brasil. Eles poderiam dizer que bastou
os tucanos voltarem ao governo para o país entrar em recessão. Pior, poderiam acusá-los
de perseguir petistas, manipulando as investigações dos casos de corrupção.
Nenhuma das duas narrativas seria verdadeira, mas ambas teriam um imenso
potencial de “pegar”, de serem aceitas como fatos reais e de serem repetidas
indefinidamente. Com a vitória de Dilma em 2014, não só a recessão estourou no
seu colo, como não dava para acusar a oposição pelas investigações do
Ministério Público ou da Polícia Federal.
Mas isso
foi antes. Depois de deixar passar um tempo prudencial, na quinta-feira passada
o PT organizou um ato em São Paulo que, para variar, chamou de defesa da
democracia. Eles poderiam ser mais transparentes e chamá-lo de ato em defesa
própria. Era o lançamento da campanha “Por um Brasil justo para todos e pra
Lula”. O objetivo é denunciar a campanha de demonização do ex-presidente Lula,
que segundo eles é acusado injustamente por crimes que não cometeu. Ao invés de
trazerem fatos para justificar a inocência de Lula, resolveram partir para o
ataque dos que o denunciam. Estão só a um passo de dizer que o novo governo
está usando a máquina do Estado para persegui-los politicamente.
Quanto
tempo vai demorar para também passarem a atacar o novo governo pelos maus
resultados na economia? Mesmo que o país tivesse parado de contrair no terceiro
trimestre, o que é improvável, ainda assim a arrecadação continuará a
cair e o desemprego continuará a aumentar por um tempo. Depois, quando a
economia começar a crescer, ainda vai demorar entre seis meses e um ano para os
investimentos aumentarem, as empresas voltarem a contratar e a arrecadação
voltar a subir. Só em meados de 2018 os brasileiros vão começar a perceber
alguma melhora na situação econômica, mesmo que os indicadores tenham se
tornado positivos desde muito antes. Não vai demorar muito para que os
ex-ocupantes do poder tentem jogar a culpa do desastre econômico que eles
criaram na conta do presidente Temer.