quinta-feira, 30 de julho de 2009

ASAMG - Não quer que eu volte!

Tem dias que acordo com síndrome de Sebá. Gente da minha geração ainda se lembra do Jô Soares no papel do último exilado brasileiro em Paris, que toda semana ligava para sua amada Madalena, quem lhe contava as novidades do Patropi - ou será melhor dizer Bananão? Diante dos absurdos que Madá contava, Sebá chegava à conclusão que ela só poderia estar mentindo, teria arrumado um amante. "Amancebou-se, não quer que eu volte", era o mote do incrédulo Sebá. Nos tempos atuais, ao Jô não faltaria assunto para os telefonemas de Sebá.

Pois, quem te viu e quem te vê. Lula defendendo Sarney com unhas e dentes. Sarney, este grande democrata! Será que Lula se esqueceu que durante a ditadura Sarney era o presidente da ARENA, o partido dos militares? E se não bastasse este estranho amor, agora na tropa de choque do lulismo aparece um novo aliado: ninguém menos que o ex presidente que tem (ou tinha?) aquilo roxo. Dom Fernandinho. Lula tem um projeto político, que nem sequer é um projeto de país, e está disposto a vender a alma ao diabo com o fim de manter o poder. Está pressionando seu partido para fazer todas as alianças que forem necessárias com o intuito de eleger sua candidata à sucessão. Compatibilidade ideológica? Quem está interessado nisso?

Às vezes chego a ter pena de amigos petistas, gente do bem e idealista, que realmente sonhou com um país melhor e acreditou na balela de que os políticos do Partido dos Trabalhadores seriam anjos, gente desinteressada, abnegada e incorruptível. Essa gente tem passado por cada saia justa, que dá dó. Quer dizer que agora o PT não tem um nome para lançar como candidato a governador em São Paulo e portanto deve apoiar o Ciro Gomes, um político de fora do estado e totalmente alheio à sua política? O PT paulista não tem gente à altura? A que ponto chegamos - melhor dito, a que ponto chegaram!

No meio disso tudo chega a ser deprimente ver o papel que o partido da oposição ao regime militar tem desempenhado. Virou um partido sem programa, só com interesses pessoais. É o partido disposto a apoiar qualquer um que esteja no poder, com o fim único de garantir o seu. Virou a Geni da política brasileira, o partido que dá para qualquer um. O que não entendo é que ainda haja eleitores que votem nesta gente.

Todos os dias há denúncias de escândalos, desmandos, nepotismo. É bom que haja denúncias e nem sequer significa que haja mais malfeitoria - de entrada só quer dizer que há maior visibilidade no que está mal. O duro não são as denúncias, é a banalização do mal. É não querer que a CPI da Petrobrás funcione, como se uma CPI dessas fosse algo anti-patriótico. Quem disse que a Petrobrás e os seus dirigentes estão acima do bem e do mal? E quando vai haver uma explicação convincente para o recente afastamento da responsável pela Receita Federal? Nos jornais lê-se especulações que ela teria sido afastada porque quis fiscalizar a Petrobrás e outras grandes empresas com mais rigor. Um ano e pouco antes das eleições, não convinha fiscalizar as empresas que também serão os grandes doadores para a campanha eleitoral. Será esta a verdade?

O mais incrível é quem tenta explicar o inexplicável. De porque os escândalos no Senado não são nada, de porque a aliança com o PMDB é fundamental, porque Ciro Gomes é uma boa opção para São Paulo e um longo etcetera. Na época do mensalão nem a musa filósofa da esquerda brasileira teve vergonha de dizer as mais disparatadas asneiras para defender o indefensável. Até dizer que quando o Lula fala o mundo se ilumina ela disse. Merecidamente em certos círculos a companheira-filósofa foi rebatizada de Maria Emília, a segunda marquesa de Rabicó. Uma justa homenagem à personagem do Monteiro Lobato.

Cazuza foi um visionário quando cantou que "transformam o país inteiro num puteiro, porque assim se ganha mais dinheiro". É, há muitas piscinas cheias de ratos, muitas idéias que não correspondem aos fatos. Só nos resta esperar que os eleitores ponham todas estas damas e cavalheiros nos seus devidos lugares. Já o Sebá coitado, se ainda estiver vivo e em Paris, continuará dizendo:

"Amancebou-se!"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ASAMG - O País do Futuro II

Na semana passada argumentava que ao Brasil falta uma visão de futuro. Durante muito tempo nós nos vimos e fomos vistos como o país do samba e do futebol. É uma visão simpática, mas que não trouxe nem desenvolvimento nem felicidade. É uma concepção de país ultrapassada. Podemos e devemos aspirar a muito mais.

Como queremos chegar ao ano 2050? Pensar nesta pergunta e respondê-la é um primeiro passo para desenvolver uma nova visão. Há respostas que são óbvias, como dizer que queremos ser um país desenvolvido, rico ou justo. Mas são genéricas demais, basicamente porque isso todo mundo quer. Uma visão deve ao mesmo tempo explicitar o que consideramos mais importante e o que nos diferenciaria dos demais países.

Talvez seja mais fácil começar pelo que não seremos em 2050, ou por não podermos ou por não querermos: não seremos o país mais rico do mundo, por nenhum critério, porque não há possibilidade real de crescer suficientemente mais rápido que aqueles que já estão à nossa frente a ponto de ultrapassá-los; tampouco seremos a maior potência militar; talvez fosse possível almejar ser a maior potência militar da América Latina ou até do Hemisfério Sul, mas que vantagem Maria levaria? Dificilmente seremos o maior pólo cultural do planeta ou um líder tecnológico.

Se é assim, a que podemos aspirar? Desde logo, podemos construir sobre as bases que já temos. Uma vez li uma entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na qual afirmava que a grande bandeira da sua geração foi a democracia. Essa seria uma boa base para começar. O Brasil não deveria nunca renunciar a ser uma nação democrática. Ao contrário, temos tudo para aspirar a ser um dos países mais democráticos do mundo. Há muito que pode ser melhorado na nossa democracia, mas hoje ela já está bastante bem estabelecida. Defender os princípios democráticos como um valor irrenunciável e promover as reformas que melhorem o seu funcionamento deveriam ser parte de nossa visão para o ano 2050.

Outra base muito sólida é a nossa economia. Nos últimos vinte anos superamos muito do besteirol dos anos cinqüenta e sessenta do século passado que impediam o país de crescer. Hoje temos estabilidade e um sistema capitalista que funciona cada vez melhor. Apostar no desenvolvimento através do funcionamento do capitalismo, com todas as suas conseqüências, pode ser também uma maneira de conseguir o crescimento acelerado que permita dar grandes saltos nas questões sociais e no desenvolvimento humano. Não é mera coincidência que todas as nações mais desenvolvidas do mundo sejam capitalistas. Nós deveríamos deixar de hesitar em dar também este passo.

Por fim há algo que diferencia o Brasil de todos os demais países: a floresta amazônica. É um patrimônio que temos que defender como nosso e ao mesmo tempo saber explorar inteligentemente. Isso implica uma preocupação ecológica que pode e deve ser estendida a todo o país. Não vejo porque não podemos aspirar a ser vanguarda na preservação do meio ambiente. Podemos querer crescer e ser ricos e ao mesmo tempo fazê-lo de forma sustentável. Não tem sido a nossa história e mudar nosso comportamento tem custos, o primeiro deles econômico, mas tem também benefícios, principalmente a longo prazo.

Se me perguntassem qual é a minha visão para o Brasil no ano 2050, diria sem titubear: gostaria que nós fôssemos a maior e mais ecológica democracia capitalista do planeta. Que deixássemos de ser o país do samba e futebol e passássemos a ser o país da liberdade e da natureza. Com essa visão definida, depois o resto é conseqüência: os valores básicos, as prioridades, o modelo de desenvolvimento. Seria muito mais simples articular projetos de longo prazo que fossem coerentes entre si e que nos levassem ao objetivo final.

Pela minha idade, é possível que ainda esteja vivo quando chegarmos à metade deste século. Ficaria feliz se o Brasil tivesse esta face. Também morreria mais otimista com o legado da minha geração. Qui vivra, verra!