Na semana passada argumentava que ao Brasil falta uma visão de futuro. Durante muito tempo nós nos vimos e fomos vistos como o país do samba e do futebol. É uma visão simpática, mas que não trouxe nem desenvolvimento nem felicidade. É uma concepção de país ultrapassada. Podemos e devemos aspirar a muito mais.
Como queremos chegar ao ano 2050? Pensar nesta pergunta e respondê-la é um primeiro passo para desenvolver uma nova visão. Há respostas que são óbvias, como dizer que queremos ser um país desenvolvido, rico ou justo. Mas são genéricas demais, basicamente porque isso todo mundo quer. Uma visão deve ao mesmo tempo explicitar o que consideramos mais importante e o que nos diferenciaria dos demais países.
Talvez seja mais fácil começar pelo que não seremos em 2050, ou por não podermos ou por não querermos: não seremos o país mais rico do mundo, por nenhum critério, porque não há possibilidade real de crescer suficientemente mais rápido que aqueles que já estão à nossa frente a ponto de ultrapassá-los; tampouco seremos a maior potência militar; talvez fosse possível almejar ser a maior potência militar da América Latina ou até do Hemisfério Sul, mas que vantagem Maria levaria? Dificilmente seremos o maior pólo cultural do planeta ou um líder tecnológico.
Se é assim, a que podemos aspirar? Desde logo, podemos construir sobre as bases que já temos. Uma vez li uma entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na qual afirmava que a grande bandeira da sua geração foi a democracia. Essa seria uma boa base para começar. O Brasil não deveria nunca renunciar a ser uma nação democrática. Ao contrário, temos tudo para aspirar a ser um dos países mais democráticos do mundo. Há muito que pode ser melhorado na nossa democracia, mas hoje ela já está bastante bem estabelecida. Defender os princípios democráticos como um valor irrenunciável e promover as reformas que melhorem o seu funcionamento deveriam ser parte de nossa visão para o ano 2050.
Outra base muito sólida é a nossa economia. Nos últimos vinte anos superamos muito do besteirol dos anos cinqüenta e sessenta do século passado que impediam o país de crescer. Hoje temos estabilidade e um sistema capitalista que funciona cada vez melhor. Apostar no desenvolvimento através do funcionamento do capitalismo, com todas as suas conseqüências, pode ser também uma maneira de conseguir o crescimento acelerado que permita dar grandes saltos nas questões sociais e no desenvolvimento humano. Não é mera coincidência que todas as nações mais desenvolvidas do mundo sejam capitalistas. Nós deveríamos deixar de hesitar em dar também este passo.
Por fim há algo que diferencia o Brasil de todos os demais países: a floresta amazônica. É um patrimônio que temos que defender como nosso e ao mesmo tempo saber explorar inteligentemente. Isso implica uma preocupação ecológica que pode e deve ser estendida a todo o país. Não vejo porque não podemos aspirar a ser vanguarda na preservação do meio ambiente. Podemos querer crescer e ser ricos e ao mesmo tempo fazê-lo de forma sustentável. Não tem sido a nossa história e mudar nosso comportamento tem custos, o primeiro deles econômico, mas tem também benefícios, principalmente a longo prazo.
Se me perguntassem qual é a minha visão para o Brasil no ano 2050, diria sem titubear: gostaria que nós fôssemos a maior e mais ecológica democracia capitalista do planeta. Que deixássemos de ser o país do samba e futebol e passássemos a ser o país da liberdade e da natureza. Com essa visão definida, depois o resto é conseqüência: os valores básicos, as prioridades, o modelo de desenvolvimento. Seria muito mais simples articular projetos de longo prazo que fossem coerentes entre si e que nos levassem ao objetivo final.
Pela minha idade, é possível que ainda esteja vivo quando chegarmos à metade deste século. Ficaria feliz se o Brasil tivesse esta face. Também morreria mais otimista com o legado da minha geração. Qui vivra, verra!
sexta-feira, 3 de julho de 2009
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