Desde segunda feira chove torrencialmente no Rio de Janeiro. A cidade ficou inundada, muitos pontos viraram um mar de lama, houve deslizamentos, mortes, caos no trânsito, a cidade maravilhosa virou notícia no mundo pelo desastre natural e a precariedade de suas infra-estruturas.
A quantidade de chuva na segunda foi recorde e anormal, tanto na sua intensidade como duração. Diante de um evento pouco provável de acontecer, porque nunca havia acontecido antes, não dá para reclamar que a infra-estrutura não estivesse preparada para absorvê-lo. Infra-estrutura urbana custa dinheiro, portanto deve ser dimensionada para o que é esperado, não para o pior caso possível. Mas mesmo fazendo esta ressalva, não há como escapar do óbvio: o Rio é, há muito tempo, uma cidade decadente. Faz mais de trinta anos que viajo com frequência para lá e o seu deterioro é visível a olho nu. Dá uma enorme tristeza.
Há muitas explicações para a débâcle carioca. Uma das mais importantes é a estranha capacidade dos seus eleitores de escolher sucessivamente péssimos prefeitos e governadores (ouço que o atual governador seria uma exceção na longa lista de desastres, mas não tenho elementos para emitir uma opinião). No entanto a causa mais direta para a decadência do Rio foi sem dúvida a construção de Brasília. Muitos amigos riem quando digo que a nova capital foi o pior erro da história da República. Existe até uma geração de brasileiros que considera Brasília o símbolo do Brasil potência, o retrato dos anos dourados. Pessoalmente duvido que o custo, passado e presente, financeiro ou intangível, tenha sido compensado pelos eventuais benefícios da nova capital. O maior e mais visível dano colateral é o abandono do Rio, deixado à sua própria sorte.
Enquanto capital, a economia carioca girava em torno dos gastos do governo e da legião de funcionários públicos que moravam na cidade. Depois de Brasília essa fonte de recursos foi minguando e o Estado não soube desenvolver nenhuma fonte alternativa de riquezas. No fundo o Rio ainda não deixou de ser uma cidade de funcionários públicos, ainda que agora a maioria sejam aposentados. Sem uma vigorosa iniciativa privada, capaz de gerar empregos e dinamizar a economia local, vai ser difícil pensar num futuro decente para a cidade.
O Rio foi capital da colônia, sede provisória da Coroa Portuguesa, depois do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, capital do Império e capital da República. Sua incomparável beleza paisagística (é considerada uma das quatro cidades mais bonitas do mundo) transformou-a no cartão postal do Brasil. Foi e, apesar de tudo continua sendo, o nosso maior ativo. Como explicar que o país deixe perder-se o que tem de melhor e mais atraente? É um desperdício que não tem sentido.
A perspectiva dos Jogos Olímpicos em 2016 é uma esperança para os que gostaríamos de ver o Rio passado a limpo. Espero que os próximos governos, tanto estadual como federal, invistam pesado em infra-estrutura e reparem parte do mal feito há meio século. O Brasil merece que seja assim. Mas as olimpíadas sozinhas não vão resolver todos os problemas. Aliás, poucas cidades conseguiram se reinventar ao sediar os Jogos, como fez Barcelona em 1992. É preciso mais do que simplesmente gastos governamentais. O Rio tem que se tornar capaz de andar com as próprias pernas. Deveria encontrar sua vocação econômica, para poder ser viável. Não é impossível, mas certamente não se fará com demagogia e as idéias envelhecidas da esquerda Carolina, a que não viu o tempo passar na janela. O desastre dos últimos dias deveria ser um despertador que nos lembrasse tudo que há de precário e insustentável na cidade.
Enquanto isso, no final do mês Brasília completará cinquenta anos. Parece que vai haver grandes comemorações, pagas com o dinheiro dos nossos impostos. Há mesmo algo para comemorar?
quinta-feira, 8 de abril de 2010
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