quinta-feira, 21 de julho de 2011

ASAMG - Maturidade Política

A manchete de hoje dos jornais espanhóis é sobre a renúncia do presidente da Comunidade Valenciana ao cargo para o qual foi reeleito em Maio. As comunidades autônomas na Espanha são o equivalente dos estados brasileiros. A Comunidade Valenciana é uma das mais importante do país, depois de Madrid e Catalunha. Francisco Camps, o ex-presidente, renunciou por ter sido acusado num processo de corrupção. Seu crime: supostamente aceitar que terceiros (estes sim, suspeitos de malfeitorias muito maiores) lhe pagassem meia dúzia de ternos que mandou fazer sob medida em Madrid. O valor dos ternos é estimado em aproximadamente três mil Euros.

Camps não precisava ter renunciado. Caso tivesse se declarado culpado evitava o julgamento e pagaria uma multa pecuniária de valor irrisório para um político do seu quilate. É verdade que seria o primeiro presidente de uma comunidade autônoma a governar depois de se declarar culpado de um crime, algo considerado uma vergonha, mas até certo ponto um mal menor. O que o líder do seu partido não aceitava, no entanto, é que se declarasse inocente e fosse a julgamento. Tudo indica que o partido de direita, o PP ao qual Camps é filiado, vai ganhar as próximas eleições gerais. Sua imagem sentado no banco dos réus acusado de corrupção prejudicaria o seu partido e a campanha de Mariano Rajoy. Rajoy é dado por muitos como futuro primeiro ministro espanhol. Para chegar lá só tem que evitar os erros e danos de imagem, como a de um julgamento de político de seu partido.

O ex-presidente valenciano preferiu declarar-se inocente e ao mesmo tempo renunciar ao seu cargo, para poder defender-se com maior liberdade e sem comprometer o PP. A necessidade da renúncia não era em absoluto legal, era política. Analistas de diversas tendências eram unânimes em afirmar que o eleitorado puniria o PP se aceitasse manter Camps na presidência da Generalitat mesmo depois de tornar-se réu de um processo de corrupção. Vejam bem, o problema é ser réu, não há certeza que seja condenado. O valor minúsculo do seu suposto crime tampouco pesou no desfecho dessa história que se arrasta há dois anos.

Nada mais distante da triste realidade da política brasileira! Nas últimas semanas vemos na imprensa denúncias de indícios de corrupção no Ministério dos Transportes. Todos os valores citados são sempre de dezenas de milhões de reais. Quando a presidente Dilma decide fazer limpeza na pasta, é elogiada pela sua decisão. Claro que é preciso limpar, mas o que surpreende é que o governo seja elogiado por "atuar rápido" e não haja uma indignação generalizada por mais este caminhão de suspeitas de corrupção grossa sob governo petista. E qual vai ser o próximo escândalo? Nós, o distinto público, ficamos com a sensação de que nunca antes houve tanta corrupção na história desse país como sob o petismo.

Por muitíssimo menos em 1992 a esquerda foi para a rua, pintou a cara e não parou de protestar até conseguir o impeachment do então presidente Collor. Quando os detalhes do mensalão começaram a vir à tona ao invés de reagir com a mesma indignação diante de fatos muito mais graves os ex-cara-pintadas protestavam contra a "tentativa de golpe" contra o presidente Lula. Foram ditas as bobagens mais bizantinas para tentar explicar e justificar o injustificável, até a pérola dita pela segunda marquesa de Rabicó de que quando Lula falava o mundo se iluminava...

Os escândalos se sucedem uns aos outros e não se vê os eleitores punindo os principais responsáveis. Apesar do mensalão, Lula foi reeleito; para sua sucessão ele agiu como o Putin na Rússia, um país pouco democrático, e conseguiu eleger o poste político que impingiu ao seu partido; o escândalo do MT, que vem de sua época na presidência, para nada arranhou seu prestígio; se for candidato em 2014 provavelmente se elegerá fácil. Apesar do enorme risco de caudilhismo que ele representa, e de todos os escândalos de corrupção dos últimos anos, o eleitor parece estar muito longe de querer aposentá-lo.

Ontem deu inveja da Espanha. O Brasil ainda tem que caminhar muito até se tornar uma democracia madura.

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