quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ASAMG - Tenta de Novo

Ontem o IBGE publicou a (não) variação do PIB no terceiro trimestre. Segundo o instituto ficou no zero a zero, a economia nem cresceu nem encolheu. Um resultado conveniente demais. Pessoas desconfiadas como eu não acreditam nem em coincidências nem em números convenientes. Fazia quase dois meses que surgiam, de vez em quando, informações que indicavam que provavelmente a economia teria contraído entre Julho e Setembro. O número mais citado era queda de 0,3% no PIB. Se tivesse sido confirmado, teria sido uma chatice para o governo, principalmente porque a desaceleração continua no quarto trimestre e dois trimestres consecutivos de retração configuram uma recessão técnica. Com o resultado de ontem esse risco ficou adiado por ao menos três meses.

Não sei como é feito o cálculo do PIB, do ponto de vista prático. No entanto suponho que nas contas se tenha que fazer muitas hipóteses, devido à não disponibilidade de dados reais. Também deve haver projeções com margens maiores ou menores de erro. Por essa razão os resultados são revisados até dois anos depois de publicados. Não acontece só no Brasil, é assim por toda parte. No Brasil dos últimos anos, no entanto, o IBGE quando erra o faz de forma conveniente ao governo. Se para chegar ao resultado de ontem houve alguns elementos que foram estimados, pergunto aos meus botões se em algum momento alguém deu um jeitinho para ajustar o número final. O futuro dirá...

A evolução do PIB é um dado que dá muito que falar. Por isso mesmo do ponto de vista da propaganda, do governo ou da oposição, decimais a mais ou a menos, transformando um número de negativo em positivo ou vice-versa faz muita diferença. Para a economia, no entanto, esses decimais contam muito pouco. O que interessa é o quadro geral e a foto do quadro geral é muito triste: crescimento de 7,5% em 2010 (a ser confirmado) e estagnação no segundo semestre de 2011. Ninguém no governo Dilma vai nunca admitir, mas essa é a verdadeira herança maldita do governo anterior.

Lula pisou no acelerador do gasto público no seu último ano de governo. Certamente queria tanto deixar um bom sabor de boca, na sua despedida, como ajudar a eleger a sua candidata. Não há melhor cabo eleitoral do que uma economia bombando. Fazer a economia crescer na base do gasto público é uma mágica fácil, qualquer um sabe fazer. O duro é que um dia há que pagar a conta. Dilma, corretamente, tirou o pé do acelerador e a economia parou. Para maior azar, a conjuntura externa é desfavorável e deixou de dar a ajuda que deu em sete dos oito anos de governo Lula.

Mas esse não é o único cadáver no armário. A inflação deve fechar o ano beirando os 6,5% do limite da meta. Ajustar o dado da inflação é muito mais difícil. De novo vai haver a guerra dos decimais, como se uma inflação de 6,4% fosse aceitável e 6,6% fosse alta demais. A realidade é que inflação por volta de 6,5% já é alta demais, independentemente de estar dentro da meta ou não. Muito pior, é um número que evolui mais facilmente para cima do que para baixo. E nesse ponto o novo governo está fazendo uma aposta ainda mais arriscada, para não dizer irresponsável: abriu mão da política monetária e confia que o dragão da inflação vai abrandar graças a menos gasto público e à menor atividade econômica. Pode dar certo, mas o mais provável é que dê errado.

2012 é ano eleitoral. Dilma não tem nem a habilidade política do seu antecessor, muito menos a mesma capacidade de comunicação. A doença do ex-presidente tampouco veio ajudar o governo. É de se esperar que haja a tentação de voltar a aumentar o gasto público para reanimar uma economia que deve marcar passo no primeiro semestre. Seria a receita mais rápida para perder o controle da inflação. Para os tais desenvolvimentistas a opção é clara: mais vale crescer do que ter estabilidade de preços.

Eis um falso conflito. A escolha entre inflação e crescimento não é real, muito menos uma fatalidade. Há alternativas de maior alcance a longo prazo. Basta fazer as reformas estruturais que o Brasil tanto precisa e abandonar parte do besteirol desenvolvimentista. Dá pena ver que ninguém mais fala na reforma fiscal. Reforma previdenciária é vitupério. Privatizações, por enquanto nem as inevitáveis dos aeroportos de São Paulo, Campinas e Brasília. Comprometer-se com déficit público zero (depois de pagar os juros) ninguém nem cogita. Simplificar a vida das empresas e apoiar os empreendedores é papo de marciano.

Nesse aspecto o governo Dilma parece que vai ser perda de tempo, tal como o governo Lula o foi. É o pior lado dos governos do PT, mais daninho até do que a corrupção. Não reformam porque não enxergam nem a necessidade nem as vantagens. Pagam a conta todos os brasileiros, pelo tempo e oportunidades perdidos. Nenhum dos dois pode ser recuperado.

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