No domingo passado voltei de São Paulo para a França. Por volta de cinco da tarde recebi um telefonema da minha prima, que acabara de chegar do interior pela via Dutra. Ela me avisava que na saída para Cumbica havia um enorme congestionamento, uma grande confusão e um monte de gente por toda parte. Não sabia qual era a razão, mas me recomendava que fosse para o aeroporto mais cedo, just in case.
Meu avião saía às 23:25. Já tinha previsto chegar ao aeroporto com três horas de antecedência. Ponderei que, qualquer que fosse a causa para o congestionamento em Guarulhos, até às oito da noite deveria estar resolvido e portanto três horas de antecedência deveriam ser mais que suficientes.
Tinha só em parte razão. Quando o ônibus que me levava de Congonhas a Cumbica se aproximou do aeroporto ainda havia algum trânsito no sentido em que íamos. No entanto, na pista contrária estava completamente parado. Havia dezenas de ônibus de turismo estacionados no acostamento, à espera de passageiros que saíam não se sabe de onde, invadiam a pista, criavam a maior confusão. Note-se que é proibido estacionar ou parar no acostamento naquele local, mas tal fato foi olimpicamente ignorado tanto pelos motoristas como aparentemente pelas autoridades de trânsito, cuja presença no local parecia irrelevante.
No aeroporto também havia muita gente. Tentei saber o que tinha acontecido para haver aquela multidão na estrada, mas ninguém soube dizer ao certo. Mas ouvi muitas estórias de carros e ônibus parados por até duas horas e centenas de passageiros que perderam seus vôos. Bom, não seria o meu caso, pensei, pois pude fazer rapidamente meu check in. Mais uma vez, tinha razão só em parte: a fila para passar pelo controle de segurança e de passaportes dava muitas voltas e de novo havia um enorme bololô. Amigos já tinham me contado que nas férias de Julho esse fenômeno acontece, mas só sofrendo na própria carne dá para ter uma idéia do terceiro-mundismo da situação.
Não cronometrei, mas devo ter perdido mais de uma hora e meia até chegar ao controle de segurança. A situação era piorada pela má educação ou inconsciência de muitos usuários. Tinha gente que furava fila por convicção, outros o faziam para não perder o avião. Às vezes um único passageiro ia viajar, mas estava acompanhado por n parentes e amigos que faziam fila com ele e ajudavam a aumentar o caos. Quando chegavam ao ponto em que já não podiam continuar na fila, esses acompanhantes ficavam se acumulando nos arredores até seu viajante desaparecer de vista. Era desesperador.
No dia seguinte, ao chegar em Paris, procurei pela internet explicação para o caos reinante no dia anterior. O problema do trânsito tinha sido devido à inauguração de um mega-templo da Igreja Universal em Guarulhos. A autorização para a construção do templo foi dada sem que ninguém se preocupasse em como os fiéis iriam chegar e partir do local de culto. Como não havia infra-estrutura adequada, os ônibus pararam onde puderam e foi o salve-se quem puder. Some-se à incompetência de quem autorizou a construção do templo a omissão das autoridades de trânsito, que foram incapazes de controlar a situação. Pior ainda, uma vez a desordem instaurada, o mínimo que se podia esperar era que multassem as centenas de veículos estacionados em local proibido. Seria interessante saber quantas multas foram passadas. Se tivesse que apostar num número, apostaria em zero.
Quanto ao caos do embarque internacional, não havia nem uma linha. Tinha sido um dia normal na vida de Cumbica. Simplesmente o aeroporto está operando muito acima da sua capacidade e em horas de ponta criam-se gargalos difíceis de resolver. O que choca é que o problemas não é recente, mas vem-se arrastando há anos. Conforme aumenta o número de passageiros a situação piora. A Infraero, a estatal responsável pelos aeroportos brasileiros, mostra-se completamente incapaz de resolver o problema, em São Paulo ou no resto do país.
Não se trata só de uma questão de desconforto para os passageiros, que afinal pagam pelo serviço. Tampouco é só o fato de darmos uma péssima imagem aos estrangeiros que chegam ou partem do país. Ou que em menos de dois anos haverá um mega-evento esportivo e já ficou tarde demais para fazer os investimentos que seriam necessários. Aeroporto é uma infra-estrutura fundamental nas economias atuais. Aeroportos podem ajudar a criar riquezas ou dificultar a sua criação. O descaso governamental com os aeroportos brasileiros não é só incompetência, é também burrice. Porque nem o governo ou a Infraero fazem o que deviam fazer, nem deixam que a iniciativa privada o faça.
Não sei por quantas dezenas de aeroportos já transitei na vida, espalhados por países ricos e pobres nos cinco continentes. Minha última experiência em São Paulo me diz que hoje Cumbica está entre os três piores aeroportos que conheci em cidades grandes. Mais que uma vergonha, é uma pena que seja assim!
domingo, 8 de janeiro de 2012
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