Nas três
últimas semanas as manifestações populares tomaram as ruas de dezenas de cidades
brasileiras e o Brasil foi notícia no mundo inteiro. Um aumento de passagem no
transporte público, somado à repressão dura da PM contra uma das manifestações
em São Paulo, tiveram o efeito de estopim em barril de pólvora.
É verdade
que o descontentamento e as reivindicações eram difusas, os manifestantes
insistiam em se dizer apartidários e muita gente foi pega de surpresa e não
sabia explicar exatamente o que estava acontecendo. Mas quando há
descontentamento geral, quem mais tem a perder são os políticos e governantes
do momento. E como o movimento ganhou rapidamente caráter nacional, os mais
vulneráveis são o executivo e o legislativo nacional. O judiciário é visto como
potencial aliado graças à sua atuação no processo do mensalão, mas mesmo esse
merecido bônus pode se diluir de um dia para o outro se os ventos e a percepção
mudarem. Como é o PT, PMDB e aliados que estão no governo e são maioria no
Congresso nos últimos dez anos, são eles os que mais têm a perder com essa
situação.
Visto a
dez mil Kms de distância, com o viés da imprensa brasileira e européia onde me
informo e da opinião dos amigos com quem pude conversar, a impressão que tenho
é de que há muito protesto de classe média e classe média-alta no ar. Ambas
viveram anos dourados com Lula e essa lua-de-mel acabou faz tempo. É mais fácil
ser indiferente ao mensalão e outras aberrações em tempos de vacas gordas do
que de vacas magras. O que me intriga é o que estará pensando a maioria
silenciosa sobre o assunto. Qual será a reação da imensa classe média baixa e
pobre diante do mísero crescimento econômico, inflação alta e absurdos vários
protagonizados pelos nossos políticos? Seguirão dando apoio a Dilma e ao PT?
Tem uma
certa graça ver o PT provando do próprio remédio. Nos últimos trinta anos foram
eles que levaram os manifestantes às ruas e nem sempre por uma boa causa. Deve
bater um certo desespero entre os que se acostumaram a organizar protestos e de
repente viraram vidraça dos protestos dos outros. Ainda mais que desta vez não
uns contra os outros, não há um explícito conflito jogando parte da sociedade
brasileira contra outra parte. O pouco que há de agenda é comum e une os
manifestantes.
Ontem o
Datafolha publicou os dados de sua mais recente pesquisa. A popularidade da
presidente caiu drasticamente. Em um trimestre a avaliação do seu governo
passou de 65 % que consideravam bom ou ótimo a tão só 30 %. A maioria dos
analistas se pergunta se ela vai ficar nesse patamar ou voltar a subir. Para
mim o mais intrigante é saber porque até bem pouco tempo ela ainda tinha 65 %
de aprovação. Esse governo é ruim, é difícil dizer uma coisa boa que tenha
feito, o país está patinando e colhendo resultados piores que países
comparáveis. Porque Dilma tinha 65 % de aprovação? Não encontro outra
explicação a não ser inércia. As manifestações ao longo e largo do país
funcionaram como catalisador de uma queda de popularidade que tinha começado
antes. É como se alguém tivesse gritado que o rei está nu. E quando isso
acontece, dificilmente há volta atrás.
Quando estourou
a crise de 2008/2009, os gurus da esquerda planetária decretaram o fracasso das
políticas que chamam, com e sem razão, de neoliberais e vaticinaram vitórias
eleitorais de partidos de esquerda em todo o mundo democrático. Não foi bem
isso que se viu. Na realidade governos que souberam lidar com a crise e se saíram
bem foram re-eleitos. Os que se saíram mal perderam as eleições. Tanto governos
de direita foram substituídos por governos de esquerda (França, por exemplo),
como o contrário (Portugal, Espanha e Reino Unido, entre outros).
No Brasil Lula conseguiu um crescimento de 7,5 % em 2010, depois da recessão de 2009. A
maioria do eleitorado não se importou que a mágica fosse à custa de gasto
público e que portanto não pudesse perdurar. O sentimento positivo foi
suficiente para que Dilma ganhasse a eleição. Não vai ser assim em 2014.
Provavelmente o eleitor vai chegar a outubro do ano que vem com mal estar
econômico. Some-se o risco de problemas durante a Copa, com manifestações
semelhantes às das últimas semanas, e o cenário parece desolador.
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