Na semana
passada o IBGE deu uma má notícia aos brasileiros: o PIB cresceu apenas 0,6% no
primeiro trimestre, bastante abaixo das expectativas tanto do governo como do
mercado. No dia seguinte o Banco Central aumentou a taxa de juros, a Selic, em
0,5%, o dobro do aumento anterior. Trata-se de um reconhecimento tácito de que
a inflação não está sob controle, como muitos querem fazer crer.
O mau
desempenho do PIB só foi uma surpresa para a velhinha de Taubaté e para quem não
segue a conjuntura econômica brasileira e mundial. A diferença agora é que a
ficha começa a cair. Aqui na Europa há cada vez mais reportagens sobre a
estagnação da economia brasileira. Amigos e conhecidos, que até pouco tempo se
surpreendiam quando lhes dizia que a economia tinha parado em meados de 2011, agora
vêm me perguntar o que está acontecendo. O Brasil está deixando de ser o
queridinho na América Latina e isso é má notícia.
Para a
presidente Dilma e seu partido as coisas começam a se complicar. A perspectiva
de crescimento para este ano é bastante medíocre: não deve passar de 2 %. E no
ano que vem, sendo otimistas, 3%. Em ambos casos é 2 % menos do que previa o
ministro Guido Mantega apenas seis meses atrás (segundo seus cálculos, sempre
errados, ele esperava 4 % para 2013 e 5 % em 2014). O diabo é que se o país
crescer mesmo 2 % este ano e 3 % no ano que vem, a taxa média de crescimento no
governo Dilma ficará em míseros 2,15 %, muito abaixo dos 5 % que a então
candidata prometeu em 2010 e mesmo abaixo dos 2,44 % do primeiro mandato de
FHC. Nem o mau desempenho da economia mundial vale como desculpa, pois mais de
uma dezena de países comparáveis, alguns nossos vizinhos, vão crescer mais do
que o dobro do Brasil no mesmo período.
Quanto à
inflação, esta continua no limite alto da meta do governo. Ninguém mais
acredita na possibilidade de trazê-la para o centro da meta com a atual
política econômica. E se a meta de 4,5 % já é alta demais, 6,5 % é inaceitável.
Não há como não sentir no bolso e na capacidade de compra uma inflação dessas.
Em quatro anos os preços devem aumentar mais de 25 %, o suficiente para criar
conflitos distributivos, diminuir o poder de compra de quem não tem como se
defender, e desorganizar os preços relativos. Inflação nesse nível só tende a
crescer, dificilmente a baixar. O pior é que o único remédio que o atual
governo tem aplicado ao problema é intervenção na economia: controle do preço
dos combustíveis, redução artificial do preço da energia elétrica, redução de
impostos em setores específicos da economia, sem nenhuma lógica de reforma
tributária ou de política econômica para explicar as escolhas. Trata-se de uma
repetição das piores práticas da política econômica da segunda metade do século
passado, que levaram ao caos que sabemos.
O mais
triste é que nada disso é destino. As coisas poderiam ter sido feitas de outra
maneira, com melhores resultados. Mas o governo Dilma representa a volta do
besteirol desenvolvimentista à política econômica. Junte-se o abandono de
práticas consideradas neo-liberais já no governo anterior, como privatizações e
maior flexibilização dos mercados, e o resultado é este. O governo Lula teve o
imenso benefício de coincidir com os seis anos de maior prosperidade da
história da humanidade, pelo menos desde que há dados para comparar. O Brasil
cresceu graças, em parte, aos ventos mais que favoráveis da economia mundial.
Poucos se deram ao trabalho de olhar para fora e constatar que o crescimento do
Brasil nesse período (em média quase 4 % ao ano) foi muito menor que o de
países comparáveis. Mas quando o motor da economia global deixa de ajudar, o
rei fica nu.
Dilma não
vai ter muito para apresentar aos seus eleitores no ano que vem. Sem
crescimento econômico e com inflação alta limita-se muito as possibilidades de
redução da miséria - aliás, não deve ser coincidência que este assunto não está
mais na ordem do dia dos discursos de petistas e seus aliados. As grandes obras
do PAC estão atrasadas e a presidente não conseguirá inaugurar nenhuma das mais
importantes. Talvez a única exceção seja o trecho sul do rodoanel de São Paulo,
uma obra identificada com os governos tucanos. E há um alto risco de vexame
internacional durante a copa do mundo. Veja-se, por exemplo, o estado
lastimável dos aeroportos brasileiros, para mencionar um só exemplo.
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