quarta-feira, 2 de julho de 2008

ASAMG - Quem é burro pede a Deus que o mate e ao Diabo que o carregue

Leio nos jornais on-line que a cúpula do Mercosul aprovou uma declaração rejeitando as medidas que a União Européia adotou para combater a imigração ilegal. Segundo as reportagens que li, a iniciativa de endurecer o conteúdo da declaração foi iniciativa da diplomacia brasileira. Senti dupla vergonha: primeiro pelo papel desempenhado pelo Itamarati no tal endurecimento - é apenas uma prova mais do primitivismo terceiro mundista da nossa diplomacia. Depois senti o que na Espanha chamam de "vergüenza ajena", que nada mais é que o desconcerto quando alguém faz algo francamente ridículo.

A imigração é um tema fascinante e provavelmente no século XXI vai ter uma importância ainda maior, mas pelas razões opostas às que as pessoas costumam pensar. Talvez não esteja longe o momento em que os países vão competir para atrair imigrantes, tal como acontece com os trabalhadores melhor preparados, os "talentos". Pessoalmente sou a favor da maior liberdade possível para os movimentos migratórios, apesar de reconhecer que não dá para ser utópico e defender o fim das fronteiras - ou fazer de conta que os aspectos culturais não importam para o convívio social. Acho que a nova política da UE não é adequada aos interesses dos seus países membros. Mas hoje não quero escrever sobre isso. Apenas quero aproveitar a oportunidade para continuar o tema da semana passada, sobre os perfeitos idiotas latino-americanos.

O primeiro comentário é apenas uma formalidade, mas mesmo assim não posso evitá-lo. Não conheço nenhum país que não tenha leis sobre imigração. Duvido que haja algum. Portanto, se há leis o que se espera é que elas sejam cumpridas. Se não o são, tem que haver uma consequência. Isso é B-A-BA do Estado de Direito, a base de funcionamento das democracias. Não há ninguém nas chancelarias do Mercosul com suficiente simancol para perceber o ridículo que é protestar que a UE tenha sanções contra aqueles que infrigem suas leis? Nossos presidentes protestam que os ilegais sejam punidos. Como podem protestar que haja uma consequência para os que estão ilegalmente em outro país? É totalmente ilógico. Aliás, a primeira pergunta de todas deveria ser porque não aproveitam uma cúpula do Mercosul e protestam contra o governo Cubano que não permite a seus cidadãos emigrarem livremente se assim o desejarem? Mas esta é uma pergunta retórica, pois todos nós sabemos a resposta.

Ao longo do século passado, em vários momentos, Cuba, Venezuela e Argentina foram países que atrairam milhões de imigrantes, muitos dos quais espanhois. Estes emigrantes estavam tentando fugir de alguma ditadura, por exemplo os exilados da ditadura fascista do general Franco, ou iam em busca de melhor vida material. Iam fazer América. Emigravam, trabalhavam duro e conseguiam prosperar. Provavelmente a pergunta realmente relevante na América Latina seja: "porque hoje o fluxo é no sentido contrário"? Bueno, os coitados dos cubanos não podem cair fora, têm que aguentar o paraíso socialista sem dar pio. Mas como é possível que países que eram prósperos e atraíam imigrantes hoje estejam exportando gente?

Realmente seria muito chato ter que reconhecer que os cubanos que tiveram a sorte de poder escapar da ilha se mandaram por culpa da ditadura castrista e ou da pobreza. Mais chato ainda seria liberar a saída do país, o tal direito de ir e vir, e de repente haver um êxodo de cubanos tentando dar o fora. Em Cuba o risco do "último apaga a luz" não está longe da realidade.

Em mais de quinze anos vivendo na Europa tive a sorte de conhecer muitos venezuelanos, tanto residentes legais como ilegais, assim como de diferentes extrações sociais. Nunca conheci um imigrante venezuelano que falasse bem do comandante Chávez. Talvez haja. No entanto, muitos dos que chegaram nos últimos anos dizem abertamente que foram embora da Venezuela por causa do Chavez. Por vergonha, medo ou cansaço do besteirol bolivariano e do socialismo do século XXI. Que desagradável esta gente, não? Claro que as outras razões que motivam tantos latino-americanos a emigrar também são citadas, como a pobreza, a violència urbana, as falhas da justiça, a falta de perspectivas. Mas ainda nestes casos, de quem é responsabilidade de resolver ou ao menos atenuar estes problemas? Dos respectivos presidentes, pode ser?

A Argentina é outro caso dramático. Foi um dos países mais ricos do planeta a princípios do século passado e tem tudo para voltar a sê-lo, mesmo assim há filas inesgotáveis de argentinos tentando conseguir um passaporte europeu e pular fora quando possa. A maioria que encontrei pelo caminho se mostra cansada com os desatinos do peronismo e desesperançada com as rotineiras crises econômicas que a cada três por quatro assolam a nação. Kirchner & Kirchner estão gestando outra grande debacle com uma inesgotável série de medidas "heterodoxas" que não são mais que insensatez. A manipulação dos índices de inflação é apenas a última delas. Outro dia li que, segundo as regras do novo índice, quando o preço de um produto sobe demasiado o mesmo é exluído do cálculo, com o argumento que o aumento de preço levará os consumidores a deixarem de comprar dito produto, portanto não deve influenciar o cálculo do índice. É literalmente inacreditável e se não tivesse lido numa publicação séria não teria dado crédito à notícia. Não posso pensar em argumento mais estúpido que este. Tampouco existe truque mais irrealista do que maquiar os dados da inflação, pois a mesma atinge diretamente o bolso do público. Bueno, K&K não parecem estar preocupados.

A realidade é que as centenas de milhares de emigrantes da América Latina que foram para a Europa nas últimas décadas o foram empurradas pela situação calamitosa em seus países. Porque escolheram emigrar para a Europa e não para outro país Latino Americano? Esta deveria ser a preocupação dos nossos presidentes. Hoje em dia nem dá mais para repetir a velha ladainha de que os países pobres são pobres porque os ricos vivem da exploração dos pobres, comprando baratas suas matérias primas. Desde Janeiro de 2003 o índice de preços de commodities, tanto minerais como agrícolas, medido por The Economist, praticamente triplicou. O preço do barril do petróleo quase decuplicou desde que o comandante Chavez desgoverna a Venezuela. Em boa parte a recente prosperidade de tantos países emergentes se deve ao aumento do preço dos produtos que exportam. É o oposto do que antes era identificado como causa do nosso atraso. Por lógica nossos países deveriam estar em crescimento imparável. A Venezuela deveria estar mais que bombando. No entanto a economiaVenezuelana está se desintegrando, depois de tanta besteira bolivariana. Se não fosse a bonança petrolífera o país estaria mais que falido. A Argentina está a um passo de uma grave crise. Cuba vive do subsídio do comandante Chávez.

Ao invés de nos preocuparmos com estes problemas, que aliás são a principal causa para a emigração do continente, tanto a legal como a ilegal, nossos líderes acham por bem se queixar da UE. Como se atrevem a punir os que infringem a lei?

Francamente, merecemos coisa muito melhor que isso!

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