Tem sido interessante acompanhar a crise financeira nos mercados internacionais estando no Brasil. As reações aqui variam da pourra-louquice à sensatez, mas talvez o sentimento dominante seja o de Schadenfreude: o prazer de ver a vaca indo para o brejo em terras de tio Sam. Os problemas atuais nasceram nos Estados Unidos e estão afetando mais duramente instituições americanas. Quem durante tantas décadas deu lição de capitalismo ao mundo agora tem que reaprender uma ou duas coisas básicas sobre o funcionamento da economia de mercado. Por aqui há muita gente rindo vendo o circo pegar fogo. Chato que não vai ter como evitar as consequências do incêndio ao norte.
A primeira bobagem generalizada li logo ao chegar, quando muitos estavam proclamando que a intervenção do Governo Americano na Freddie Mac e Fannie Mae era o fim do neo-liberalismo. Alguns foram mais longe, chegando a dizer que estava na hora de voltar a estatizar a economia, porque as privatizações e o tal neo-liberalismo não funcionam. Em alguns casos estas afirmações eram apenas expressão de ignorância: gente que não sabe nada de economia e que estava dando palpite. Alguns dos palpiteiros são parte importante do atual Governo. No caso dos economistas heterodoxos, a patota cepalina da velha-guarda, era uma forma mais sofisticada de ignorância: viés ideológico. Não vou perder tempo enumerando a longa lista de asneiras que estas mesmas pessoas patrocinaram quando tiveram a oportunidade de estar no Governo no Brasil. Todos estes "economistas" são sobradamente conhecidos, bem como os desastres que provocaram.
No fundo, a atual crise financeira tem algo em comum com os descalabros que no passado afligiam a economia brasileira: não é uma prova de que o capitalismo não funciona sem intervenção estatal, ou de que os mercados não são o melhor guia para a alocação de recursos. A atual crise americana simplesmente demonstra que o capitalismo não é imune à incompetência governamental. A atual administração americana já é considerada por muita gente inteligente e bem informada como a pior da história daquele país. O Governo Bush revelou-se incompetente em praticamente tudo que tocou. Eles conseguiram até ser considerados piores do que a administração Nixon. Não era fácil, mas eles chegaram lá.
Quando Bush recebeu o Governo de Clinton havia superávit fiscal nos Estados Unidos. A atual administração conseguiu convertê-lo rapidamente em déficit. Este, unido ao déficit comercial, são os dois maiores problemas estruturais da primeira economia do planeta. Nos últimos anos o dólar americano perdeu cerca de quarenta por cento do valor em comparação com o Euro - dito de outra maneira, os detentores de riquezas em dólares perderam duas quintas partes do que tinham quando seu patrimônio é medido em Euros. No entanto, nem esse brutal ajuste foi suficiente para reverter o déficit comercial.
A política monetária foi igualmente irresponsável. Durante boa parte da década o Fed, banco central americano, manteve a taxa de juros igual ou menor que dois por cento ao ano. Foram os juros nominais mais baixos em mais de meio século e muitas vezes estiveram por baixo da inflação (como acontece agora), significando juros reais negativos. Foi outra importante contribuição para a formação da bolha imobiliária que começou a desinflar no ano passado. Também contribuiu para que os agentes econômicos se acostumassem com um nível de juros que não é de forma alguma sustentável. Dada a atual inflação nos Estados Unidos, os juros deveriam estar acima de seis por cento ao ano. Dizer esta obviedade depois de tanto tempo de relaxamento monetário tem o mesmo efeito que blasfemar diante de autoridades eclesiásticas. É verdade que este não é o melhor momento para subir os juros, mas tampouco resolverá nada abaixá-los, como sugerem os mais desesperados.
A invasão do Iraque não foi uma má idéia só do ponto de vista geo-político. Também representou um enorme custo para o Tesouro americano e propiciou o início do aumento do preço do barril do petróleo no mercado mundial. Esse aumento, aliado à especulação financeira, levou à quase decuplicação do preço do barril, implicando numa brutal transferência de riquezas dos países importadores para os exportadores. Principais beneficiados? Arábia Saudita, Irã, Russia, Venezuela... No resto dos países o aumento do preço da energia está causando inflação, que apenas torna mais difícil a resolução dos problemas atuais.
Não há dúvida que o que nós estamos presenciando estes dias são acontecimentos históricos, destes que ocorrem uma ou duas vezes a cada século. Nas próximas horas o Congresso americano estará discutindo o pacote de ajudas ao sistema financeiro. É uma ajuda multi-bilionária, que comprometerá ainda mais as contas governamentais americanas. Dizer que a próxima administração, ganhe quem ganhe, já começará hipotecada é uma banalidade; talvez o mais exato fosse dizer que a administração Bush conseguiu hipotecar a próxima geração. O pior é que nem os 700 bilhões de dólares em discussão no Congresso resolverão os problemas da economia mundial. Na melhor hipótese afastarão o pânico do mercado. Mas não impedirão que continue havendo muita volatilidade e que provavelmente a economia americana entre em recessão.
No meio de todo esse caos, é incrível que as autoridades brasileiras insistam na balela de que a economia do país passará imune pelo vendaval internacional. Para começo de conversa, é mais que provável que a rota de valorização do Real tenha acabado e que esteja começando uma fase de desvalorização sustentada da moeda - algo mais duradouro que a atual volatilidade. Há quem calcule que o cambio de equilíbrio seja de 2,40. Pessoalmente me parece plausível. A pergunta é quanto tempo vai demorar para chegar lá. Até dois meses atrás dois anos parecia uma resposta equilibrada. Pode ser que o horizonte de tempo tenha se estreitado a menos da metade.
O câmbio é um dos preços fundamentais da economia. Uma correção cambial terá consequências para o Brasil, por muito que haja gente com bons argumentos dizendo o contrário. Algo me diz que nosso Presidente em breve deixará de surfar na onda da prosperidade mundial. Tomara que não morra na praia.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
ASAMG - Delenda Congonhas
Meus pais se mudaram para as proximidades do aeroporto de Congonhas em 1970. Vivem na mesma casa até hoje. Eu morei durante vinte anos lá, portanto cresci ao lado do aeroporto. Na minha infância não houve rua do bairro que eu não percorresse com a minha bicicleta. Tenho inclusive idade para lembrar-me da construção de cada grande obra de infra-estrutura na região: avenidas Vicente Rao e Águas Espraiadas, obras de saneamento (água e esgoto), asfaltamento das ruas, iluminação, o metrô chegando a São Judas, Conceição e Jabaquara, cada ampliação do prédio do aeroporto e um largo etc.
Quando nós nos mudamos para a nossa rua éramos dos primeiros moradores. Meu pai brincava com os amigos que tinha comprado uma casa de campo. No bairros do Campo Belo e Brooklin só havia casas, quase nenhum prédio. Mesmo assim, quatro décadas atrás a cidade já tinha chegado até o aeroporto. Minha bisavó e minha avó moravam em casas perto de onde hoje é o Shopping Ibirapuera (se não me falha a memória o shopping só foi construído por volta de 1976). Já naquela época elas estavam na rota de pouso dos aviões e havia dias em que o barulho das turbinas era bastante incômodo.
Em 1970 a cidade de São Paulo tinha 5,9 milhões de habitantes. Hoje são 10,9. Esses cinco milhões a mais foram viver por todas partes, inclusive na zona sul, ao lado de Congonhas. Não adianta dizer que o aeroporto foi construído no início do século passado, quando o local era um lugar ermo e que foi a cidade que o abraçou - isso agora é história. Se podia ou não ter sido evitado, não faz mais diferença, porque já aconteceu. O aeroporto de Congonhas está agora no meio da cidade e seu funcionamento é um problema cada vez maior, principalmente por questões de segurança.
Recentemente houve um novo acidente: um aviãozinho teve que abortar uma decolagem e quase acaba na avenida. As pistas são muito curtas e sem nenhuma margem nas cabeceiras. Um acidente tem tudo para virar uma catástrofe, como foi o caso no ano passado com o avião da TAM. Deveria ser uma coisa óbvia estar pensando em quando fechá-lo. No entanto, nos últimos anos foram feitos investimentos para aumentar o número de vôos e passageiros. Faz tempo que ouço a reclamação de amigos de outros estados, sobretudo do Rio de Janeiro, queixando-se que não haja vôo nacional que não passe por Congonhas. Os investimentos serviram para que o aeroporto virasse um mini hub nacional. Pode ser economicamente viável a curto prazo, mas na prática é um grande absurdo.
Devíamos para de pensar que um país do tamanho do Brasil tem que concentrar todos seus vôos em uma ou duas cidades. Pior ainda se estas são as duas mais populosas do país. O maior aeroporto da Alemanha está em Frankfurt, uma cidade de 700 mil habitantes e apenas. É também um dos maiores aeroportos da Europa e do mundo. É um exemplo claro que o hub nacional não tem que necessariamente ser na maior cidade. O desenvolvimento dos aeroportos europeus também demonstra que um mesmo país pode ter mais de um hub.
A notícia de que o Governo pensa num novo aeroporto para a cidade de São Paulo é uma grande notícia. Que seja construído pela iniciativa privada, é melhor ainda. Que esteja pensando em privatizar o Galeão e Viracopos quase nem dá para acreditar. Depois de marcar passo durante seis anos, parece que este Governo está acordando para as vantagens de deixar a iniciativa privada operar determinados serviços, em alguns casos privatizando-os. A boa notícia mesmo seria se houvesse um plano para descentralizar o tráfico aéreo no país, sem que São Paulo ou Rio sejam necessariamente o centro da malha.
Pensando no que já vi em outros países e ressalvando que minha opinião é puro achismo, sem estar baseada em dados, me atreveria a dizer que Congonhas é uma exceção: aeroportos no meio de grandes cidades são cada vez mais raros e têm os dias contados (Berlin vai fechar os dois aeroportos que estão no perímetro urbano, Hong Kong fechou o antigo aeroporto, para citar apenas alguns exemplos). Ter um aeroporto pertinho pode ser uma comodidade para quem viaja, mas se os meios de transporte, coletivos e privados, forem eficientes não é um grande problema que os aeroportos estejam distantes do centro - aliás, esta é a regra na maior parte do mundo. Dentro de um plano de descentralização, parece-me perfeitamente natural imaginar que além de Guarulhos e do novo aeroporto, possivelmente em Sorocaba, também haja um aeroporto no Vale do Paraíba, entre Taubaté e São José dos Campos e conectado ao trem de alta velocidade de São Paulo ao Rio. O Nordeste poderia perfeitamente ter um ou dois hubs de vôos intercontinentais. Campinas com Viracopos e outras cidades do interior do estado de São Paulo poderiam ter importantes aeroportos, descentralizando ainda mais o transporte aéreo.
Na campanha à prefeitura de São Paulo sinto falta de que algum dos candidatos esteja defendendo abertamente o fechamento de Congonhas a curto prazo (no máximo logo depois da Copa do Mundo de 2014). A área que ocupa permitiria uma intervenção urbana de grandes dimensões na cidade. Mudaria a cara da zona sul e de São Paulo. Muitas coisas poderiam ser feitas e, tendo claro o objetivo final e a data, o próximo prefeito já poderia estar fazendo obras que levassem à execução desse plano. Muitos candidatos querem se posicionar para no futuro concorrerem ao Governo do Estado ou à Presidência. O melhor seria começar a pensar grande e inovar. A cidade agradeceria.
Quando nós nos mudamos para a nossa rua éramos dos primeiros moradores. Meu pai brincava com os amigos que tinha comprado uma casa de campo. No bairros do Campo Belo e Brooklin só havia casas, quase nenhum prédio. Mesmo assim, quatro décadas atrás a cidade já tinha chegado até o aeroporto. Minha bisavó e minha avó moravam em casas perto de onde hoje é o Shopping Ibirapuera (se não me falha a memória o shopping só foi construído por volta de 1976). Já naquela época elas estavam na rota de pouso dos aviões e havia dias em que o barulho das turbinas era bastante incômodo.
Em 1970 a cidade de São Paulo tinha 5,9 milhões de habitantes. Hoje são 10,9. Esses cinco milhões a mais foram viver por todas partes, inclusive na zona sul, ao lado de Congonhas. Não adianta dizer que o aeroporto foi construído no início do século passado, quando o local era um lugar ermo e que foi a cidade que o abraçou - isso agora é história. Se podia ou não ter sido evitado, não faz mais diferença, porque já aconteceu. O aeroporto de Congonhas está agora no meio da cidade e seu funcionamento é um problema cada vez maior, principalmente por questões de segurança.
Recentemente houve um novo acidente: um aviãozinho teve que abortar uma decolagem e quase acaba na avenida. As pistas são muito curtas e sem nenhuma margem nas cabeceiras. Um acidente tem tudo para virar uma catástrofe, como foi o caso no ano passado com o avião da TAM. Deveria ser uma coisa óbvia estar pensando em quando fechá-lo. No entanto, nos últimos anos foram feitos investimentos para aumentar o número de vôos e passageiros. Faz tempo que ouço a reclamação de amigos de outros estados, sobretudo do Rio de Janeiro, queixando-se que não haja vôo nacional que não passe por Congonhas. Os investimentos serviram para que o aeroporto virasse um mini hub nacional. Pode ser economicamente viável a curto prazo, mas na prática é um grande absurdo.
Devíamos para de pensar que um país do tamanho do Brasil tem que concentrar todos seus vôos em uma ou duas cidades. Pior ainda se estas são as duas mais populosas do país. O maior aeroporto da Alemanha está em Frankfurt, uma cidade de 700 mil habitantes e apenas. É também um dos maiores aeroportos da Europa e do mundo. É um exemplo claro que o hub nacional não tem que necessariamente ser na maior cidade. O desenvolvimento dos aeroportos europeus também demonstra que um mesmo país pode ter mais de um hub.
A notícia de que o Governo pensa num novo aeroporto para a cidade de São Paulo é uma grande notícia. Que seja construído pela iniciativa privada, é melhor ainda. Que esteja pensando em privatizar o Galeão e Viracopos quase nem dá para acreditar. Depois de marcar passo durante seis anos, parece que este Governo está acordando para as vantagens de deixar a iniciativa privada operar determinados serviços, em alguns casos privatizando-os. A boa notícia mesmo seria se houvesse um plano para descentralizar o tráfico aéreo no país, sem que São Paulo ou Rio sejam necessariamente o centro da malha.
Pensando no que já vi em outros países e ressalvando que minha opinião é puro achismo, sem estar baseada em dados, me atreveria a dizer que Congonhas é uma exceção: aeroportos no meio de grandes cidades são cada vez mais raros e têm os dias contados (Berlin vai fechar os dois aeroportos que estão no perímetro urbano, Hong Kong fechou o antigo aeroporto, para citar apenas alguns exemplos). Ter um aeroporto pertinho pode ser uma comodidade para quem viaja, mas se os meios de transporte, coletivos e privados, forem eficientes não é um grande problema que os aeroportos estejam distantes do centro - aliás, esta é a regra na maior parte do mundo. Dentro de um plano de descentralização, parece-me perfeitamente natural imaginar que além de Guarulhos e do novo aeroporto, possivelmente em Sorocaba, também haja um aeroporto no Vale do Paraíba, entre Taubaté e São José dos Campos e conectado ao trem de alta velocidade de São Paulo ao Rio. O Nordeste poderia perfeitamente ter um ou dois hubs de vôos intercontinentais. Campinas com Viracopos e outras cidades do interior do estado de São Paulo poderiam ter importantes aeroportos, descentralizando ainda mais o transporte aéreo.
Na campanha à prefeitura de São Paulo sinto falta de que algum dos candidatos esteja defendendo abertamente o fechamento de Congonhas a curto prazo (no máximo logo depois da Copa do Mundo de 2014). A área que ocupa permitiria uma intervenção urbana de grandes dimensões na cidade. Mudaria a cara da zona sul e de São Paulo. Muitas coisas poderiam ser feitas e, tendo claro o objetivo final e a data, o próximo prefeito já poderia estar fazendo obras que levassem à execução desse plano. Muitos candidatos querem se posicionar para no futuro concorrerem ao Governo do Estado ou à Presidência. O melhor seria começar a pensar grande e inovar. A cidade agradeceria.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
ASAMG - Eleições municipais à vista
Da última vez que escrevi neste Blog estava na Escandinávia, onde passei os três meses de verão. Primeiro fiz um curso de seis semanas em Uppsala, depois fui para Estocolmo, onde terminei de escrever o romance que estava escrevendo. Agora, desde sexta-feira, estou em São Paulo. Provavelmente ficarei bastante tempo. Meu objetivo é procurar editora para o livro. A menos que aconteça algo inesperado que me leve de volta para a Espanha intempestivamente, fico no Brasil até a publicação do livro estar assegurada. Não será do dia para a noite.
Ontem à noite fiz o que considero o programa mais típico do paulistano de classe média: fui com parentes e amigos a uma pizzaria. Antigamente a pizza do domingo à noite era também a da volta do fim-de-semana na praia. Hoje em dia, com o trânsito parando todas as estradas do litoral, as pessoas saem da praia nos horários mais absurdos e já não dá mais para comer uma pizza ao chegar em São Paulo. Mas os que ficam na cidade não perdem o hábito: apesar do tempo feio e meio-frio, a pizzaria lotou.
Nossa conversa foi sobre amenidades, mas lá pelas tantas acabamos falando de eleição. Como não houve polêmica, não nos alargamos no assunto. Até onde posso me lembrar, a última eleição na qual votei foi a de Presidente, quando o Collor derrotou o Lula. Deve ter havido outras duas mais antes de eu me mudar para a Europa, mas não me lembro de ter votado. Enfim, depois de tanto tempo, desta vez faço questão de comparecer às urnas. Perguntam-me em quem ia votar: "Em qualquer um que possa ganhar da Marta Suplicy, menos no Maluf, é claro". Minha mesa não era de petistas, houve alívio e sinal de aprovação. Por uma razão ou outra, ali todos eram contra a Marta. A rejeição a ela não é nenhuma fantasia estatística, é uma realidade, ao menos entre a classe média da zona sul. Então uma das moças disse que votaria no atual prefeito, Gilberto Kassab, e argumentou que a lei da cidade limpa tinha sido uma grande realização dele e que não tinha sido fácil. Ontem mesmo tinha pensado que era curioso haver eleições em poucas semanas e não se ver a sujeirada eleitoral que costumava emporcalhar a cidade. Não liguei o efeito com a causa: claro, a cidade está limpa de propaganda eleitoral por causa da lei do prefeito. Achei que a moça tinha razão, aquela já era uma boa razão para reelegê-lo.
É uma pena que as eleições municipais sejam um tiroteio de propostas, sem nenhum eixo que dê coerência ao que os diferentes candidatos a prefeitos pretendem fazer para melhorar a vida dos moradores das suas respectivas cidades. Em poucas palavras, é uma pena que nenhum partido tenha uma clara proposta de política urbana para o país e que sirva de linha mestra para orientar os seus programas eleitorais nas diferentes cidades onde apresenta candidatos. A questão agrária, cada vez mais irrelevante (há menos moradores no campo e são uma proporção cada vez menor da população do país), continua despertando emoções e fazendo manchetes. A questão urbana, o problema mais relevante, é relegado a segundo plano.
Continuo opinando que qualquer política urbana deveria ser coerente com uma visão de país para o ano 2050. Uma visão que explicite o que queremos ser como sociedade, o tipo de economia que queremos ter, as prioridades nacionais, os valores fundamentais, nosso posicionamento geopolítico. Tive uma grata surpresa ao ver que a revista "Veja" promoveu um seminário para falar do assunto e publicou 40 idéias para o Brasil de amanhã. Ainda não li a reportagem, mas achei a iniciativa sensacional. O debate é importante e principalmente que não fique na dependência do partido que esteja no Governo do país. A sociedade tem instituições de sobra para promover e fazer avançar este tipo de debate. Voltarei ao assunto em outra ocasião.
Mesmo não tendo este projeto de país claro, ainda assim algumas perguntas básicas de política urbana deveriam começar a ser respondidas. A primeira delas, até quando queremos continuar incentivando o desastre que é a concentração de população nas duas maiores metrópoles brasileiras. Não é fácil pensar que São Paulo e Rio deveriam diminuir de tamanho, é o contrário do que ouvimos durante a maior parte do século passado, mas a vida em ambas cidades virou um tormento e as necessidades de infra-estrutura para uma população crescente são muito mais caras que numa cidade de menor porte.
Assim, meu candidato preferido para qualquer cargo seria o político que dissesse explicitamente que São Paulo e Rio precisam não só parar de crescer (já está acontecendo), como diminuir de tamanho e as políticas públicas deveriam incentivar que isso aconteça. Meu candidato ideal a prefeito também diria explicitamente que vai terminar a Avenida das Águas Espraiadas. O candidato ideal a Governador se comprometeria inapelavemente com o Rodoanel, o metrô e a coleta e tratamento de esgotos em todo o Estado. E novamente o candidato ideal a qualquer cargo teria uma proposta potente, prática e baseada em dados, não em achismos ideológicos, de como melhorar a educação no país de uma forma que possa ser objetivamente medível.
Para terminar, meu candidato ideal a prefeito da cidade de São Paulo, assim como Governador e Presidente seriam aquelas pessoas que defendessem o fechamento do aeroporto de Congonhas num horizonte de tempo razoável - por exemplo logo depois da Copa do Mundo. Seria a maior oportunidade de transformar a qualidade de vida na cidade. Um tema que me parece tão relevante que voltarei a ele na quinta-feira.
Ontem à noite fiz o que considero o programa mais típico do paulistano de classe média: fui com parentes e amigos a uma pizzaria. Antigamente a pizza do domingo à noite era também a da volta do fim-de-semana na praia. Hoje em dia, com o trânsito parando todas as estradas do litoral, as pessoas saem da praia nos horários mais absurdos e já não dá mais para comer uma pizza ao chegar em São Paulo. Mas os que ficam na cidade não perdem o hábito: apesar do tempo feio e meio-frio, a pizzaria lotou.
Nossa conversa foi sobre amenidades, mas lá pelas tantas acabamos falando de eleição. Como não houve polêmica, não nos alargamos no assunto. Até onde posso me lembrar, a última eleição na qual votei foi a de Presidente, quando o Collor derrotou o Lula. Deve ter havido outras duas mais antes de eu me mudar para a Europa, mas não me lembro de ter votado. Enfim, depois de tanto tempo, desta vez faço questão de comparecer às urnas. Perguntam-me em quem ia votar: "Em qualquer um que possa ganhar da Marta Suplicy, menos no Maluf, é claro". Minha mesa não era de petistas, houve alívio e sinal de aprovação. Por uma razão ou outra, ali todos eram contra a Marta. A rejeição a ela não é nenhuma fantasia estatística, é uma realidade, ao menos entre a classe média da zona sul. Então uma das moças disse que votaria no atual prefeito, Gilberto Kassab, e argumentou que a lei da cidade limpa tinha sido uma grande realização dele e que não tinha sido fácil. Ontem mesmo tinha pensado que era curioso haver eleições em poucas semanas e não se ver a sujeirada eleitoral que costumava emporcalhar a cidade. Não liguei o efeito com a causa: claro, a cidade está limpa de propaganda eleitoral por causa da lei do prefeito. Achei que a moça tinha razão, aquela já era uma boa razão para reelegê-lo.
É uma pena que as eleições municipais sejam um tiroteio de propostas, sem nenhum eixo que dê coerência ao que os diferentes candidatos a prefeitos pretendem fazer para melhorar a vida dos moradores das suas respectivas cidades. Em poucas palavras, é uma pena que nenhum partido tenha uma clara proposta de política urbana para o país e que sirva de linha mestra para orientar os seus programas eleitorais nas diferentes cidades onde apresenta candidatos. A questão agrária, cada vez mais irrelevante (há menos moradores no campo e são uma proporção cada vez menor da população do país), continua despertando emoções e fazendo manchetes. A questão urbana, o problema mais relevante, é relegado a segundo plano.
Continuo opinando que qualquer política urbana deveria ser coerente com uma visão de país para o ano 2050. Uma visão que explicite o que queremos ser como sociedade, o tipo de economia que queremos ter, as prioridades nacionais, os valores fundamentais, nosso posicionamento geopolítico. Tive uma grata surpresa ao ver que a revista "Veja" promoveu um seminário para falar do assunto e publicou 40 idéias para o Brasil de amanhã. Ainda não li a reportagem, mas achei a iniciativa sensacional. O debate é importante e principalmente que não fique na dependência do partido que esteja no Governo do país. A sociedade tem instituições de sobra para promover e fazer avançar este tipo de debate. Voltarei ao assunto em outra ocasião.
Mesmo não tendo este projeto de país claro, ainda assim algumas perguntas básicas de política urbana deveriam começar a ser respondidas. A primeira delas, até quando queremos continuar incentivando o desastre que é a concentração de população nas duas maiores metrópoles brasileiras. Não é fácil pensar que São Paulo e Rio deveriam diminuir de tamanho, é o contrário do que ouvimos durante a maior parte do século passado, mas a vida em ambas cidades virou um tormento e as necessidades de infra-estrutura para uma população crescente são muito mais caras que numa cidade de menor porte.
Assim, meu candidato preferido para qualquer cargo seria o político que dissesse explicitamente que São Paulo e Rio precisam não só parar de crescer (já está acontecendo), como diminuir de tamanho e as políticas públicas deveriam incentivar que isso aconteça. Meu candidato ideal a prefeito também diria explicitamente que vai terminar a Avenida das Águas Espraiadas. O candidato ideal a Governador se comprometeria inapelavemente com o Rodoanel, o metrô e a coleta e tratamento de esgotos em todo o Estado. E novamente o candidato ideal a qualquer cargo teria uma proposta potente, prática e baseada em dados, não em achismos ideológicos, de como melhorar a educação no país de uma forma que possa ser objetivamente medível.
Para terminar, meu candidato ideal a prefeito da cidade de São Paulo, assim como Governador e Presidente seriam aquelas pessoas que defendessem o fechamento do aeroporto de Congonhas num horizonte de tempo razoável - por exemplo logo depois da Copa do Mundo. Seria a maior oportunidade de transformar a qualidade de vida na cidade. Um tema que me parece tão relevante que voltarei a ele na quinta-feira.
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