segunda-feira, 15 de setembro de 2008

ASAMG - Eleições municipais à vista

Da última vez que escrevi neste Blog estava na Escandinávia, onde passei os três meses de verão. Primeiro fiz um curso de seis semanas em Uppsala, depois fui para Estocolmo, onde terminei de escrever o romance que estava escrevendo. Agora, desde sexta-feira, estou em São Paulo. Provavelmente ficarei bastante tempo. Meu objetivo é procurar editora para o livro. A menos que aconteça algo inesperado que me leve de volta para a Espanha intempestivamente, fico no Brasil até a publicação do livro estar assegurada. Não será do dia para a noite.

Ontem à noite fiz o que considero o programa mais típico do paulistano de classe média: fui com parentes e amigos a uma pizzaria. Antigamente a pizza do domingo à noite era também a da volta do fim-de-semana na praia. Hoje em dia, com o trânsito parando todas as estradas do litoral, as pessoas saem da praia nos horários mais absurdos e já não dá mais para comer uma pizza ao chegar em São Paulo. Mas os que ficam na cidade não perdem o hábito: apesar do tempo feio e meio-frio, a pizzaria lotou.

Nossa conversa foi sobre amenidades, mas lá pelas tantas acabamos falando de eleição. Como não houve polêmica, não nos alargamos no assunto. Até onde posso me lembrar, a última eleição na qual votei foi a de Presidente, quando o Collor derrotou o Lula. Deve ter havido outras duas mais antes de eu me mudar para a Europa, mas não me lembro de ter votado. Enfim, depois de tanto tempo, desta vez faço questão de comparecer às urnas. Perguntam-me em quem ia votar: "Em qualquer um que possa ganhar da Marta Suplicy, menos no Maluf, é claro". Minha mesa não era de petistas, houve alívio e sinal de aprovação. Por uma razão ou outra, ali todos eram contra a Marta. A rejeição a ela não é nenhuma fantasia estatística, é uma realidade, ao menos entre a classe média da zona sul. Então uma das moças disse que votaria no atual prefeito, Gilberto Kassab, e argumentou que a lei da cidade limpa tinha sido uma grande realização dele e que não tinha sido fácil. Ontem mesmo tinha pensado que era curioso haver eleições em poucas semanas e não se ver a sujeirada eleitoral que costumava emporcalhar a cidade. Não liguei o efeito com a causa: claro, a cidade está limpa de propaganda eleitoral por causa da lei do prefeito. Achei que a moça tinha razão, aquela já era uma boa razão para reelegê-lo.

É uma pena que as eleições municipais sejam um tiroteio de propostas, sem nenhum eixo que dê coerência ao que os diferentes candidatos a prefeitos pretendem fazer para melhorar a vida dos moradores das suas respectivas cidades. Em poucas palavras, é uma pena que nenhum partido tenha uma clara proposta de política urbana para o país e que sirva de linha mestra para orientar os seus programas eleitorais nas diferentes cidades onde apresenta candidatos. A questão agrária, cada vez mais irrelevante (há menos moradores no campo e são uma proporção cada vez menor da população do país), continua despertando emoções e fazendo manchetes. A questão urbana, o problema mais relevante, é relegado a segundo plano.

Continuo opinando que qualquer política urbana deveria ser coerente com uma visão de país para o ano 2050. Uma visão que explicite o que queremos ser como sociedade, o tipo de economia que queremos ter, as prioridades nacionais, os valores fundamentais, nosso posicionamento geopolítico. Tive uma grata surpresa ao ver que a revista "Veja" promoveu um seminário para falar do assunto e publicou 40 idéias para o Brasil de amanhã. Ainda não li a reportagem, mas achei a iniciativa sensacional. O debate é importante e principalmente que não fique na dependência do partido que esteja no Governo do país. A sociedade tem instituições de sobra para promover e fazer avançar este tipo de debate. Voltarei ao assunto em outra ocasião.
Mesmo não tendo este projeto de país claro, ainda assim algumas perguntas básicas de política urbana deveriam começar a ser respondidas. A primeira delas, até quando queremos continuar incentivando o desastre que é a concentração de população nas duas maiores metrópoles brasileiras. Não é fácil pensar que São Paulo e Rio deveriam diminuir de tamanho, é o contrário do que ouvimos durante a maior parte do século passado, mas a vida em ambas cidades virou um tormento e as necessidades de infra-estrutura para uma população crescente são muito mais caras que numa cidade de menor porte.

Assim, meu candidato preferido para qualquer cargo seria o político que dissesse explicitamente que São Paulo e Rio precisam não só parar de crescer (já está acontecendo), como diminuir de tamanho e as políticas públicas deveriam incentivar que isso aconteça. Meu candidato ideal a prefeito também diria explicitamente que vai terminar a Avenida das Águas Espraiadas. O candidato ideal a Governador se comprometeria inapelavemente com o Rodoanel, o metrô e a coleta e tratamento de esgotos em todo o Estado. E novamente o candidato ideal a qualquer cargo teria uma proposta potente, prática e baseada em dados, não em achismos ideológicos, de como melhorar a educação no país de uma forma que possa ser objetivamente medível.

Para terminar, meu candidato ideal a prefeito da cidade de São Paulo, assim como Governador e Presidente seriam aquelas pessoas que defendessem o fechamento do aeroporto de Congonhas num horizonte de tempo razoável - por exemplo logo depois da Copa do Mundo. Seria a maior oportunidade de transformar a qualidade de vida na cidade. Um tema que me parece tão relevante que voltarei a ele na quinta-feira.

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