Está confirmado: Agosto é mesmo mês de cachorro louco. Parece que está dando tudo errado para o atual Governo: a crise política no Senado não acaba e o PT está parecendo pau de galinheiro, graças ao que tem feito em nome da governabilidade; a ex-secretária da Receita Federal confirmou no Congresso que manteve um encontro com Dilma - a ministra-canditada nega, mas essa história está cada vez mais mal contada; a crise na Receita Federal piora com pedidos massivos de demissão entre seus dirigentes (mesmo assim o Governo nega que haja crise... então tá); dois senadores abandonaram o PT, o líder no Senado disse que pedia demissão irrevogável e no fim deu volta atrás; o Senador Suplicy sobe à tribuna para fazer demagogia com cartão vermelho e acaba dando tiro no pé; Dilma não deslancha nas pesquisas e não parece estar bem de saúde (a versão oficial é de que está exausta - não surpreende, tendo em vista o tratamento que está fazendo); aliados importantes podem abandonar o barco da candidatura do PT ao Planalto, como por exemplo Ciro Gomes; dentro do próprio PT há cada vez mais vozes à procura de um plano B, caso Dilma não emplaque.
Será que é só porque é Agosto ou o Presidente Lula, apesar de toda sua popularidade e poder, está virando prematura e muito rapidamente um pato coxo (lame duck)? Este é o nome que os americanos dão ao fenômeno que acontece na reta final de governos que não podem se reeleger, quando todos se esquecem do presidente e vão cuidar da própria vida. Deve estar caindo a ficha para muita gente que falta pouco mais de um ano para as próximas eleições e não há nenhuma garantia de que os companheiros continuem no poder. Quando começa a dar aquele medinho de que estejamos próximos do fim é que há maior perigo de que se façam mais besteiras.
Uma delas está a ponto de entrar em cena: a recriação, muito piorada, do imposto do cheque. A desculpa é que falta dinheiro para a saúde, principalmente depois da gripe suína. O que fazer? Cria-se mais um imposto. No caso, um impostinho. Ressuscitar a CPMF com outro nome seria um grande erro e um passo na direção oposta ao da racionalidade tributária
Em primeiro lugar, não falta dinheiro para a saúde. O Brasil experimentou vários anos de crescimento real de arrecadação. Mesmo que em 2009 haja uma queda, sobra dinheiro para a saúde. O que não sobra é dinheiro para tudo. O que se espera de um governo é que estabeleça as prioridades ao gastar os recursos disponíveis. Uma das prioridades do governo Lula foi aumentar espetacularmente o gasto com pessoal. É normal que falte dinheiro para a saúde e outras coisas. O problema é consequencia das escolhas do próprio governo, nada mais.
Em segundo lugar, o Brasil não necessita de mais impostos. Não existe maior injustiça fiscal do que taxar mais quem não tem como fugir da tributação enquanto há tanta sonegação. A sonegação é a maior injustiça fiscal possível. Se a esquerda se preocupa tanto com a redistribuição da renda e justiça social, sua prioridade número um deveria ser o combate à sonegação. Não é o que se depreende das notícias sobre a crise na Receita Federal. Há um debate azedo sobre a fiscalização de grandes empresas. Um governo que não se disponha a fiscalizar grandes empresas em véspera de eleições não tem moral para criar mais impostos.
Há também um lado prático da questão: o que é mais fácil, controlar o pagamento de sessenta ou de vinte tributos? Fiscalizar a legalidade dos atos dos contribuintes quando há muitas ou poucas regras de isenção? Muitas ou poucas alíquotas? O maior problema do sistema tributário brasileiro é que é um monstrengo irracional. Diminuir o número de impostos, de alíquotas e de isenções facilitaria imensamente a vida de quem tem que pagar e de quem tem que receber. Facilitaria o controle, aumentaria a transparência e deveria diminuir a sonegação. A recente diminuição do IPI sobre alguns bens também demonstrou sem sombra de dúvida que com menos impostos a economia pode crescer mais. Menos impostos pode significar maior crescimento; se ao mesmo tempo houver menos sonegação, menos impostos pode se traduzir em maior arrecadação. Simple comme bonjour!
Nada disso é novidade. O próprio Ministério da Fazenda fez um excelente trabalho para propor uma reforma fiscal cujo único problema era ser tímida e lenta demais. Que o nosso sistema tributário é péssimo é sabido por todo mundo. Que a reforma fiscal é uma necessidade urgente também. Não fazê-la é uma imensa burrice. Trava o crescimento do país e indiretamente ajuda a manter parte da sonegação. Criar mais impostos nesta altura do campeonato é adicionar cretinice à estupidez. Impostinho é coisa de gentinha com titica na cabeça. Deveríamos todos dizer em alto e bom som: nenhum imposto a mais!
E ainda tem idiota que pensa que o Brasil é atrasado por culpa dos países imperialistas do primeiro mundo que nos exploram. Se não somos mais desenvolvidos, em grande parte a culpa é exclusivamente nossa!
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
ASAMG - Só Mais 500 Dias
Há duas semanas jantei com o mesmo amigo do post anterior. Desta vez foi no "Alcântara Café", em Lisboa. No dia seguinte eu partia para uma semana de férias na Suécia, dois dias depois ele voltava para o Brasil. Foi um jantar descontraído, no qual falamos sobre comida, vinhos, suas impressões sobre Portugal e, como não podia deixar de ser, política.
Comentamos a provável candidatura da ministra Dilma à Presidência da República. Nas cinco eleições diretas desde a constituição de 88, o candidato do PT sempre foi o Lula. Desta vez ele não pode concorrer. Aí mora o perigo, pois o Lula é imensamente melhor e maior do que o PT. Além disso, a busca de um candidato poderia gerar uma guerra entre as várias correntes e facções que co-habitam no partido.
Lula não é culto (ao menos se é não o demonstra), mas parece ser muito inteligente; e é inegável que tem um imenso talento político. Nos seus dois mandatos evitou todos os conflitos que pôde, o que ajuda a explicar parte da popularidade que tem. É uma pena para o Brasil, pois deixou passar talvez nossa melhor oportunidade de fazer as reformas que são tão necessárias para o país. Mas fazer reformas implica mudanças, entrar em conflito com interesses estabelecidos, e disso ele fugiu como o diabo da cruz.
Apesar da popularidade, Lula conhece os limites do que pode fazer. Não tentou aprovar uma emenda constitucional permitindo candidatar-se a mais um mandato. É uma prova não da sua integridade democrática, que não discuto, mas do seu talento político: se a CPMF foi derrubada no Senado, uma emenda da re-reeleição poderia ter o mesmo destino. Provavelmente teria. Era um risco grande demais para correr. Conhecendo seu partido, optou por uma jogada imensamente arriscada, do tipo tudo ou nada, mas que ainda pode dar certo: impor um candidato da sua escolha para as próximas eleições presidenciais e ao mesmo tempo debelar qualquer foco de resistência. O resto era fazer a máquina do governo funcionar a favor do partido da situação, como todo mundo faz.
No jantar em Lisboa meu amigo e eu discutimos muito sobre os prós e contras dessa estratégia. Ele me contou de descontentamentos dentro do PT que, de longe e pela imprensa, na verdade não dá para perceber. Mais ainda quando a ministra ficou doente. Apesar de toda a campanha que vão fazer para dizer que a doença está superada, a verdade é que mesmo que esteja curada, o risco de Dilma voltar a ter problemas de saúde é muito maior do que para alguém que nunca tenha tido câncer. Há um risco grande de volta da doença, que costuma ser durante os primeiros seis meses depois da quimioterapia, e há um risco de médio prazo que é durante os cinco anos depois da "cura". Em ambos casos, o timing é o pior possível: ter uma recaída durante a campanha eleitoral não mataria a candidata, mas provavelmente sim sua candidatura. Se eleita, uma recaída durante o mandato poria o país nas mãos do vice-presidente. Melhor que o candidato seja escolhido a dedo.
Como se não bastassem estes problemas, nos últimos dias surgiram dois fatores novos que vão mudar muito o cenário eleitoral. O primeiro e mais importante é a provável candidatura da ex-ministra e senadora Marina Silva pelo PV, com eventual apoio do PSOL. Esta candidatura não só tem potencial para crescer e portanto ajudar a provocar um segundo turno nas eleições, como pode ter o excelente efeito de trazer os temas ecológicos para o debate presidencial. Está mais do que na hora de debatermos assuntos urgentes, como o tamanho excessivo das nossas metrópoles, a falta de uma política urbana, o saneamento básico, o tratamento das águas e uma política séria de mananciais e despoluição dos nossos rios, além de um longo etecétera. Esperemos que o debate verde não se restrinja aos micro-temas preservacionistas e seja feito com os pés no chão.
Tampouco parece que a candidatura artificial do Ciro Gomes ao governo de São Paulo vá dar certo. Ele parece mais inclinado a concorrer para o Planalto. Se assim for, dificultará muito as coisas para o PT e pode até precipitar que a Geni da política brasileira o apóie ao invés de fazer uma grande coalizão nacional com o partido do Lula.
No último fim de semana o data-folha publicou pesquisa de intenção de voto para as eleições do ano que vem. Uma eleição que tivesse Serra, Dilma, Ciro e Marina concorrendo muito provavelmente iria para segundo turno. Ouso até a fazer uma aposta: o tira teima poderia ser entre Serra e Ciro, não o plebiscito que o presidente tanto deseja. Não há nada assegurado sobre quem será o próximo presidente. O melhor seria tentar assegurar que seu programa de governo fosse aquele que o país precisa. Seja quem for o eleito, só faltam 500 dias para o novo governo começar.
Comentamos a provável candidatura da ministra Dilma à Presidência da República. Nas cinco eleições diretas desde a constituição de 88, o candidato do PT sempre foi o Lula. Desta vez ele não pode concorrer. Aí mora o perigo, pois o Lula é imensamente melhor e maior do que o PT. Além disso, a busca de um candidato poderia gerar uma guerra entre as várias correntes e facções que co-habitam no partido.
Lula não é culto (ao menos se é não o demonstra), mas parece ser muito inteligente; e é inegável que tem um imenso talento político. Nos seus dois mandatos evitou todos os conflitos que pôde, o que ajuda a explicar parte da popularidade que tem. É uma pena para o Brasil, pois deixou passar talvez nossa melhor oportunidade de fazer as reformas que são tão necessárias para o país. Mas fazer reformas implica mudanças, entrar em conflito com interesses estabelecidos, e disso ele fugiu como o diabo da cruz.
Apesar da popularidade, Lula conhece os limites do que pode fazer. Não tentou aprovar uma emenda constitucional permitindo candidatar-se a mais um mandato. É uma prova não da sua integridade democrática, que não discuto, mas do seu talento político: se a CPMF foi derrubada no Senado, uma emenda da re-reeleição poderia ter o mesmo destino. Provavelmente teria. Era um risco grande demais para correr. Conhecendo seu partido, optou por uma jogada imensamente arriscada, do tipo tudo ou nada, mas que ainda pode dar certo: impor um candidato da sua escolha para as próximas eleições presidenciais e ao mesmo tempo debelar qualquer foco de resistência. O resto era fazer a máquina do governo funcionar a favor do partido da situação, como todo mundo faz.
No jantar em Lisboa meu amigo e eu discutimos muito sobre os prós e contras dessa estratégia. Ele me contou de descontentamentos dentro do PT que, de longe e pela imprensa, na verdade não dá para perceber. Mais ainda quando a ministra ficou doente. Apesar de toda a campanha que vão fazer para dizer que a doença está superada, a verdade é que mesmo que esteja curada, o risco de Dilma voltar a ter problemas de saúde é muito maior do que para alguém que nunca tenha tido câncer. Há um risco grande de volta da doença, que costuma ser durante os primeiros seis meses depois da quimioterapia, e há um risco de médio prazo que é durante os cinco anos depois da "cura". Em ambos casos, o timing é o pior possível: ter uma recaída durante a campanha eleitoral não mataria a candidata, mas provavelmente sim sua candidatura. Se eleita, uma recaída durante o mandato poria o país nas mãos do vice-presidente. Melhor que o candidato seja escolhido a dedo.
Como se não bastassem estes problemas, nos últimos dias surgiram dois fatores novos que vão mudar muito o cenário eleitoral. O primeiro e mais importante é a provável candidatura da ex-ministra e senadora Marina Silva pelo PV, com eventual apoio do PSOL. Esta candidatura não só tem potencial para crescer e portanto ajudar a provocar um segundo turno nas eleições, como pode ter o excelente efeito de trazer os temas ecológicos para o debate presidencial. Está mais do que na hora de debatermos assuntos urgentes, como o tamanho excessivo das nossas metrópoles, a falta de uma política urbana, o saneamento básico, o tratamento das águas e uma política séria de mananciais e despoluição dos nossos rios, além de um longo etecétera. Esperemos que o debate verde não se restrinja aos micro-temas preservacionistas e seja feito com os pés no chão.
Tampouco parece que a candidatura artificial do Ciro Gomes ao governo de São Paulo vá dar certo. Ele parece mais inclinado a concorrer para o Planalto. Se assim for, dificultará muito as coisas para o PT e pode até precipitar que a Geni da política brasileira o apóie ao invés de fazer uma grande coalizão nacional com o partido do Lula.
No último fim de semana o data-folha publicou pesquisa de intenção de voto para as eleições do ano que vem. Uma eleição que tivesse Serra, Dilma, Ciro e Marina concorrendo muito provavelmente iria para segundo turno. Ouso até a fazer uma aposta: o tira teima poderia ser entre Serra e Ciro, não o plebiscito que o presidente tanto deseja. Não há nada assegurado sobre quem será o próximo presidente. O melhor seria tentar assegurar que seu programa de governo fosse aquele que o país precisa. Seja quem for o eleito, só faltam 500 dias para o novo governo começar.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
ASAMG - Bases Americanas na Colômbia
Um grande amigo está me visitando aqui em Portugal. Normalmente é um enorme prazer conversar com ele, porque além de muito bem informado é inteligente e sagaz. Por vezes discordamos em um ou outro assunto, mas em geral nossa percepção do mundo não é muito diferente.
Sábado passado, almoçando no restaurante "Cafeína" no Porto, entramos numa trajetória de colisão que poderia ter estragado nosso almoço. Como nenhum dos dois tem vinte e poucos anos, rapidamente desviamos o rumo da conversa para temas mais amenos. Evitamos o desastre. Que assunto era este que poderia ter levado a uma discussão emocional e acalorada? A instalação das bases militares americanas na Colômbia.
Já tinha lido alguma coisa a respeito na imprensa, mas na verdade não tinha dado a menor importância. Achava que os protestos eram os de costume da esquerda Carolina, que é contra qualquer coisa que seja americana. Naquele início de discussão percebi que era muito mais que isso: alergia aos americanos tornada questão nacional e de princípios. Entre seus argumentos, meu amigo disse que não eram só os idiotas de sempre que estavam protestando, que muita gente no Brasil se opunha. Sabendo-me um admirador do FHC, disse que até ele era contra. Bueno, não me rendo tão facilmente ao argumento da autoridade. Se o Fernando Henrique realmente é contra, então acho que ele se equivoca, e não que tenha razão.
Meu último comentário sobre o assunto foi uma constatação com sabor amargo. Disse-lhe: "Por isso que não posso voltar a viver no Brasil. Minha vida ia ser um inferno, o tempo todo estaria me chocando contra uma mentalidade provinciana que abomino." E completei que me sentia muito à vontade para defender o uso das bases porque, não sendo anti-americano de carteirinha, costumo ser muito crítico com as ações dos EEUU no mundo.
Durante esta semana li tudo que pude sobre este tema. Há muito jogo de cena, de lado a lado gente com agenda oculta dizendo o que convém e não a verdade. O mais incrível dos argumentos é o de que o uso das bases por parte de tropas americanas desestabilizaria a América do Sul, seria uma ameaça e poderia inclusive derivar num conflito armado. Ora bem, comecemos exatamente por aí: qual é e tem sido, nos últimos anos, o maior fator de desestabilização na América do Sul? Quem faz ameaças militares? Quem mobiliza tropas na fronteira? Quem tem usado o dinheiro da bonança do petróleo para comprar armas e reequipar seu exército? Quem está criando em seu país um exército paralelo para defender sua revolução? Que governo vai ter sérios problemas econômicos e poderia buscar a via de escape em um conflito militar? Quem apóia desavergonhadamente grupos guerrilheiros que atuam em país vizinho? Essa é a maior ameaça para a América do Sul e todas estas perguntas apontam numa mesma direção: Venezuela.
Por seu lado, a Colômbia tem sido desgraçada durante décadas pela guerrilha esquerdista, pela reação paramilitar e pelo narcotráfico. Se não fosse problema suficiente, tem um vizinho mais que incômodo e que se torna uma ameaça cada dia maior e cada vez mais concreta. Portanto, deixar os americanos usarem suas bases nada mais é que uma medida preventiva, dissuasória. Chávez poderia buscar uma desculpa para criar um conflito com a Colômbia. Nos últimos anos não se cansou de ensaiá-lo. Mas se os americanos estiverem por lá, provavelmente nem ele é tão irresponsável a ponto de embarcar neste tipo de aventura.
Portanto, não é de se estranhar que o presidente Chávez seja quem mais protesta. Ele e seus aliados diretos. São claramente perdedores nesta história. Mas e porque um governo como o Brasileiro também é contra? Porque é um enorme fracasso na política externa do presidente Lula, mais um de uma longa lista. O governo brasileiro tem tentado projetar a imagem de líder soft da América do Sul. Para consegui-lo, não pára de engolir sapos dos companheiros esquerdistas, os presidentes da Venezuela, Equador, Bolívia ou mesmo Argentina. Ao pôr panos quentes nas bobagens bolivarianas, acaba criando desconfiança por parte da Colômbia. Surpreende que eles se sintam mais à vontade com a proteção dos Estados Unidos? Parece-me que não, mas ao fazê-lo, vai por água abaixo não só a unidade sul americana, como a pretensa liderança da diplomacia brasileira. Mais uma vez, em política internacional o Brasil fica nu.
Álvaro Uribe é o maior estadista que a América Latina produziu em muitas décadas. Ele conseguiu a proeza de regatar seu país, até pouco tempo refém de banditismos vários. Onde num passado recente reinavam a violência e o desespero, hoje há progresso e esperança. É possível que em vinte anos a Colômbia se torne um país tão próspero quanto a Espanha. Já a Venezuela e satélites, em vinte anos estarão pagando caro os desvarios bolivarianos.
São dois modelos completamente diferentes de país e sociedade. Incompatíveis entre si. Não dá para ficar em cima do muro. Quanto a mim, tenho muito claro de que lado estou. Por isso sou a favor das bases americanas na Colômbia.
Sábado passado, almoçando no restaurante "Cafeína" no Porto, entramos numa trajetória de colisão que poderia ter estragado nosso almoço. Como nenhum dos dois tem vinte e poucos anos, rapidamente desviamos o rumo da conversa para temas mais amenos. Evitamos o desastre. Que assunto era este que poderia ter levado a uma discussão emocional e acalorada? A instalação das bases militares americanas na Colômbia.
Já tinha lido alguma coisa a respeito na imprensa, mas na verdade não tinha dado a menor importância. Achava que os protestos eram os de costume da esquerda Carolina, que é contra qualquer coisa que seja americana. Naquele início de discussão percebi que era muito mais que isso: alergia aos americanos tornada questão nacional e de princípios. Entre seus argumentos, meu amigo disse que não eram só os idiotas de sempre que estavam protestando, que muita gente no Brasil se opunha. Sabendo-me um admirador do FHC, disse que até ele era contra. Bueno, não me rendo tão facilmente ao argumento da autoridade. Se o Fernando Henrique realmente é contra, então acho que ele se equivoca, e não que tenha razão.
Meu último comentário sobre o assunto foi uma constatação com sabor amargo. Disse-lhe: "Por isso que não posso voltar a viver no Brasil. Minha vida ia ser um inferno, o tempo todo estaria me chocando contra uma mentalidade provinciana que abomino." E completei que me sentia muito à vontade para defender o uso das bases porque, não sendo anti-americano de carteirinha, costumo ser muito crítico com as ações dos EEUU no mundo.
Durante esta semana li tudo que pude sobre este tema. Há muito jogo de cena, de lado a lado gente com agenda oculta dizendo o que convém e não a verdade. O mais incrível dos argumentos é o de que o uso das bases por parte de tropas americanas desestabilizaria a América do Sul, seria uma ameaça e poderia inclusive derivar num conflito armado. Ora bem, comecemos exatamente por aí: qual é e tem sido, nos últimos anos, o maior fator de desestabilização na América do Sul? Quem faz ameaças militares? Quem mobiliza tropas na fronteira? Quem tem usado o dinheiro da bonança do petróleo para comprar armas e reequipar seu exército? Quem está criando em seu país um exército paralelo para defender sua revolução? Que governo vai ter sérios problemas econômicos e poderia buscar a via de escape em um conflito militar? Quem apóia desavergonhadamente grupos guerrilheiros que atuam em país vizinho? Essa é a maior ameaça para a América do Sul e todas estas perguntas apontam numa mesma direção: Venezuela.
Por seu lado, a Colômbia tem sido desgraçada durante décadas pela guerrilha esquerdista, pela reação paramilitar e pelo narcotráfico. Se não fosse problema suficiente, tem um vizinho mais que incômodo e que se torna uma ameaça cada dia maior e cada vez mais concreta. Portanto, deixar os americanos usarem suas bases nada mais é que uma medida preventiva, dissuasória. Chávez poderia buscar uma desculpa para criar um conflito com a Colômbia. Nos últimos anos não se cansou de ensaiá-lo. Mas se os americanos estiverem por lá, provavelmente nem ele é tão irresponsável a ponto de embarcar neste tipo de aventura.
Portanto, não é de se estranhar que o presidente Chávez seja quem mais protesta. Ele e seus aliados diretos. São claramente perdedores nesta história. Mas e porque um governo como o Brasileiro também é contra? Porque é um enorme fracasso na política externa do presidente Lula, mais um de uma longa lista. O governo brasileiro tem tentado projetar a imagem de líder soft da América do Sul. Para consegui-lo, não pára de engolir sapos dos companheiros esquerdistas, os presidentes da Venezuela, Equador, Bolívia ou mesmo Argentina. Ao pôr panos quentes nas bobagens bolivarianas, acaba criando desconfiança por parte da Colômbia. Surpreende que eles se sintam mais à vontade com a proteção dos Estados Unidos? Parece-me que não, mas ao fazê-lo, vai por água abaixo não só a unidade sul americana, como a pretensa liderança da diplomacia brasileira. Mais uma vez, em política internacional o Brasil fica nu.
Álvaro Uribe é o maior estadista que a América Latina produziu em muitas décadas. Ele conseguiu a proeza de regatar seu país, até pouco tempo refém de banditismos vários. Onde num passado recente reinavam a violência e o desespero, hoje há progresso e esperança. É possível que em vinte anos a Colômbia se torne um país tão próspero quanto a Espanha. Já a Venezuela e satélites, em vinte anos estarão pagando caro os desvarios bolivarianos.
São dois modelos completamente diferentes de país e sociedade. Incompatíveis entre si. Não dá para ficar em cima do muro. Quanto a mim, tenho muito claro de que lado estou. Por isso sou a favor das bases americanas na Colômbia.
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