quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ASAMG - Só Mais 500 Dias

Há duas semanas jantei com o mesmo amigo do post anterior. Desta vez foi no "Alcântara Café", em Lisboa. No dia seguinte eu partia para uma semana de férias na Suécia, dois dias depois ele voltava para o Brasil. Foi um jantar descontraído, no qual falamos sobre comida, vinhos, suas impressões sobre Portugal e, como não podia deixar de ser, política.

Comentamos a provável candidatura da ministra Dilma à Presidência da República. Nas cinco eleições diretas desde a constituição de 88, o candidato do PT sempre foi o Lula. Desta vez ele não pode concorrer. Aí mora o perigo, pois o Lula é imensamente melhor e maior do que o PT. Além disso, a busca de um candidato poderia gerar uma guerra entre as várias correntes e facções que co-habitam no partido.

Lula não é culto (ao menos se é não o demonstra), mas parece ser muito inteligente; e é inegável que tem um imenso talento político. Nos seus dois mandatos evitou todos os conflitos que pôde, o que ajuda a explicar parte da popularidade que tem. É uma pena para o Brasil, pois deixou passar talvez nossa melhor oportunidade de fazer as reformas que são tão necessárias para o país. Mas fazer reformas implica mudanças, entrar em conflito com interesses estabelecidos, e disso ele fugiu como o diabo da cruz.

Apesar da popularidade, Lula conhece os limites do que pode fazer. Não tentou aprovar uma emenda constitucional permitindo candidatar-se a mais um mandato. É uma prova não da sua integridade democrática, que não discuto, mas do seu talento político: se a CPMF foi derrubada no Senado, uma emenda da re-reeleição poderia ter o mesmo destino. Provavelmente teria. Era um risco grande demais para correr. Conhecendo seu partido, optou por uma jogada imensamente arriscada, do tipo tudo ou nada, mas que ainda pode dar certo: impor um candidato da sua escolha para as próximas eleições presidenciais e ao mesmo tempo debelar qualquer foco de resistência. O resto era fazer a máquina do governo funcionar a favor do partido da situação, como todo mundo faz.

No jantar em Lisboa meu amigo e eu discutimos muito sobre os prós e contras dessa estratégia. Ele me contou de descontentamentos dentro do PT que, de longe e pela imprensa, na verdade não dá para perceber. Mais ainda quando a ministra ficou doente. Apesar de toda a campanha que vão fazer para dizer que a doença está superada, a verdade é que mesmo que esteja curada, o risco de Dilma voltar a ter problemas de saúde é muito maior do que para alguém que nunca tenha tido câncer. Há um risco grande de volta da doença, que costuma ser durante os primeiros seis meses depois da quimioterapia, e há um risco de médio prazo que é durante os cinco anos depois da "cura". Em ambos casos, o timing é o pior possível: ter uma recaída durante a campanha eleitoral não mataria a candidata, mas provavelmente sim sua candidatura. Se eleita, uma recaída durante o mandato poria o país nas mãos do vice-presidente. Melhor que o candidato seja escolhido a dedo.

Como se não bastassem estes problemas, nos últimos dias surgiram dois fatores novos que vão mudar muito o cenário eleitoral. O primeiro e mais importante é a provável candidatura da ex-ministra e senadora Marina Silva pelo PV, com eventual apoio do PSOL. Esta candidatura não só tem potencial para crescer e portanto ajudar a provocar um segundo turno nas eleições, como pode ter o excelente efeito de trazer os temas ecológicos para o debate presidencial. Está mais do que na hora de debatermos assuntos urgentes, como o tamanho excessivo das nossas metrópoles, a falta de uma política urbana, o saneamento básico, o tratamento das águas e uma política séria de mananciais e despoluição dos nossos rios, além de um longo etecétera. Esperemos que o debate verde não se restrinja aos micro-temas preservacionistas e seja feito com os pés no chão.

Tampouco parece que a candidatura artificial do Ciro Gomes ao governo de São Paulo vá dar certo. Ele parece mais inclinado a concorrer para o Planalto. Se assim for, dificultará muito as coisas para o PT e pode até precipitar que a Geni da política brasileira o apóie ao invés de fazer uma grande coalizão nacional com o partido do Lula.

No último fim de semana o data-folha publicou pesquisa de intenção de voto para as eleições do ano que vem. Uma eleição que tivesse Serra, Dilma, Ciro e Marina concorrendo muito provavelmente iria para segundo turno. Ouso até a fazer uma aposta: o tira teima poderia ser entre Serra e Ciro, não o plebiscito que o presidente tanto deseja. Não há nada assegurado sobre quem será o próximo presidente. O melhor seria tentar assegurar que seu programa de governo fosse aquele que o país precisa. Seja quem for o eleito, só faltam 500 dias para o novo governo começar.

Nenhum comentário: