Um grande amigo está me visitando aqui em Portugal. Normalmente é um enorme prazer conversar com ele, porque além de muito bem informado é inteligente e sagaz. Por vezes discordamos em um ou outro assunto, mas em geral nossa percepção do mundo não é muito diferente.
Sábado passado, almoçando no restaurante "Cafeína" no Porto, entramos numa trajetória de colisão que poderia ter estragado nosso almoço. Como nenhum dos dois tem vinte e poucos anos, rapidamente desviamos o rumo da conversa para temas mais amenos. Evitamos o desastre. Que assunto era este que poderia ter levado a uma discussão emocional e acalorada? A instalação das bases militares americanas na Colômbia.
Já tinha lido alguma coisa a respeito na imprensa, mas na verdade não tinha dado a menor importância. Achava que os protestos eram os de costume da esquerda Carolina, que é contra qualquer coisa que seja americana. Naquele início de discussão percebi que era muito mais que isso: alergia aos americanos tornada questão nacional e de princípios. Entre seus argumentos, meu amigo disse que não eram só os idiotas de sempre que estavam protestando, que muita gente no Brasil se opunha. Sabendo-me um admirador do FHC, disse que até ele era contra. Bueno, não me rendo tão facilmente ao argumento da autoridade. Se o Fernando Henrique realmente é contra, então acho que ele se equivoca, e não que tenha razão.
Meu último comentário sobre o assunto foi uma constatação com sabor amargo. Disse-lhe: "Por isso que não posso voltar a viver no Brasil. Minha vida ia ser um inferno, o tempo todo estaria me chocando contra uma mentalidade provinciana que abomino." E completei que me sentia muito à vontade para defender o uso das bases porque, não sendo anti-americano de carteirinha, costumo ser muito crítico com as ações dos EEUU no mundo.
Durante esta semana li tudo que pude sobre este tema. Há muito jogo de cena, de lado a lado gente com agenda oculta dizendo o que convém e não a verdade. O mais incrível dos argumentos é o de que o uso das bases por parte de tropas americanas desestabilizaria a América do Sul, seria uma ameaça e poderia inclusive derivar num conflito armado. Ora bem, comecemos exatamente por aí: qual é e tem sido, nos últimos anos, o maior fator de desestabilização na América do Sul? Quem faz ameaças militares? Quem mobiliza tropas na fronteira? Quem tem usado o dinheiro da bonança do petróleo para comprar armas e reequipar seu exército? Quem está criando em seu país um exército paralelo para defender sua revolução? Que governo vai ter sérios problemas econômicos e poderia buscar a via de escape em um conflito militar? Quem apóia desavergonhadamente grupos guerrilheiros que atuam em país vizinho? Essa é a maior ameaça para a América do Sul e todas estas perguntas apontam numa mesma direção: Venezuela.
Por seu lado, a Colômbia tem sido desgraçada durante décadas pela guerrilha esquerdista, pela reação paramilitar e pelo narcotráfico. Se não fosse problema suficiente, tem um vizinho mais que incômodo e que se torna uma ameaça cada dia maior e cada vez mais concreta. Portanto, deixar os americanos usarem suas bases nada mais é que uma medida preventiva, dissuasória. Chávez poderia buscar uma desculpa para criar um conflito com a Colômbia. Nos últimos anos não se cansou de ensaiá-lo. Mas se os americanos estiverem por lá, provavelmente nem ele é tão irresponsável a ponto de embarcar neste tipo de aventura.
Portanto, não é de se estranhar que o presidente Chávez seja quem mais protesta. Ele e seus aliados diretos. São claramente perdedores nesta história. Mas e porque um governo como o Brasileiro também é contra? Porque é um enorme fracasso na política externa do presidente Lula, mais um de uma longa lista. O governo brasileiro tem tentado projetar a imagem de líder soft da América do Sul. Para consegui-lo, não pára de engolir sapos dos companheiros esquerdistas, os presidentes da Venezuela, Equador, Bolívia ou mesmo Argentina. Ao pôr panos quentes nas bobagens bolivarianas, acaba criando desconfiança por parte da Colômbia. Surpreende que eles se sintam mais à vontade com a proteção dos Estados Unidos? Parece-me que não, mas ao fazê-lo, vai por água abaixo não só a unidade sul americana, como a pretensa liderança da diplomacia brasileira. Mais uma vez, em política internacional o Brasil fica nu.
Álvaro Uribe é o maior estadista que a América Latina produziu em muitas décadas. Ele conseguiu a proeza de regatar seu país, até pouco tempo refém de banditismos vários. Onde num passado recente reinavam a violência e o desespero, hoje há progresso e esperança. É possível que em vinte anos a Colômbia se torne um país tão próspero quanto a Espanha. Já a Venezuela e satélites, em vinte anos estarão pagando caro os desvarios bolivarianos.
São dois modelos completamente diferentes de país e sociedade. Incompatíveis entre si. Não dá para ficar em cima do muro. Quanto a mim, tenho muito claro de que lado estou. Por isso sou a favor das bases americanas na Colômbia.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
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