Nosso presidente acaba de fazer uma viagem a Cuba. No programa estavam encontros com o ditador atual e o seu irmão e antecessor. Financiamentos e apoio ao regime feitos com dinheiro dos impostos dos brasileiros. E nem uma palavra amiga aos presos políticos que sofrem as durezas da cana (não a de açúcar) do paraíso socialista caribenho. A visita de Lula coincidiu com a morte de um preso político que estava há oitenta e cinco dias em greve de fome. O caso gerou indignação mundo afora por parte de toda pessoa decente que se indigna diante de uma injustiça. Da parte da nossa esquerda "ni mu", caluda total.
Confesso que o caso de Cuba para mim é incompreensível: há alguma dúvida de que se trate de uma ditadura de partido único? Alguém põe em dúvida a existência de presos políticos? É evidente que não existe liberdade de organização, liberdade de opinião, liberdade de expressão, separação de poderes, respeito aos direitos humanos, liberdade de ir e vir, nada que minimamente poderia indicar que se trata de um país democrático. Para cúmulo, não há nem sequer prosperidade material, pois a economia não se desenvolve e a sociedade cubana é cada dia mais pobre. Diante de tanto horror, como é possível defender o regime dos irmãos Castro?
No entanto, a ditadura socialista cubana tem milhões de defensores pela América Latina (na Europa também, afinal burrice é uma qualidade bastante bem repartida entre a humanidade). Será que ninguém pensa nas pessoas que têm que viver lá, que não têm sequer a possibilidade de votar com os pés, ou seja, de se mandar e ir tentar a vida num lugar melhor se assim o desejassem? Apesar dos admiradores dos Castros defenderem a revolução com unhas e dentes, nunca conheci nenhum que se dispusesse a ir viver lá. Aliás, entre meus muitos amigos esquerdistas, há vários que quando tiveram a oportunidade, vieram viver uns anos na Europa ou foram para os Estados Unidos. Nenhum foi viver em Cuba. Os milhões de emigrantes latinoamericanos que procuram um lugar melhor para viver vêm também para a Europa ou vão para os Estados Unidos. Nenhum vai para Cuba. Os ditadores da ilha tampouco permitem que quem não esteja satisfeito vá embora. Devem saber qual seria o resultado se abrissem as fronteiras. Ainda assim, Lula foi para a Havana dar um abraço apertado nos seus amigos Fidel e Raul. Será que Lula já se esqueceu do que é sofrer a perseguição de uma ditadura?
Nesses momentos lembro-me de Albert Camus, cuja morte ocorreu há meio século. Na França várias publicações recordam o acontecimento e fazem um balanço tanto da sua obra como de sua trajetória política. Camus foi um homem íntegro, que defendeu suas idéias contra vento e maré, denunciando as arbitrariedades e injustiças do estalinismo em plena guerra fria, muito antes de que as barbaridades cometidas na União Soviética por Stalin fossem de domínio público. Seu argumento poderia se resumir em que os fins não justificam os meios, principalmente se entre os meios está o assassinato, a eliminação física dos inimigos. A publicação do seu ensaio "L'Homme Revolté" pôs toda a intelectualidade bem pensante da época, os esquerdistas do VIème Arrondissement e seus equivalentes no resto do mundo contra ele. Camus foi vítima da poderosíssima patrulha ideológica da esquerda. Nem por isso abriu mão de dizer o que pensava. Quando comparo sua atitude com o servilismo de Garcia Marquez diante do regime cubano, tenho pena do escritor colombiano. Se fosse ele, morreria de vergonha.
Albert Camus escreveu "L'Homme Révolté" em 1951. Há 59 anos já defendia idéias que ainda hoje são vistas como tabu e merecem total repúdio da esquerda latinoamericana. Afinal, qualquer argumento que sirva para justificar a ditadura de partido único que subjuga o povo cubano há cinquenta e um anos é válido, qualquer argumento contra é estar vendido ao império americano. São os mesmos que olham para o outro lado ao invés de reconhecer que, não contente de destruir o tecido econômico da Venezuela e levar o país a todo tipo de racionamento, o governo de Hugo Chavez é cada vez mais ditatorial e tem toda pinta de que ainda vai acabar muito mal.
A História pôs Sartre, antes amigo e depois feroz detrator de Camus, e a intelligentsia comunista da rive gauche no seu devido lugar. Camus estava certo e eles errados. A queda do muro de Berlim em 1989 e o fim dos regimes comunistas na Europa Central e do Leste, bem como o próprio fim da União Soviética permitiram ver qual era a realidade que estava por trás da cortina de ferro. Alguém duvida de que passará o mesmo com Cuba? O problema é que para os que têm que aguentar e viver no paraíso socialista caribenho, nem o fim da ditadura dos Castro vai trazer de volta todos os anos perdidos. Mas parece que os intelectuais bem pensantes não estão nem um pouco preocupados com as maiores vítimas dessa página da História. Ao invés disso, preferem atacar os que dizem que o rei está nu.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
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