Hoje está sendo realizado o primeiro turno das eleições presidenciais na Colombia. Há nove candidatos concorrendo, sendo que dois deles polarizam a preferência dos eleitores: Juan Manuel Santos, ex-ministro da defesa e candidato governista, e o ex-prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, oposicionista. Apesar de Álvaro Uribe ser o presidente com maior índice de aprovação na América Latina, seu candidato Santos terá que enfrentar uma disputa apertada com o candidato do Partido Verde Mockus. As notícias que leio nos jornais e o que ouço de amigos colombianos é que há décadas não se via tanta participação, tanto debate e tanta esperança por trás de eleições presidenciais.
Graças ao presidente Uribe, a Colombia é hoje um exemplo para a América Latina. Apesar de sofrer terrivelmente das três piores pragas que ameaçam o Estado de Direito, a democracia e a convivência (narcotráfico, guerrilha e alta desigualdade na distribuição da renda), Uribe deixará para o seu sucessor um país muito melhor do que herdou do antecessor. Mais importante, deixará uma história de sucesso que deveria fazer pensar as pessoas de bem ligadas à região.
Quando Uribe chegou ao poder a Colombia era um dos países mais violentos do mundo. Lembro-me de uma viagem que fiz a Medellín em meados dos anos noventa. A empresa para a qual trabalhava estava avaliando a possibilidade de se associar com uma empresa local. Nossos possíveis futuros sócios foram nos esperar no aeroporto. Medellín fica num vale e o caminho do aeroporto até a cidade é longo. Para o trajeto até o hotel eles contrataram segurança especial. Havia um todo-terreno com guarda-costas armados até os dentes seguindo os carros onde estávamos, para proteger-nos do que poderia passar. Apesar de ter achado Medellín uma cidade linda, não podíamos botar os pés na rua sozinhos. Sem dúvida havia excesso de zelo dos nossos anfitriões, mas também é verdade que o país era barra pesada.
Andrés Pastrana, o antecessor de Uribe, possivelmente bem intencionado, tentou resolver o problema das guerrilhas de esquerda através da negociação. Concedeu uma zona desmilitarizada onde os terroristas atuavam livremente e empreendeu as ditas negociações. Ao final de três anos ficou claro que os guerrilheiros, principalmente das FARC, estavam usando a trégua para se rearmarem, com apoio dos narcotraficantes, e as negociações eram para inglês ver. O processo de paz foi um estrepitoso fracasso.
Uribe seguiu a estratégia oposta: desde que tomou posse respondeu ao conflito armado com a força de um exército reforçado e melhor equipado. Investiu pesado na capacidade do Estado se defender. Melhorou notavelmente o serviço de informação, fez diversos acordos de ajuda com os Estados Unidos e apostou todas suas fichas em encurralar a guerrilha. Também criou os mecanismos legais através dos quais guerrilheiros e paramilitares podiam abandonar as armas, pegar penas leves e ser reintegrados na sociedade. Indubitavelmente houve muita decisão polêmica, coisas que deram errado, casos de corrupção e abuso de poder. Mas a avaliação geral é de que o Estado está ganhando a luta contra seus inimigos armados e a Colombia hoje é um país imensamente mais seguro do que oito anos atrás.
O grande feito de Uribe foi ter devolvido ao seu país a noção de legalidade, mas este não é o único logro do seu governo. Hoje a Colombia é, ao lado do Brasil, Chile e Peru, candidato a estar entres os países mais desenvolvidos da América Latina dentro de vinte ou trinta anos. E se tudo isso não fosse pouco, mesmo que tenha passado por sua cabeça a idéia de mudar a constituição para permitir-lhe disputar um terceiro mandato, ele hoje não é candidato. A política e as instituições funcionaram com normalidade e Uribe não tentou nenhum subterfúgio de legalidade duvidosa que o permitisse continuar no poder. Prova de que na Colombia a democracia está bastante madura e um dos seus pré-requisitos mais importantes, a separação dos poderes, funciona de fato.
Provavelmente Álvaro Uribe passará para a história como um dos maiores estadistas latino americanos. Para nós, brasileiros, é extremamente triste notar que, nos últimos oito anos, ao invés do Brasil ter se aliado com a Colombia na sua cruzada pelo Estado de Direito, pela democracia e pelo desenvolvimento, nossas relações diplomáticas não foram nada entusiasmadas. Os abraços apertados, as palavras carinhosas, as ajudas ficaram para os ditadores cubanos Fidel e Raul, para o presidente que está destruindo a Venezuela, para Evo Morales e para tantos outros personagens sinistros espalhados pelaí. Tinha toda razão Andres Oppenheimer, do Miami Herald quando no ano passado disse com extrema perspicácia: "a política externa brasileira nos seus melhores momentos é um enigma; nos piores, uma vergonha"
Mas mesmo que isso dê muita raiva aos perfeitos idiotas latino americanos, hoje é dia de festa na Colombia e fico muito feliz de ver o quanto o país está se desenvolvendo. Parabéns Colombia!
domingo, 30 de maio de 2010
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