quinta-feira, 8 de julho de 2010

ASAMG - PT ou PL?

Começou oficialmente a campanha eleitoral! Na disputa para a presidência, três candidatos se destacam dos demais: José Serra do PSDB, Dilma Rousseff do PT e Marina Silva do PV. Segundo as pesquisas de intenção de voto, os demais candidatos teriam uma votação inexpressiva. Não há dúvida que aconteceu a polarização desejada pelo presidente Lula, deixando o cenário muito próximo do embate plebiscitário do tipo "nós contra eles". Se não fossem os 10% do Partido Verde, que deveriam ser suficientes para levar a decisão para o segundo turno, a disputa seria realmente entre duas opções.

Não deixa de ser um empobrecimento político que, num país tão grande e diversificado como o Brasil, haja só duas alternativas viáveis na disputa para o Executivo. Porém também é verdade que a bipolaridade é a regra na maioria das democracias consolidadas: Republicanos versus Democratas nos EUA, PSOE versus PP na Espanha, Trabalhistas versus Conservadores na Austrália, Trabalhistas versus Tories no Reino Unido, CDU/CSU versus Social Democratas na Alemanha (nos dois últimos casos os liberais têm uma fatia crescente da preferência do eleitorado e desempenharam o papel de king makers dos atuais governos) e muitos casos mais.

No Brasil a reflexão interessante é sobre o significado dessa bipolaridade. A primeira coisa a chamar a atenção é o fato de o maior partido brasileiro, o PMDB, não ter candidato próprio. Oficialmente o partido está coligado com o PT, mas há dissidências de peso em vários estados, como São Paulo, que permitem deixar a porta aberta para o PMDB virar casaca e apoiar um eventual governo tucano, no caso da vitória de José Serra. Deliberadamente o PMDB se posicionou no centro do arco político e, dada a sua densidade eleitoral, tornou-se referência para os demais.

À esquerda está o PT. No entanto, as transformações pelas quais passou nos dois mandatos do governo Lula, mais a sua aliança com o PMDB, levaram o partido mais para o centro. A curto e médio prazo é o melhor lugar para estar, pois o eleitorado brasileiro ainda se diz maioritariamente de esquerda, apesar de estar abandonando as bandeiras tradicionais da esquerda do século passado. O desafio para o PT é que ao girar para o centro, abriu um espaço à esquerda que nos últimos vinte anos foi cativo seu. Este espaço pode tanto ser aproveitado pela esquerda Carolina, pelos que não viram o tempo passar na janela e se aferram às teses clássicas socialistas ou comunistas (por exemplo os dissidentes do PT que foram para o PSOL), ou por algo totalmente novo, como um Partido Verde nos moldes dos seus semelhantes europeus. É possível que os 10% de intenção de voto em Marina Silva venham daí, dos desiludidos com as bandeiras socialistas e que se tornaram anti-sistema pela vertente ecológica.

O posicionamento do PT e do PMDB empurrou o PSDB para a direita, querendo ou não. Será enormemente difícil para os tucanos brigarem pelo eleitorado de centro esquerda. O campo que ficou aberto é o de centro direita. A médio e longo prazo há aí uma enorme oportunidade para quem souber aproveitá-la, pois faz falta no Brasil um partido liberal, pró capitalismo e indiscutivelmente democrata. O DEM terá grande dificuldade de ocupar esse espaço, pois sofre de dois pecados originais: nasceu da dissidência do partido dos militares na ditadura (ARENA, Frente Liberal, PFL) e desde o princípio se apoiou em caciquismos regionais. Ao DEM será necessário ao menos mais uma geração para superar esses handicaps.

O PSDB poderia evoluir para essa posição de grande partido liberal, da direita moderna. O problema é que no Brasil ser de direita é considerado uma ofensa. Muita gente primitiva associa direita a ditadura. Pelo mundo afora muitas vezes os liberais são mais democráticos e defendem com mais afinco as liberdades individuais do que esquerdistas de carteirinha. Mas no nosso imaginário político ser liberal ou de direita ainda é palavrão. Não é à toa que muitos analistas argumentem que falta aos tucanos um discurso para ganharem estas eleições. O PSDB foi empurrado para um lugar onde parece que não gostaria de estar. Mas no futuro essa é uma definição estratégica que os tucanos terão que tomar: já se sabe que eles são democratas e modernos, mas querem se apresentar como direita ou esquerda? A má notícia é que não há lugar para todo mundo na esquerda.

Se este quadro é o ponto de partida nestas eleições, não quer dizer que necessariamente seja o que vai prevalecer nos próximos anos. Há muito em jogo em Outubro. Antes de mais nada, a própria estratégia do presidente Lula: ele escolheu sua candidata por dedazo, impôs sua decisão ao partido, obrigou o PT a engolir os ônus da aliança com o PMDB. Tudo isso criou muito mal estar. A própria foto de Dilma ladeada por Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho na convenção do PMDB que lhe impôs Michel Temer como vice vale mais que mil palavras. Uma vitória seria um santo remédio que curaria muitas feridas, mas uma derrota provocaria um terremoto.

No entanto, aconteça o que acontecer, o PT já não é mais aquele, olha a cara dele! O partido perdeu as bandeiras da ética, da honestidade, da integridade, da luta contra a corrupção, das políticas de esquerda, do calote na dívida interna ou externa, dos juros controlados, da luta contra as oligarquias regionais, até a bandeira da democracia interna foi para as calendas ao apoiar aliados em Minas ou no Maranhão. É verdade que Lula é melhor e maior que o PT, mas a maneira como manda no partido implica um enorme desafio para toda a política brasileira nos próximos dez ou vinte anos. Ganhe ou perca Dilma, Lula deixará a presidência da República com vocação para caudilho. Já o antigo Partido dos Trabalhadores terá se transformado no Partido do Lula. Só faltará mudar a sigla para PL. Mal para todo mundo.

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