A campanha eleitoral está esquentando. Dilma disse em comício no Rio que o seu vice não tinha caído do céu. O vice de Serra deu-se por aludido e respondeu com artilharia pesada, gerando polêmica, bate-boca, processos na justiça. Engraçado ninguém ter lembrado à candidata do governo que no seu caso foi ela mesma quem caiu de pára-quedas, escolhida por decisão pessoal, unilateral e autoritária do presidente Lula, quem a impôs goela abaixo ao PT.
Do ponto de vista prático, o dedazo de Lula é simples de explicar e fácil de entender: ao não poder ser ele mesmo candidato, como sempre havia sido desde a criação do PT, havia um enorme risco das disputas internas racharem o partido na hora de escolher um nome. O político que fosse escolhido, mesmo que perdesse as eleições, seria um futuro rival de Lula. Se sua votação fosse boa, o que seria muito provável, poderia postular-se a tentar uma segunda candidatura. Nada disso seria bom para os interesses pessoais do presidente. Melhor escolher uma candidata com fama de boa administradora, obrigar o partido a aceitá-la sem discussão, debelar qualquer foco de rebeldia e costurar a aliança mais poderosa possível para elegê-la, mesmo que ao custo de sacrifícios como o de Minas ou Maranhão. Se mesmo assim não desse certo, nas próximas eleições Lula voltaria a ser o candidato natural do PT. É uma estratégia de tudo ou nada, mas além de ser altamente arriscada, é também muito inteligente.
Em contraposição, no começo do ano os tucanos e seus aliados se desesperavam com a teimosia do talvez possível candidato, o governador de São Paulo José Serra, que não se atirava à piscina e insistia em manter sua agenda sem esclarecer se seria ou não candidato à presidência. Então Dilma nadava de braçada nos noticiários e deu um salto nas pesquisas de intenção de voto. Naquele momento a quase totalidade dos analistas era unânime em dizer que a estratégia de Serra tinha sido a pior de um político com a sua experiência em anos. Os petistas mais eufóricos previam que sua candidata ia disparar na frente do tucano entre fevereiro e março, deixá-lo muito para trás e possivelmente ganhar as eleições no primeiro turno.
Estamos no final de Julho. Os partidos já escolheram seus candidatos, as alianças nacionais estão feitas. Ciro Gomes não concorre a nenhum cargo. Aécio Neves não é o vice de Serra. A economia está bombando. O presidente Lula continua sendo muito bem avaliado pela população. Já passou a copa do mundo, a campanha eleitoral começou oficialmente há três semanas. Por fim, falta pouco mais de dois meses para o primeiro turno e, no fim de semana passado, uma nova pesquisa Datafolha dizia que Serra e Dilma estariam empatados, tanto no primeiro como no segundo turno. Que chatice, pá! Apesar de ter tudo a seu favor, a candidata oficial não decola. Já Serra, que muitos davam por derrotado lá atrás em fevereiro, continua firme na disputa.
Uma das informações interessantes do Datafolha é que os dois candidatos estariam empatados em Minas Gerais. Para ganhar as eleições Dilma precisa de uma vantagem folgada em Minas. Os petistas contavam com uma diferença de quatro milhões de votos no estado. Até o momento este sonho não se materializou. Falava-se muito do voto Dilmásia, mas o que as pesquisas estão mostrando é que muitos dos eleitores que votam em Hélio Costa votarão em Serra, não em Dilma. Por ora Minas está se configurando como um "swing state" e, se for confirmado que em 2010 os mineiros votam diferente de 2006, as coisas vão se complicar muito para o petismo.
A estratégia de Lula não era brilhante? Então, o que está dando errado? O início da campanha na TV e a realização dos debates são as duas últimas chances de fazer funcionar o plano do presidente. Mas talvez Dilma não seja a candidata dos sonhos da maioria dos eleitores. Sua inexperiência eleitoral também deve estar pesando. Como disse Plínio de Arruda Sampaio, a pessoa (Dilma) não é poste, mas a candidatura sim. Pode ter havido um erro de avaliação na hora de costurar a aliança com o PMDB. Abdicar de candidatura própria ao governo de Minas é parte do preço que o PT teve de pagar. Era caro, mas parecia razoável. Talvez, para surpresa de todos, tenha sido um erro estratégico que pode custar a eleição.
Por fim, com base nos dados que são conhecidos até o momento, resta ainda uma variável que pode fazer muita diferença para um lado ou outro: há nesta eleição voto envergonhado? Se há, para quem será? Como é óbvio, só vamos saber depois do primeiro turno, comparando as previsões dos institutos de pesquisa e a contagem dos votos. Se houver, pode ser decisivo, assim como foi para Collor em 1989. Se não houver, reafirmo meu palpite de meses atrás quando dizia que Serra era o favorito nas presidenciais. No mínimo ele está demonstrando muito mais resiliência do que suspeitavam até seus próprios aliados.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
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