quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ASAMG - Tiroteio

Ontem o IBGE divulgou um dado preocupante: a inflação dos últimos doze meses bateu em 7,23%, muito acima da meta máxima de 6,5% fixada pelo governo. Há apenas uns dias o Banco Central diminuiu a taxa interna de juros, com o argumento de que o combate à inflação deveria ser uma combinação entre política fiscal e monetária, e não só baseada em altas taxas de juros, por todos os problemas que gera. Há meses a equipe econômica do governo Dilma tenta vender a idéia de "soft landing" para a inflação, ou seja, levá-la gradualmente de volta ao centro da meta, isso lá por 2012 ou 2013. Que perigo!

Parecia que o Brasil tinha aprendido a valorizar a estabilidade de preços, conquistada a duras penas nos últimos dezoito anos. No entanto os atuais formuladores de política econômica estão flertando irresponsavelmente com a idéia de que inflação um pouco alta não é um problema tão grave e ajuda a estimular o crescimento. Essa gente esquece a lição do falecido Roberto Campos: inflação pequena é como uma pequena gravidez. Cada ponto a mais na taxa de inflação torna muito mais difícil a tarefa de trazer a economia de volta para a estabilidade dos preços, sem contar que estabilidade de verdade é inflação de 2,0 % ao ano e não 4,5 %, muito menos 6,5 %.

Na semana passada o IBGE já tinha publicado outro dado que mostrava que as coisas andavam mal: o crescimento continua desacelerando e atualmente os analistas apontam para uma taxa de 3,5% este ano ao invés dos 5,0% ou mais esperados no começo do ano. Ambos temas estão interligados: a recessão de 2009 foi pior do que o governo Lula previu ou admitiu (convenientemente a revisão do dado oficial só ocorreu depois do segundo turno da eleição presidencial do ano passado, o que permitiu ao lulismo vender o tempo todo a lorota de que graças ao governo a recessão havia sido leve). Para ajudar a eleger sua candidata, Lula pisou no acelerador do gasto público para criar a sensação de bonança econômica. O que ele não contou para os eleitores foi que a gastança ia gerar também inflação. É o que estamos vendo agora.

Além de beneficiar o partido no governo, chego até a duvidar que a enxurrada de gasto público de 2010 tenha mesmo gerado tanto crescimento econômico quanto divulgado. Não me surpreenderia nada que o dado oficial corrigido, que deve ser publicado no final deste ano pelo IBGE, mostrasse um crescimento menor no ano passado que o número atual. Há que reconhecer que os "erros" tanto do IBGE como do IPEA geralmente foram a favor da propaganda do governo anterior. Se isso fosse assim, o relaxamento nas contas públicas teria gerado menos crescimento do que alardeado e mais inflação do que então admitida. Um crescimento artificial, não sustentável a longo prazo, que só serviu para fins políticos.

Neste momento o governo está dando tiro para todos os lados: na semana passada anunciaram um superávit primário suplementar de 10 bilhões de reais, para ajudar no combate à inflação. É uma decisão positiva, mas totalmente insuficiente para compensar a redução da taxa de juros; na mesma semana a imprensa divulgou que o déficit da previdência dos funcionários públicos deve alcançar a incrível soma de 57 bilhões de reais e não houve nenhuma palavra no sentido de que é indispensável atacar esse problema, porque é a maior ameaça à economia brasileira. A reforma fiscal sumiu dos noticiários, o tema só aparece quando algum iluminado propõe a criação de um novo imposto. As possíveis privatizações se arrastam na indefinição e nem sequer os investimentos públicos estão andando.

No começo do ano escrevi aqui que o governo Dilma poderia surpreender positivamente em política econômica. Passados oito meses, a impressão que dá é de descordenação, incompetência e improvisação. Não há o menor sinal de coerência na política econômica. Se tivesse que rever minha opinião hoje, diria que esse governo é um forte candidato a ser um horror. Que pena para o Brasil!

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