Estamos na Austrália desde segunda-feira. Nossa porta de entrada, como a da maioria dos turistas que vêm para cá, foi Sydney. Existe mais ou menos um consenso internacional de que as quatro cidades com as baías mais bonitas do mundo são Hong Kong, São Francisco, Rio de Janeiro e Sydney. Eu talvez agregasse Estocolmo à lista, mas o que é inegável é que a cidade esmeralda é de uma beleza incrível!
Tive sorte de estar sentado na janela à esquerda do avião no vôo de Auckland a Sydney. O avião sobrevoou a cidade desde o mar da Tasmânia e fez uma volta quase completa pelo norte da baía antes de aterrisar no aeroporto em Botany Bay. O dia estava claro, de céu azul, e a vista era fantástica: dava para reconhecer claramente o prédio da Ópera, Harbour Bridge, o centro da cidade.
É surpreendente como está sendo fácil viajar pela Nova Zelândia e por aquí. Há muita coisa pensada para facilitar a vida do turista, portanto não é de se admirar que, mesmo a Austrália e a NZ sendo os "longes absolutos" (estão longe de qualquer lugar que se possa pensar), há muitíssimos turistas por aquí, inclusive muitos brasileiros. Há infra-estrutura para todos tipos de bolso, desde mochileiros até patricinhas e mauricinhos e até o momento temos sido muito bem tratados.
Não dá para deixar de comparar com o Brasil e pensar no quanto o turismo é atrasado e a infra-estrutura é ruim no nosso país. Uma indústria que gera bilhões de US$ de PIB no mundo inteiro e que no Brasil é tão mal tratada! Começa com o problema da mentalidade: ainda tem poucaleitura que acha que não se deve desenvolver infra-estutura para o turista internacional porque o Brasil é para os brasileiros e não se deve gastar dinheiro com algo que será utilizado por estrangeiros. É o tipo de opinião que nem merece ser contra-argumentada, porque se alguém não vê o turismo como um negócio que gera riqueza, emprego e divisas para o país, então todo o resto perde o sentido. O segundo problema é que o brasileiro tem a auto-imagem de povo hospitaleiro, simpático, que agrada todo mundo, mas ao mesmo tempo muita gente ainda vê o turista como o otário a ser explorado, enganado e em alguns casos simplesmente roubado. Enquanto não mudarmos de mentalidade e passarmos a encarar o turista estrangeiro como o cliente que há que agradar para que fale bem do país e um dia volte, não haverá futuro para esta indústria.
Estou exagerando? Uma notícia recente demonstra claramente o nosso terceiromundismo. Leio que oito turistas espanhois foram deportados de Salvador. Segundo os ministros responsáveis, foi simplesmente a aplicação do princípio de reciprocidade diplomática, pelo fato de haver brasileiros que não são permitidos entrar na Espanha. Cada vez que o Brasil usa a reciprocidade diplomática, a galera vibra! Os EEUU exigem visto para brasileiros? Nós exigiremos para eles também. Os franceses são rigorosos e até chatos? Nós também com os franceses. E assim está salvada a honra nacional. Ficamos mais pobres, mas mantemos o orgulho. Com tanto lugar legal para ir no mundo, alguém acha que o americano médio vai se incomodar de tirar um visto para ir para o Brasil? Quantos turistas potenciais perdemos com essa cocorocada? Para quanta gente estes oito espanhois vão falar mal do Brasil e recomendar evitar como destino turístico? Muito melhor para os europeus irem para o sudeste asiático, que é mais barato, mais seguro e as pessoas são melhor tratadas. Não é à toa que Bangkock é a segunda cidade mais visitada do mundo. Mas não adianta tentar argumentar, a reciprocidade diplomática é uma vaca sagrada, e é muito mais fácil dois ou mesmo três camelos passarem pelo buraco da agulha do que modernizar nossa diplomacia.
Fazer comparações é desolador. A Austrália usa Sydney como polo de atração, para fazer pessoas do mundo inteiro empreenderem as muitas horas de vôo até o país, e em seguida põe à sua disposição uma amplíssima oferta de destinos e possibilidades de passeios. No Brasil o óbvio seria utilizar o Rio de Janeiro como porta de entrada no país. Nas incontáveis viagens que fiz na vida, muitas vezes encontrei gente que não sabia quase nada sobre o Brasil. No entanto, do Rio de Janeiro e de Copacabana todo mundo ouviu falar. Mesmo que não saiba bem o que é, a imagem é sempre de um lugar paradisíaco, com o qual sonhar. É a marca mais potente que o país tem. E o que fazemos? Deixamos o Rio definhar décadas a fio. Juscelino foi um grande presidente, mas a pior decisão da história da República foi construir Brasília. Há muitas razões para pensar assim, mas se por mais não fosse, a decadência do Rio de Janeiro nas últimas décadas já seria razão mais que suficiente para lamentar a mudança da capital. E ao invés de usar o Rio como ponto de atração, a cidade acaba virando um destino a ser evitado, por causa da violência. E nada parece ser feito, como se não tivesse muita importância.
Gostaria de pensar que nem tudo está perdido. Nos próximos anos teremos uma grande oportunidade para reverter este quadro tão lamentável. Ao organizar a Copa de 2014 poderíamos pôr em prática uma estratégia que permitisse ao país estar entre as potencias mundiais da indústria do turismo. Para que? Para gerar riqueza e criar oportunidades de melhora de vida para centenas de milhares de familias. É uma oportunidade de ouro, mas que também é muito fácil de ser desperdiçada nos meandros das politicagens e interesses de partidos, governadores e prefeitos. Se desenvolvêssemos uma política para o turismo com sentido de interesse nacional, muita coisa poderia ser feita. Do contrário, continuaremos sendo um Zé ninguém também nesta área. A Ásia, o Caribe, a Europa e muitos outros lugares pelo mundo afora agradecem.
domingo, 9 de março de 2008
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