sexta-feira, 9 de maio de 2008

ASAMG - Quinze anos fora: o que não mudou (dois)

Hoje encerro meu balanço sobre os últimos quinze anos. Vou me dedicar à minha maltratada cidade, São Paulo. Opino que as duas piores mudanças foram o aumento da violência e os engarrafamentos de trânsito. Quando estive pela primeira vez na Cidade do México, em 1995, três coisas me chamaram a atenção: era o lugar mais parecido com São Paulo que tinha conhecido até então (todavia não mudei de opinião); quando me contaram que as pessoas ricas e importantes andavam em carros blindados por medo de assalto e sequestro, achei aquilo deprimente e me alegrei de que em Sampa não houvesse nem sequestros nem as pessoas necessitassem se locomover em carros blindados; por fim o trânsito e a poluição me pareceram insuportáveis. Bueno, treze anos depois São Paulo e Cidade do México são ainda mais parecidas, dado que atualmente na primeira também abundam os carros blindados, os sequestros e os engarrafamentos a qualquer hora do dia.

Conto outra história. Em 1997 a empresa para a qual trabalhava decidiu investir no Brasil. Eu fui o responsável pelo projeto de uma das divisões. Um dia três diretores da matriz alemã foram ao Brasil ver o andamento do investimento. Eu os acompanhei. A última etapa da visita era ir até Caieiras, ao norte de São Paulo, ver o local onde seria montada a fábrica. De lá iríamos para o aeroporto de Cumbica, de onde eles voariam para a Alemanha. Prevendo o trânsito na marginal deixamos bastante margem para chegar com suficiente antecedência a Guarulhos. Apesar de nossa previsão, o trânsito na marginal Tietê estava muito pior do que o imaginado e demoramos mais de três horas para chegar ao aeroporto. Por pouco eles não perderam o avião. Quando finalmente chegamos a Cumbica meu colega local ainda tentou ser positivo comentando que havia planos para construir um anel viário que não só melhoraria o trânsito na cidade como permitiria ir direto de Caieiras até Guarulhos. O chefão perguntou quando estaria pronto. "Em vinte anos" respondeu meu colega. O alemão deu risada.

Onze anos mais tarde, só ficou pronta uma alça do Rodoanel. Seria uma piada se não fosse de tão mal gosto! Até a alça sul ficar pronta, terão passado quase vinte anos. Vinte anos! Quanto tempo mais teremos que esperar para que o a obra inteira seja completa? Outros vinte mais? O mais incompreensível é que tanta gente critique o Rodoanel, quando é indispensável para a cidade. Não é nem sequer uma idéia innovadora, a maioria das grandes metrópoles que conheço têm algo similar. A idéia por trás do Rodoanel é de uma simplicidade comovedora: tirar de dentro da cidade os carros que não precisam passar por ela! Tendo em vista que cada dia há mais carros e as ruas não aumentam, um dos caminhos óbvios para melhorar o trânsito é contribuir para que menos veículos passem por dentro de São Paulo.

Posso entender que não haja dinheiro para tudo que a cidade e o estado necessitam. Sem dúvida é preciso priorizar. Mas a solução não pode ser não fazer nada. É preciso buscar alternativas. A alternativa para financiar o Rodoanel está em qualquer tipo de privatização que possa propiciar os recursos necessários, ainda mais levando em conta que os governos do PT, tanto municipal quando a prefeita era a Marta Suplicy como o Federal com o presidente Lula não ajudaram no financiamento da obra. Eles podem dar a desculpa que queiram, mas a realidade é que não ajudaram porque esta é uma obra identificada com o PSDB - como se fosse mesmo do PSDB e não de todos os 18 milhões de pessoas que vivem na grande São Paulo.

Outra coisa que não mudou é que o metrô não vai para frente. Mais uma vez posso entender que não haja dinheiro para tudo, e quando não há não há. Mas não entendo que os funcionários do metrô, comandados pelos chavistas de sempre (pessoas que argumentam com chavões), se oponham a qualquer forma de privatização das linhas existentes. A privatização geraria pelo menos parte dos recursos para poder expandir a malha. Os cocorocos que se opõem à idéia defendem apenas seus interesses individuais, corporativos, de alguns milhares de trabalhadores. Não têm reparos em opor-se ao interesse de toda a população. Cada vez que se cogita em privatizar o metrô eles fazem greve e criam ainda mais caos na cidade. O mais irônico de tudo é que depois são as mesmas pessoas que criticam que não haja investimentos em transporte coletivo e que se privilegie o transporte privado. Tenho certeza que muita gente andaria de metrô e deixaria o carro na garagem, mas para isso é preciso que haja linhas funcionando!

Espero com grande ansiedade a inauguração da nova linha que passará por Pinheiros. Ainda que tarde, muito tarde, será uma linha de muita utilidade. Mas a verdade é que São Paulo necessita de muitos kms adicionais. Estamos muito mal servidos em termos de transporte em massa. A diferença entre o Rodoanel e o metrô é que o primeiro tem um começo e um fim: quando o círculo estiver fechado a obra estará concluida e seus benefícios serão atingidos na sua totalidade. Já o metrô não tem fim. Sempre será possível fazer uma nova linha. Portanto os eleitores deveriam pressionar para que o Rodoanel seja feito quanto antes melhor e o metrô quanto mais melhor.

Por fim, outra obra que não entendo que não vá para frente é a continuação da Avenida Águas Espraiadas até a Imigrantes. Neste caso provavelmente acontece algo semelhante ao Rodoanel: esta é uma avenida identificada com os ex-prefeitos Janio Quadros e Paulo Maluf. Eu detestava os dois, mas e daí? Um já está morto e o outro responde a processos por eventuais irregularidades na sua gestão, inclusive na contrução de avenida. Mesmo que ela tenha custado muito mais do que deveria ter custado, o que se quer é que se termine a avenida, não que se repitam as mazelas do passado. Não é uma obra nem do Janio nem do Maluf, é uma via usada pelos paulistanos da zona sul que têm que se deslocar para o ABC. Todas as alternativas estão colapsadas. Terminar a avenida é a solução mais óbvia e curta para paliar os problemas de trânsito na região. É inclusive uma maneira de dar maior valor ao que já está feito e pago. Mas não, em doze anos a única novidade foi a contrução do viaduto sobre o rio Pinheiros, no extremo oposto, o que não está mal, mas tampouco é a solução esperada.

Insisto na idéia de que a população de São Paulo está deixando de crescer e que com uma política urbana adequada se poderia promover a desconcentração humana na área metropolitana. A partir daí, todo investimento em infra-estrutura se traduziria imediatamente em melhora no padrão de vida dos paulistanos. A cidade merece, seus habitantes também. Será que algum dia será realidade? Espero poder escrever que sim em menos de quinze anos!

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