Nesta semana o mundo ibero-americano recebeu três ótimas notícias. Numa época em que abundam os problemas é um alívio ver que a longo prazo o trabalho duro e a persistência em determinados objetivos acaba dando os resultados esperados.
Na segunda-feira a guerrilheira mais sanguinária das FARC, o grupo narco-terrorista que infelicita a Colômbia desde 1964, se entregou ao Governo. Nelly Ávila era a comandante da frente 47, uma das setenta frentes de combate em que está dividido este grupo esquerdista. Ela tinha substituido Iván Ríos, anterior comandante da frente 47 e que foi assassinado recentemente pelo chefe de sua segurança Pablo Montoya. Iván Ríos era um dos sete líderes máximos do grupo terrorista FARC. Pablo Montoya se entregou ao Governo e levou consigo o laptop de Reyes, contendo informações sobre a guerrilha.
Aparentemente Nelly, alias Karina, se entregou por estar cansada de tanta guerra e sem esperanças de êxito do projeto bolivariano das FARC. Isso é o que saiu publicado nos jornais. Sempre é sensato duvidar um pouco das versões oficiais. De qualquer maneira sua rendição é duplamente positiva: ao aderir ao plano de paz do governo colombiano, que limita em oito anos de prisão a pena para aqueles que se entregarem e confessarem seus crimes, ela está respaldando a iniciativa de entregar as armas. Por outro lado é um golpe duro para a frente 47, que se prevê que se desintegre, e para a moral dos demais guerrilheiros, cada vez mais baixa.
A segunda excelente notícia veio da França. Na terça-feira a polícia francesa prendeu o máximo responsável pelo grupo terrorista ETA num apartamento da cidade de Bordeaux. Com Francisco Javier Lopez Peña, alias Thierry, foram presas mais três pessoas. Horas mais tarde um quinto comandante terrorista era preso no País Vasco. As imagens televisivas de Thierry são assustadoras - ele tem toda a pinta de ser um desequilibrado emocional extremamente agressivo e perigoso.
ETA nasceu em 1959. Como no seu início suas ações iam dirigidas contra os homens da ditadura franquista, este grupo terrorista durante muito tempo contou com pelo menos alguma simpatia de democratas e opositores de regimes ditatoriais em geral. Em 1973 deu o seu golpe mais espetacular, assassinando em um atentado o Almirante Luis Carrero Blanco, então Presidente do Governo. O problema desses grupos terroristas é que, ainda que no seu nascimento haja algo de louvável em opor-se a ditaduras cruéis como a franquista, seu método - ações terroristas - é totalmente condenável. E a longo prazo nunca dá em coisa boa. Talvez as exceções sejam as guerrilhas que atuam em meio de uma guerra declarada e que ao final da mesma são absorvidas (e absolvidas) pelos ganhadores da guerra. Mas grupelhos terroristas escapam ao controle e são extremamente difíceis de erradicar.
ETA não é exceção. O regime franquista acabou pouco depois da morte do ditador. Desde 1977 a Espanha tem uma constituição democrática e o país consolidou uma democracia moderna onde há liberdade de organização partidária, liberdade de opinião e imprensa, eleições limpas, alternância no poder e o Estado de Direito funciona bastante bem. Mas ETA continua matando. Faz mais de uma década que não desperta nenhum tipo de simpatia da parte de nenhuma pessoa decente, porque está mais do que claro que são simplesmente criminosos fanáticos sem nenhum apreço nem pela vida alheia nem pelas mais elementares normas democráticas.
Derrotar o terrorismo pela via policial (ou militar) é difícil, lento e incerto. Nos últimos anos vários foram os membros do grupo terrorista presos, tanto em ações da polícia espanhola como em ações conjuntas com policiais de outros países europeus, principalmente franceses. Desde fora parece que a organização vai sendo debilitada. O golpe de terça feira foi bastante duro contra estes criminosos. Torçamos para que sirva para acelerar o fim dessa praga que infelicita a Espanha, principalmente no País Vasco.
A terceira boa notícia foi conhecida ontem e confirmada hoje: em 26 de Março deste ano Pedro Antonio Marín, alias Manuel Marulanda, alias Tirofijo morreu de infarte aos quase 78 anos. Tirofijo era o comandante máximo das FARC. Era um guerrilheiro profissional desde que tinha 18 anos e chefe das FARC desde sua fundação em 1964. A notícia em si não é nem boa nem ruim, por muito que alguém possa se alegrar com o fim de um criminoso. O aspecto bom da notícia é que a morte do seu fundador possa ser um golpe do qual a guerrilha não se recupere. Poderia ser a porta aberta à tão desejada paz no país Sulamericano. Seria o êxito da política de mão dura do presidente colombiano contra os narco-terroristas.
O governo de Álvaro Uribe tem colhido sucessivas vitórias no combate às FARC. Neste ano uma ação em solo equatoriano resultou na morte do número dois na hierarquia da guerrilha, Raul Reyes. Reyes também era um dos sete chefes máximos da guerrilha. Nessa ação foi apreendida abundante documentação sobre as entranhas do grupo. Recentemente a Interpol confirmou que os laptops de Reyes e seus guerrilheiros não tinham sido manipulados pelo governo colombiano. Esta informação põe em dificuldades o presidente Hugo Chávez da Venezuela, pois aparentemente há indícios de apoio político, logístico, armamentício e financeiro do governo bolivariano da Venezuela aos guerrilheiros colombianos.
Faz mais de dez anos que acompanho atentamente o que acontece na Colombia. Tenho amigos muito queridos neste país, que é também o meu preferido na América Latina. É lamentável que um povo tão amável seja castigado tão duramente por guerrilhas esquerdistas, narcotraficantes e pelo exército paralelo e ilegal dos paramilitares. A Colombia tem tudo para ser um país tão desenvolvido, tão próspero e tão democrático como a Espanha. Depois de mais de quatro décadas de conflitos, não é possível encontrar nada de positivo que tenha resultado das insurgências de esquerda e direita. Os criminosos, de um lado e do outro, só desgraçaram a Colombia. É muito triste. Torço para que os guerrilheiros se entreguem e para que o país possa superar tanta calamidade. Não me iludo quanto ao narcotráfico, porque este é um negócio de bilhões de dólares e onde há tanto dinheiro em jogo fica muito mais complicado combater a ilegalidade. Mesmo assim, não se pode desistir de aspirar a um futuro melhor. Desejo sorte ao governo de Uribe. Desejo sorte aos colombianos. Espero que em breve haja muitas boas notícias para comemorar!
domingo, 25 de maio de 2008
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