quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ASAMG - Sic transit gloria mundi

Faz um mês que estou no Brasil. Tenho lido muito jornal, conversado com muita gente e frequentado a padaria da esquina para me informar sobre o que acontece por aqui. Até acompanhei a propaganda eleitoral pela TV. Um dos assuntos estrelas é a popularidade do Presidente da República, em números record. Os mais empolgados diziam que o PT ia bombar nestas eleições, que o prestígio do Presidente elegeria até poste. Não aconteceu nem uma coisa nem outra. O grande vencedor foi o PMDB, um personagem em busca de um autor. Até quando o PMDB vai conseguir ter tanto êxito sendo apenas um fiel aliado do Governo, qualquer Governo? Será que eles sobrevivem à mudança geracional que o passar do tempo vai impor? Qui vivra, verra!

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Outra pergunta que não quer calar é por quanto tempo a popularidade do Presidente continuará em alta depois que a crise chegar por aqui. Até agora ele surfou na onda da prosperidade mundial. A onda acabou. Este Governo não promoveu nenhuma das reformas que o país precisa. O Presidente está nu. Será que neste caso ele de novo vai conseguir se fazer de vítima e dizer que não sabia de nada? Que os culpados são os banqueiros do cassino financeiro internacional? Qualquer um menos ele? Qui vivra verra!

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O resultado das eleições em São Paulo decepcionou muita gente. Quando a Marta começou a crescer nas pesquisas houve quem falasse em ganhar no primeiro turno. Não ganharam, nem sequer chegaram na frente do prefeito Kassab. Diante da perspectiva do prefeito se re-eleger ressurge o lugar comum de que o paulistano é conservador ou de direita. Houve uma senhora que disse no jornal que nós seríamos "provincianos e de direita". Bueno, não é o paulistano que é provinciano, é o brasileiro. Dentre todos os brasileiros, opino que o paulistano é menos que os demais. E não é que sejamos de direita, em comparação com os cariocas que seriam de esquerda. É que São Paulo não é uma cidade de funcionários públicos, como o Rio, Brasília e tantas outras. Funcionário público vota mais facilmente na tal "esquerda" para não perder o emprego e ter aumento de salário. Quem trabalha na iniciativa privada vota contra para não ter que pagar mais impostos para sustentar políticos e funcionários públicos. É tão simples quanto isso.

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Hoje a Folha de São Paulo publicou uma pesquisa de intenção de voto indicando que o prefeito estaria muito à frente da candidata do PT para o segundo turno. Alguém devia dizer para a Marta: "Relaxa e goza!"

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Ao chegar aqui fui jantar com um amigo que trabalha no mercado financeiro. É o meu guru econômico. Faz anos que jantamos juntos cada vez que venho para cá. Ele me conta o que está acontecendo na economia e também algumas histórias que não saem publicadas na imprensa. Além de inteligente, é muito bem informado. Sua profissão requer. Durante anos me ajudou a entender o que estava acontecendo por aqui. Esta foi a primeira vez em que discordamos radicalmente num ponto chave: taxa de câmbio. Estivemos longamente discutindo quais eram as perspectivas do Real a curto e longo prazo. Minha opinião era que a tendência de longo prazo era a desvalorização da moeda, até chegar a 2,40 Reais por US$. O problema seria saber com que velocidade aconteceria. Razões? Queda no preço das commodities no mercado internacional, redução drástica da entrada de investimento estrangeiro no Brasil, escassez de crédito e, principalmente, a reversão das expectativas. Eu dizia que notícia ruim pega mais rápido que boa e que a expectativa da desvalorização uma vez assentada seria imparável.

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A desvalorização do Real nos dois últimos meses, principalmente nas duas últimas semanas, me lembrou dos piores momentos do desgoverno Sarney. Ontem o Dólar chegou a bater em 2,45 Reais. É verdade que bater não é ficar e hoje a moeda americana já perdeu força. Os acontecimentos recentes têm mais a ver com volatilidade que com os tais fundamentos da economia. No entanto deveriam nos alertar que não somos imunes a nada. O resfriadinho mencionado pela Ministra/candidata Dilma pode virar pneumonia do dia para a noite. Quem tem barba neste Governo deveria botá-la de molho. Há mais de um...

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Com a desvalorização do Real e a queda das bolsas, o valor das empresas estatais é hoje algumas centenas de bilhões de dólares menor do que era há alguns meses. Seria muito interessante fazer essa conta na ponta do lápis, mas o número é realmente dessa ordem de grandeza: centenas de bilhões de dólares. A este valor seria necessário adicionar o ágio que ocorre em toda venda de empresa, estatal ou privada. Quando o dinheiro era abundante e barato no mercado internacional os ágios eram muito maiores do que poderiam ser agora. Ao não privatizar estas empresas o Governo perdeu a oportunidade de receber estes bilhões de dólares a mais. Isso é um prejuizo líquido, o custo de não ter privatizado. O que os poucaleitura que costumam bravar contra as privatizações teriam a dizer a respeito?

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Governar gastando dinheiro qualquer um sabe fazer. Os eleitores aprovam, como demonstraram estas últimas eleições da época de vacas gordas. Quando as coisas ficam difíceis, aí é que se vê quem é bom de verdade. Os próximos dois anos vão ajudar a separar o joio do trigo. Mais de uma reputação ficará abalada. Sic transit gloria mundi.

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