Com o segundo turno das eleições municipais ontem, já sabemos quem serão os prefeitos das cidades brasileiras pelos próximos quatro anos. Também podemos verificar se as teses defendidas antes das eleições se mostraram verdadeiras ou não. E a pergunta que deveríamos fazer é: que mensagem os eleitores passaram para os políticos?
A primeira tese furada foi a de que o Presidente da República elegeria até poste; que a sua popularidade é tão alta que o seu apoio seria decisivo para o sucesso ou fracasso de uma candidatura. Crasso erro! A popularidade do Presidente não ajudou a eleger ninguém, é dele e instransferível. Muitos candidatos apoiados por Lula perderam. O caso mais notório foi o de Marta Suplicy, que em São Paulo perdeu de lavada. Para mim a explicação é muito simples: Lula é muito melhor do que o PT. Muito mais inteligente também. Enquanto o PT pertence à esquerda Carolina, que não viu o tempo passar na janela e continua com a cabeça nos anos cinquenta e sessenta do século passado, o Presidente é um homem antenado com o mundo. Isso deveria levar o PT a refletir em como será muito difícil encontrar um bom candidato para a sua sucessão. A ministra Dilma me parece um furo n'água. O PT sem Lula candidato vai ter que se reinventar.
A segunda tese, quase um corolário da primeira, era a de que haveria uma maré vermelha, o PT aumentaria o número de prefeitos entre 70 e 100%. Bueno, a realidade foi bem diferente. Em votos no primeiro turno, o partido recebeu praticamente os mesmos 16,3 milhões de 2004, com a diferença de que em 2004 foi o partido mais votado e em 2008 foi o segundo: o PMDB teve 18,4 milhões. O aumento no número de prefeituras foi de pouco mais de 150, 40% de incremento. Não dá para chamar de maré vermelha. O grande vencedor destas eleições foi o PMDB, principalmente depois de ganhar no segundo turno em várias capitais importantes - até em São Paulo eles elegeram a vice-prefeita. É curioso e triste que ganhe o fisiologismo, pois o PMDB é um partido sem cara, sem um programa que o diferencie dos demais. Mas foi o que aconteceu.
Se eu tivesse que me arriscar a dois palpites para os próximos dez a vinte anos, apostaria em duas tendências: quanto mais o país crescer e se desenvolver, menos espaço haverá para a esquerda Carolina. São Paulo, cidade e estado, são o exemplo mais claro. Em consequência será mais flagrante a necessidade de um grande partido de direita, democrática e civilizada. Difícil prever qual partido acabará se posicionando nesse espaço ideológico que hoje está praticamente desocupado. Não vejo melhor candidato que o PMDB, principalmente depois que a natureza se encarregar de expurgar os fisiológicos que aderiram a ele nos últimos vinte anos. Se os partidos não tomarem a iniciativa, os eleitores se encarregarão de colocá-los no seu devido lugar - ou no lugar onde os vêm.
A segunda tendência é a da renovação política, com a superação tanto da ditadura militar quanto da transição. Em muitos lugares políticos jovens e novos ganharam de sessentões - por exemplo em São Paulo e Rio. Dizer que boa parte da patota que lutou contra a ditadura militar em dez anos estará aposentada ou morta pode parecer uma banalidade, dado que ninguém dura para sempre. O que não é banal é o que essa mudança generacional pode significar para o país.
Das cinco eleições desde a restauração da democracia, só na primeira houve um embate real entre direita e esquerda: o segundo turno entre Collor e Lula em 1989. As quatro seguintes foram disputas principalmente entre o PSDB e o PT. O PFL/DEM apoiou os tucanos e é oposição ao PT. O PMDB aderiu formal ou informalmente ao vencedor, tanto PSDB como PT. Isso não deixa de ser uma anomalia, pois PT e PSDB disputam o mesmo lugar no arco político: centro esquerda. O PMDB se transformou no partido fisiológico por excelência, uma espécie de Geni da política brasileira. ¡Si hay gobierno, soy a favor!
Se o PSDB destacasse mais em seu programa políticas sociais redistributivas e alguns temas progressistas, como aborto ou legislação familiar, para dar dois exemplos, poderia se tornar o maior partido de centro-esquerda, empurrando o PT para a esquerda. Não precisa nem deve abandonar a defesa do capitalismo, do mercado, das privatizações, da maior inserção do Brasil na economia mundial, nenhuma dessas teses que a esquerda Carolina chama de neo-liberal.
Por seu lado, o PT sofreu nos últimos anos deserções à esquerda, seja pelos escândalos de corrupção, seja porque no governo conduziu a política econômica com responsabilidade, o que para os seus militantes mais broncos é o mesmo que ter adotado políticas neo-liberais. Se o PT mantivesse suas causas sociais mas adotasse uma visão de mundo e da economia compatíveis com o século XXI, sacudindo fora as bobagens cepalinas e terceiro-mundistas que ainda são tão populares na América Latina, poderia se transformar em algo comparável aos partidos socialistas mais modernos do mundo, como os europeus, sem medo de fazer o capitalismo funcionar o melhor possível. Neste caso, seria o PT que empurraria o PSDB para a direita.
Enquanto o PSDB e o PT disputarem o segundo turno de eleições presidenciais, essa melhor definição partidária será impossível. O partido ganhador sempre tem no perdedor um grande inimigo. Portanto se torna indispensável fazer alianças pouco coerentes ideologicamente. Tendo em vista o quanto o PMDB saiu fortalecido em 2008, o melhor para o país seria se eles lançassem candidato próprio à presidência. Melhor ainda se fosse um candidato forte que chegasse ao segundo turno, para disputar com PT ou PSDB. O Brasil precisa de um partido de direita grande, forte, democrático e moderno. Melhor ainda se não tiver as mãos sujas com a ditadura militar. Será que em 2010 o eleitor começará a por ordem na casa?
Por fim uma reflexão para os tucanos: é vox populi que o Governador José Serra saiu fortalecido como candidato do partido para as eleições presidenciais de 2010. Tem até boas chances de ganhar. Mas ao mesmo tempo ele nem é jovem, nem é novidade, nem se desvencilhou tanto do seu passado cepalino. Ele quase se encaixa à perfeição ao perfil de candidato que os eleitores estão aposentando. O PSDB faria bem em ter preparado um plano B. Just in case...
terça-feira, 28 de outubro de 2008
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